8.1.09

Cidade X

relativity 
(Obra: Relatividade de Maurits Escher)

Era sempre uma experiência estranha ir para a cidade X com meu pai. Não me lembro se ele pedia que eu o acompanhasse ou se eu me oferecia para ir junto no dia anterior à partida. Sei que de repente me via dentro de um ônibus e logo estava no meio de uma grande cidade. Várias pernas indo de um lado para o outro passavam na altura de meus olhos. E tudo era cinza e o ar tinha um cheiro estranho, um misto de urina e mofo. Caminhávamos pelas ruas da cidade durante o que me pareciam longas horas, meu pai segurava uma de minhas mãos e eu corria para acompanhar seus passos, corria ainda mais para atravessar as ruas antes que os semáforos mudassem de cor. Depois subíamos e descíamos várias escadarias de prédios antigos. Elas eram escuras, os degraus sujos e meio gastos pelo tempo. Entrávamos e saíamos de salas onde meu pai conversava com alguém atrás de uma escrivaninha coberta de papéis, as janelas fechadas deixavam o ambiente abafado, sem ter o que fazer, eu olhava para o céu e observava as nuvens escuras movendo-se lentamente atrás dos vidros.

Nunca soube o que meu pai ia fazer ali, tinha apenas a impressão vaga de que era algo relacionado com as suas longas ausências a trabalho. Não gostava da cidade X, entretanto, não consigo esquecê-la, ela ficou enraizada em algum lugar de minha memória e, sem que me dê conta, de repente me vejo outra vez em uma de suas ruas, em uma de suas escadarias.