20.9.13

O sapo

O céu desta tarde me lembrou do céu de um outro dia. Tinha dezoito anos. Acabara de me matricular no curso de filosofia e não estava certa sobre o que fazer da vida. Algo que não mudou muito, infelizmente. Filosofia era uma ideia sedutora, sem futuro algum, mas eu me recusava a prestar vestibular para um curso que pudesse me dar algum status social ou garantir um emprego "respeitável". (A gente sempre enfia o pé na jaca por vontade própria).
Naquele dia, estava sentada à beira da piscina de um hotel fazenda vazio no meio do Pantanal mato-grossense com um exemplar de "Tristes Trópicos" no colo. Parecia ser o livro adequado para ler naquele lugar e eu tinha lá as minhas veleidades intelectuais. A piscina estava suja e um sapo morto boiava em sua superfície. 
Ganhara a viagem como prêmio de um concurso cultural promovido por um jornal e acompanhava o trabalho de campo de uma bióloga que protegia as araras azuis. Passávamos o dia percorrendo os arredores para checar ninhos, medir e pesar aves. Achava o trabalho daquela mulher apaixonante.
Conforto zero, a vastidão dos campos, o ruído dos bichos à noite, o isolamento total, queria aquilo para mim. Foi algo mágico e lamentei voltar. No entanto, quando penso em tudo o que vi e senti naqueles poucos dias, a imagem que logo me vem à mente é a daquele sapo morto na piscina suja iluminada pelo sol do final de tarde.

2 comentários:

Marly disse...

Oi, Karen!

Coincidiu de eu estar on line, verificando as novidades do blogger, e deparar com este post, rsrs. Comigo se deu o contrário. Devido a uma série de circunstâncias, não me permitiam sequer pensar em fazer um curso "dissociado" da possibilidade imediata de trabalho e autossuficiência financeira. Fiz o que esperavam e dei com os burros n'água, rsrs. Hoje eu acho que qualquer área de conhecimento pode resultar em gratificação pessoal e sucesso geral, contanto que a pessoa que a escolhe goste realmente do assunto. Mas eu também acho que a gente pode gostar de vários assuntos, rsrs. Gostei do texto e também não me esqueceria jamais de um sapo morto (ou outro bichinho), boiando numa piscina, rsrs.


Um beijo e ótima semana.

Karen disse...

Oi, Marly! Concordo com você, acho que o importante é gostar do que se faz/estuda, a vida é muito incerta e o sucesso depende de uma série de fatores. Demorei para encontrar algo que me desse prazer, mas suspeito que estou no caminho certo agora. (Cruzando os dedos) :)