28.6.16

Tarkovsky

Tinha um amigo de colégio muito querido que gostava de Solaris, um filme do diretor russo Andrei Tarkovsky, um tipo de ficção científica existencialista, por assim dizer. Passeávamos de braços dados pelo pátio e eu ouvia suas teorias e questionamentos sobre o filme. Foi assim que conheci o diretor. Assisti a uma antiga entrevista dele no youtube esses dias, a gravação é bem ruim, mas gostei:





Traduzi um trecho, não sei se é fiel, pois já foi traduzido uma vez do russo:


Entrevistadora: Você é feliz por ter nascido?
Tarkovsky: Feliz não é a palavra certa. Este mundo não é um lugar onde possamos ser felizes. Ele não foi criado para a felicidade humana; embora muitos acreditem que essa seja a razão de nossa existência. Acho que estamos aqui para lutar, para que Bem e Mal possam travar combate dentro de nós e o bem possa prevalecer; enriquecendo-nos, assim, espiritualmente. É difícil dizer se somos felizes ou não - não depende de nós. Há momentos em que nos arrependemos de ter nascido, mas a vida também nos dá coisas surpreendentes, isso é suficiente para que valha a pena viver. A questão da felicidade não existe para mim. Felicidade, como tal, não existe.


22.6.16

In Memoriam: Fan Ho (1931-2016)

Fan Ho é um fotógrafo que admiro muito. Luzes e sombras se revelam com maestria em suas fotos de Hong Kong, belas e nostálgicas.

 
 
 
 



12.6.16

Leituras de abril/maio

Li vários livros sobre assuntos bem diversos. Mas acho que, nos últimos tempos, meu interesse tem se concentrado nos livros sobre lugares e história. Nenhuma ficção.

Oaxaca Journal do Oliver Sacks é um diário de sua visita a essa região do México junto com um grupo de amantes de pterodófitas (ou seja, samambaias) do qual ele faz parte. Eles fazem excursões para observar a flora e a cultura local. Leitura leve, com suas impressões sobre a região, sobre botânica e pessoas. (Me parece adorável fazer parte de um grupo nerd desse tipo!).

John Keahey passou seis meses explorando as pequenas cidades da Toscana imerso na história e arte da região. O resultado de sua estadia é o livro Hidden Tuscany. Ele procura mostrar os aspectos menos turísticos e conhecidos da Toscana, seus conflitos, sua gente. (Adoraria ser paga para passar alguns meses em outro país para ser absorvida e absorver sua história e costumes, e vocês?). De certa forma, ele faz um livro de viagem à moda antiga, onde há mais antropologia e pesquisa, e menos "dicas" como nos guias turísticos atuais. Ele escreve sobre o mármore empregado por Leonardo da Vinci, as esculturas, o forte de Pietrasanta, cidade onde monta sua "base", e também sobre a carnificina trazida ao lugar pela guerra.

Gostei muito de In the Belly of the Elephant de Susan Corbett. No livro, ela narra seus cinco anos de trabalho para a organização Save the Children em Burkina Faso no final dos anos 70 e início dos 80. Apesar de seu trabalho, o livro trata mais de suas expectativas, do cotidiano e de suas frustrações pessoais, geralmente relacionadas ao trabalho e à sua vida amorosa. Quase um livro de formação com a África servindo de pano de fundo. 

Em Tokyo: from Edo to Showa 1867-1989, Edward Seidensticker conta como Tóquio se tornou Tóquio desde o final do período feudal até 1989. A cidade passou por várias mudanças após várias inundações, incêndios, terremoto e bombardeios durante a Segunda Guerra. Interessante, mas achei meio cansativo e um pouco repetitivo apesar da (e talvez devido à) grande quantidade de informação recolhida pelo autor. 

Consegui ler o volume sobre o zen das obras selecionadas de D. T. Suzuki. Devido ao seu intercâmbio com o Ocidente, sua visão sobre o zen é influenciada por pensadores e conceitos ocidentais e, por isso mesmo, alguns estudiosos criticam seus textos, mas acredito que essa seja sua forma de tornar as concepções orientais mais compreensíveis para quem não nasceu do outro lado do mundo. Gosto do fato das religiões orientais enfatizarem o concreto, o momento, em detrimento da abstração e de especulações de ordem intelectual. A vida se torna bem mais simples assim. Também aprecio o zen por valorizar o esforço pessoal para se atingir uma espécie de salvação/iluminação, ao contrário de outras vertentes do budismo segundo as quais a salvação dependeria de um tipo de graça divina. Mas esse tipo de cisão existe mesmo no cristianismo, não é mesmo? Algumas vertentes pregam que cada um deve se esforçar para ir ao paraíso, enquanto outras pregam que tudo depende da providência divina...

Li besteiras também, um pouco de assuntos esotéricos, nutrição e beleza, porque ninguém é de ferro, mas essas ficam para outra hora.