28.4.08

The great Gatsby - F. Scott Fitzgerald

“Comecei a gostar de New York, da vibrante, atrevida sensação de sua noite e da satisfação que o tremeluzir de homens e mulheres proporciona aos olhos inquietos. Gostava de subir a 5ª Avenida e escolher mulheres românticas na multidão e imaginar que em alguns minutos eu entraria em suas vidas, e que ninguém nunca saberia ou desaprovaria. Às vezes, em minha mente, eu as seguia até seus apartamentos nas esquinas de ruas escondidas e elas se voltavam e sorriam antes de desaparecerem em uma escuridão tépida através de uma porta. Algumas vezes, no mágico entardecer metropolitano, eu sentia uma angustiante solidão, também a sentia nos outros – pobres jovens funcionários que demoravam-se na frente de janelas esperando até que fosse hora de um jantar solitário em um restaurante – jovens funcionários ao pôr do sol, desperdiçando os mais pungentes momentos da noite e da vida.”

Depois de Tender is the night, The great Gatsby.
 
F. Scott Fitzgerald é um grande escritor, gosto da forma como ele descreve as cenas, elas são de grande beleza plástica, romântica, melancólica. A sensação que tenho enquanto leio seus livros é semelhante àquela que experimento quando uma festa acaba.

Gatsby é o rapaz pobre que constrói uma fortuna usando meios escusos. Ele tem uma bela casa onde dá festas concorridas quase todas as noites e parece ter uma vida invejável, entretanto, a única coisa que deseja é reconquistar uma paixão de juventude. Bela e triste história.


19.4.08

Les Somnambules - Hermann Broch

Outro livro de Hermann Broch. Ele é aquele tipo de autor que escreve com a intenção de capturar o espírito de uma época e também de usar os romances para expor uma tese. Hoje em dia acho que ninguém mais faz isso e também há poucos leitores para obras assim, mas Broch escreve de forma interessante, mistura teorias sobre arte, literatura e filosofia em seus textos. É preciso ter um certo fôlego para ler Os sonâmbulos, mas depois que a leitura engrena, é difícil deixá-la de lado. O livro é constituído de três grandes partes separadas em períodos distintos entre os anos de 1888-1918, a primeira, 1888 - Pasenow ou o romantismo, conta a história de um militar dividido entre seus deveres familiares, a observação dos valores da sociedade e a fidelidade ao exército; a segunda, 1903 – Esch ou a anarquia, conta a história de um contador com tendências comunistas e, a última, 1918 – Huguenau ou o realismo, é sobre um soldado que deserta durante a guerra e se instala em uma pequena cidade usando seus conhecimentos financeiros e “esquemas” capitalistas para levantar alguns fundos para manter-se. Na última parte, os dois protagonistas das primeiras histórias se encontram e seus destinos são profundamente ligados.

O romance é bem triste. Cada um dos personagens representa um momento histórico, filosófico e moral do período. Pasenow é aquele que procura observar as crenças morais da sociedade e das instituições; Esch já não é capaz de fazer isso como desejaria e por isso vive em conflito e, por fim, Huguenau é aquele que não se importa com a moralidade ou ideais, ele é o homem totalmente racional e sem fidelidades, o capitalista preocupado com seu próprio bem-estar e, por isso mesmo, o mais perigoso de todos, como mostra o desenlace da história.




Broch narra a corrupção dos valores, a decadência progressiva de uma época. Livros que tratam de longos períodos de tempo ou que narram a história de gerações de uma família parecem ser sempre pessimistas, há sempre uma degradação. Algo muito humano, não é mesmo? Visto que nós temos o hábito de olhar para o passado com nostalgia e, não raro, dizemos que aqueles sim, eram bons tempos!

10.4.08

The three cornered world - Natsume Soseki

Outro livro de Natsume Soseki. Muito bonito. A história é bem singela e narra as impressões de um artista que viaja até uma estação termal onde se hospeda em um pequeno hotel e os seus encontros com a filha do proprietário do lugar, O-nani, uma mulher com personalidade forte e um passado marcado por uma relação amorosa triste.

Apesar da Guerra da Manchúria ser mencionada e estar bem presente no final da história, é um dos livros mais “otimistas” de Soseki que li.

O personagem principal deve ser o ideal de artista do autor, ele é descompromissado, um andarilho em busca de inspiração que vive segundo o adágio do “Carpe Diem”, muito diferente do próprio Soseki que tinha uma vida mais complicada e atormentada por questões financeiras e conjugais.

O nome do livro em japonês (“Kusa Makura”) daria algo como “Travesseiros de relva” (como foi mantido em francês), mas o tradutor para o inglês preferiu usar uma expressão encontrada no texto, não tenho nada contra a sua decisão, mas que a expressão original era mais bonita, ah, isso era!
Eis alguns dos primeiros parágrafos, a profissão de fé do protagonista:

“Enquanto subia a trilha da montanha, comecei a refletir.
Aborde tudo racionalmente e você se tornará duro. Deixe-se levar pelo fluxo das emoções e será arrastado com a corrente. Dê rédeas aos seus desejos e você se sentirá desconfortavelmente confinado. Este nosso mundo não é um lugar muito agradável para se viver.
Quando o desconforto aumenta, você ficará inclinado a se mudar para um lugar onde a vida seja mais fácil. É somente quando percebe que ela não será mais agradável independente da altura que atinja que um poema pode nascer ou uma pintura pode ser criada.
A criação deste mundo não é o trabalho de um deus ou de um demônio, mas das pessoas comuns ao nosso redor, aqueles que vivem do outro lado da rua, ou ao nosso lado, movendo-se enquanto ocupam-se com seus afazeres cotidianos. Você pode achar que este mundo criado por pessoas comuns é um lugar horrível para se viver, mas para onde mais poderíamos ir? Mesmo que houvesse outro lugar, só poderia ser um lugar fora da esfera humana, e quem pode dizer se não seria um mundo ainda pior do que este?
Não há como escapar deste mundo. Portanto, se você acha a vida difícil, não há o que fazer além de procurar manter-se o mais calmo possível durante os períodos desagradáveis, mesmo que o consiga por períodos bem curtos, e assim tornar a breve duração da existência suportável. É aqui que a vocação do artista começa a existir, é aqui que o pintor recebe a incumbência divina. Agradeça aos céus por todos aqueles que, pelos meios tortuosos de sua arte, trazem tranqüilidade para o mundo e enriquecem os corações dos homens.
Despoje o mundo de todos aqueles cuidados e preocupações que o tornam um lugar desagradável para se viver e, ao invés dele, imagine um mundo de graciosidade. Agora você possui música, uma pintura, ou poema, ou escultura. Iria além e diria que não é necessário transformar essa visão em realidade. Apenas invoque essa imagem na frente de seus olhos e a poesia irá brilhar e canções irão fluir. Antes de passar seus pensamentos para o papel, você deve sentir o cristal retinir como um pequeno sino e elevar-se em seu interior, toda a gama de cores irá, por si só, gravar-se no olho de sua mente com todo o seu brilho, embora a tela permaneça intocada em seu cavalete. É suficiente que você seja capaz de adotar essa forma de considerar a vida e ver este mundo decadente, sujo e vulgar, purificado e belo na câmera de sua alma. Mesmo o poeta cujos pensamentos nunca foram expressos em um único verso, ou o pintor que não possui tintas e nunca pintou sequer um pedaço de tela, pode obter a salvação e libertar-se dos desejos e paixões terrenos. Eles podem entrar em um mundo de imaculada pureza quando quiserem e, desfazendo-se do jugo da avareza e do egoísmo, são capazes de construir um universo inigualável. Por isso, eles são mais felizes do que os ricos e famosos, do que qualquer senhor ou príncipe que já viveu, mais felizes do que todos aqueles para os quais este mundo vulgar prodigaliza suas afeições.”

3.4.08

The guiltless - Hermann Broch

Outra vez foi o Milan Kundera quem me conduziu até um autor, agora, Hermann Broch, filho de judeus austríacos que foi educado para administrar a indústria têxtil da família, mas que no final deixou tudo para estudar filosofia e matemática e viver como escritor, e um grande escritor, diga-se de passagem. Comecei pelo seu livro mais fino (não que esse fosse o critério para a escolha) para ter uma idéia de seu estilo. Também tenho a versão em alemão que peguei no ano passado quando a escola doou alguns livros. A idéia era ler o original e comparar com a versão em inglês, mas a história estava tão interessante e o método era tão lento que acabei desistindo e lendo em alemão mesmo.

Como o autor explica, o livro foi baseado em alguns contos que ele havia escrito e aos quais foram juntados outros para criar uma única história. Ela narra o encontro e o relacionamento de algumas pessoas na Europa antes da segunda Guerra. Segundo Hermann Broch, sua intenção era mostrar como a indiferença de personagens como Andréas, seu protagonista, foi um dos fatores que agravou a situação da Alemanha. Os “inocentes” do título são aqueles que se negaram a assumir a culpa pela deterioração dos valores na Europa e limitaram-se a viver de forma indolente na esfera de seu universo particular. Entretanto, todos os personagens - a velha baronesa, sua filha, Zerline, a empregada e o próprio Andréas - pagam preços altos por sua indiferença, todos vivem, ironicamente, carregando o fardo de suas ações.


Este é um trecho da confissão de culpa feita por Andréas quase no final do livro:

“Indiferente ao sofrimento alheio, indiferente ao nosso destino, indiferente ao Eu no homem, à sua alma. Conseqüentemente, torna-se uma questão de indiferença quem é arrastado para o local de execução primeiro. Você hoje, eu amanhã.”
Terrível, não?




1.4.08

Pissaladière com sardinhas

Esta é minha versão de pissaladière, vulgo pizza de cebola francesa. Eu uso a massa de pizza integral do Joe que é suficiente para uma pizza grande ou uma assadeira retangular grande como a minha. A pissaladière leva anchovas no lugar da sardinha, mas já vi algumas receitas assim e é como sempre faço, apesar de achar que o salgado das anchovas contrastaria muito mais com o adocicado da cebola.

Pissaladière com sardinhas

Massa:
 

1 x de farinha de trigo integral
1 x de farinha
1/2 pacote (5 g) de fermento biológico seco instântaneo
1 c chá de sal
1/2 chá de açúcar
3/4 x de água morna
1 c sopa de azeite

Cobertura:
 

3 cebolas grandes (ou mais)
azeite
pitada de açúcar
1 lata de sardinhas grande (despedace as sardinhas, eu costumo retirar as espinhas)
algumas azeitonas pretas
ervas finas secas

Massa:
Combine as farinhas, fermento, sal e açúcar no processador de alimentos, pulse para misturar. Combine água morna com o óleo em um copo. Com o processador ligado, adicione o líquido gradualmente até que a mistura se transforme em uma bola. A massa deverá ser bem macia. Se parecer seca, adicione 1-2 c sopa de água morna, se muito grudenta, adicione, 1-2 c sopa de farinha. Processe até que a massa forme uma bola, então processe por mais 1 minuto para sovar. (Eu fiz na mão mesmo, juntei os ingredientes secos em uma bacia, adicionei os líquidos e sovei, o Joe recomenda que se faça isso por uns 10 min).
Unte um recipiente grande com um pouco de óleo. Coloque a massa em seu interior e dê uma virada na massa para envolver toda a sua superfície com o óleo. Cubra com filme plástico, ou um pano de prato úmido, e deixe crescer por cerca de 1 hora, ou até que dobre de volume. Dê um soco para retirar o ar e espere cerca de 10 min antes de abrir.

Cobertura:
Refogue a cebola em uma panela com um pouco de azeite, adicione a pitada de açúcar e cozinhe até que a cebola fique dourada e bem macia, adicione água caso necessário e mexa com freqüência para não queimar.

Montagem:
Cubra a massa aberta como uma pizza fina com a mistura de cebolas e, sobre ela, distribua os pedaços de sardinha e as azeitonas. Polvilhe com um pouco das ervas finas, sal a gosto e regue com um bom azeite. Leve para assar em forno preaquecido até que massa fique crocante.