1.11.15

Bento Gonçalves sempre


Descobri que não sou uma pessoa de mar. Gosto de contemplá-lo, mas, para ser sincera, nunca me senti bem à vontade em seu presença. Aquela imensa massa com vontade própria me deixa inquieta. Descobri que devo ser uma pessoa de montanha, de colinas suaves e muito verde, pois alguns dos lugares de que mais gosto são assim, gosto das cidades do sul de Minas e da serra gaúcha. É a terceira vez que vou a Bento Gonçalves em dois anos e sempre me sinto bem por lá. Gosto de ver as casas cheias de flores passarem pela janela do carro. Estava tudo bastante florido. E demos sorte de pegar chuva apenas no dia de ir embora, uma garoa fina. Do avião, era possível ver como os rios subiram e alagaram as áreas mais baixas perto do aeroporto. 

As parreiras estavam verdes, com cachos de grãos miúdos. Visitamos várias vinícolas e nos disseram que a próxima colheita provavelmente será ruim devido ao clima. Retornamos a vinícolas que já conhecíamos e passamos por outras novas, grandes e pequenas. Provamos muitos espumantes. 

Em Pinto Bandeira, conhecemos a Don Giovanni, demos um pulo até a Geisse e compramos alguns espumantes na Valmarino. Entre as grandes, visitamos a Salton, a Cooperativa Garibaldi e a Peterlongo, esta última, mais por uma questão afetiva, pois quem tem a minha idade deve ter visto muitas garrafas de filtrado dessa marca nos mercados. A vinícola está decadente, mas tem uma história interessante e começou a produzir uma linha de espumantes finos. 

Se é mais simples encontrar bons espumantes, para encontrar bons vinhos é preciso garimpar. Provamos alguns que nos desagradaram imenso, mas quando encontrávamos algo de que gostávamos, ficávamos muito felizes. Comemos mais ou menos, pois não gostamos muito do combo sopa de cappelletti/massa/polenta/galeto e nem de sequências com tudo isso junto, é comida demais e me dá uma sensação de desperdício, não de fartura.

As três vinícolas de Pinto Bandeira que mencionei acima são muito boas. Gosto particularmente da Valmarino pela relação custo/benefício. Em nossa opinião, a Cooperativa Garibaldi tem o melhor suco de uva e moscatel, o espumante com o Giuseppe Garibaldi no rótulo também é um achado pelo preço (R$ 40,00, se não me engano). Em relação aos vinhos, sempre compramos na Almaúnica. O malbec, shiraz e o 4 castas são muito bons e têm preços muito justos. A Pizzato tem bons vinhos, mas já não acho a relação custo/benefício tão boa. 

A melhor visita, no entanto, foi à adega Adolfo Lona, conhecia o blog do proprietário e demos um pulo até Garibaldi para provar os espumantes. Fomos recebidos pelo Roberto, um dos dois funcionários da vinícola. Ele explicou e respondeu perguntas, até fez uma demonstração de como fazer o dégorgement (retirada da tampa com o resíduo de levedura) da garrafa ao vivo e a cores. O processo não poderia ser mais artesanal. Foi a visita mais instrutiva que fizemos.

Queria ter voltado à Estrelas do Brasil em Faria Lemos para pegar uma garrafa do champenoise nature e rever a paisagem de tirar o fôlego da casa do Irineo (um dos proprietários da vinícola), mas não estava bem e desisti. Figuraça o Irineo, seus espumantes são bem diferentões.

Ficamos na Valduga desta vez e a estadia foi boa. Já garantimos a bebida de final de ano. Os preços devem subir em janeiro e, apesar de meu carinho pelo sul, não sei se voltaremos tão cedo.


 
 
 
 
 
 
No banheiro feminino da Cooperativa Garibaldi, só no sul para ler algo parecido
 
 
 
 
 
 
Roberto da Adolfo Lona preparando o licor de expedição, ele é adicionado à garrafa após o dégorgement
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lugar gostoso para almoçar após sair da Salton, cardápio enxuto. O preparo da comida ainda precisa de ajustes, mas o ambiente vale a pena