Terminei de ler Entre Parênteses, uma coletânea de artigos, discursos e uma entrevista concedida por Roberto Bolaño à revista Playboy. Os artigos são curtos e tratam de literatura, afetos e desafetos literários, o Chile, seu país natal; o México, onde foi jovem; e a Catalunha, onde morreu em 2003.
Gostei muito de Os Detetives Selvagens e 2666, seus dois tijolos de centenas de páginas. Livros ambiciosos, um tanto desequilibrados por isso mesmo, mas leituras fabulosas, estonteantes. Não gostei tanto de Noturno do Chile, tenho a impressão de que Bolaño cresce mesmo quando tem a oportunidade de se estender por várias páginas como nos dois primeiros livros e nos faz mergulhar em um caleidoscópio de imagens e experiências.
Os artigos são interessantes para conhecer um pouco mais sobre o escritor, mas achei-os um pouco repetitivos. Gostaria que ele tivesse falado mais sobre si, expressado um pouco mais de suas opiniões sobre a literatura, arte e vida. Em suma, fossem mais reflexivos.
Li em italiano. Traduzi um trecho que acho que faz muito sentido:
"Gostaria de recomprar todos os livros de Tolstói e Dostoiévski que li e que não possuo mais em minha biblioteca. E também aqueles de Daudet. E aqueles de Vitor Hugo. Algumas vezes me pergunto o que fiz deles, desses livros, como posso tê-los perdido, onde os perdi. Outras vezes me pergunto porque desejo tê-los se já os li, que é o único modo de conservá-los para sempre. A única resposta possível é que os desejo para meus filhos. Sei que é uma resposta enganosa: cada um deve sair de casa em busca dos livros que estão à sua espera."