26.1.08

Chronique d'Asakusa - Yasunari Kawabata

Eu não visitei Asakusa (um distrito de Tóquio) e sempre lamentei esse fato. Tive apenas um dia para passear na cidade e decidi gastá-lo indo até outro bairro famoso no universo literário japonês, Ueno. Fui até lá na parte da tarde, queria conhecer o zoológico mais antigo do Japão e ver o panda que é uma de suas grandes atrações, mas o zoo estava fechado. Ele fica no meio de um parque e, ao seu redor, há vários museus, inclusive o Museu Nacional de Tóquio, não perdi tempo, passei a tarde vendo os quadros de uma exposição de pintores flamengos em um pequeno museu na frente da estação e depois atravessei a rua e fui ver os artefatos egipícios que estavam em exposição no Museu Nacional naquela época. Andei, andei, peguei o trem e voltei para o hotel e, no dia seguinte, dirigi-me novamente para Ueno de manhã cedo. Estava decidida a ver o panda. E vi. E era algo melancólico vê-lo através do vidro espesso comendo bambu sentado sobre o chão revestido de piso cerâmico.

Dei uma volta pelo zoo, tomei uma fanta verde fluorescente de sabor melão (de que não gostei), saí do zoológico, desci uma rua ao lado da estação e encontrei um sebo onde comprei um livro de gravuras em francês para presentear O. e um livro com fotos do acervo do Museu Nacional, voltei para o hotel e dei adeus a Tóquio.


Lamento não ter ido até Asakusa, ao menos para ver a grande lanterna do Kaminarimon. Depois de ler o livro de Kawabata, lamentei ainda mais não ter ido lá conferir como é o bairro nos dias de hoje. No período retratado por ele, os anos trinta, Asakusa é o bairro das prostitutas, dos vagabundos, malandros e mendigos. Era o inferninho de Tóquio, um lugar a ser evitado pelas pessoas de boa reputação, hoje as coisas mudaram muito e Asakusa tornou-se uma das atrações turísticas mais tradicionais da cidade.


Este livro de Kawabata não é um romance, mas uma coleção de notas e quadros que caracterizam Asakusa no período. Não é um de meus preferidos (que são O país das Neves e O som da montanha), mas vale por nos fazer saborear um pouco da história do Japão, e há algumas imagens bonitas, como só Kawabata sabe escrever:

"Uma luz rosa refletia-se sobre o asfalto que brilhava como uma chapa de chumbo. Pontos vermelhos dispersos aqui e ali flutuavam ao acaso sobre a cidade. Ouvia-se o eco do bonde. Eram cinco horas da manhã. À luz irisada do sol, a urina da véspera desenhava longas faixas paralelas no asfalto. "

(Eu sei, urina na rua não é algo poético, mas tiro o meu chapéu para quem consegue usar essa imagem como o Kawabata.)

8 comentários:

  1. Puxa, ainda não li "O som da montanha", nem Chronique d'Asakusa. Vou procurá-los. Meus livros preferidos do Kawabata são "O País das Neves" e "Kyoto" (este último, o menos desconsertante que já li dele, mas um dos mais líricos).

    Beijos! Bom final de semana!

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  2. Letricia, também gosto bastante de Kyoto, tenho um carinho muito grande pelo Kawabata porque ele foi o primeiro escritor japonês que li.

    Beijos! Bom final de semana para você também!

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  3. Olá moça!
    Já estive em Asakusa no primeiro dia do ano de 2006! O templo estava lotado de pessoas se purificando com incenso, fazendo seus pedidos, esfregando a barriga da estátua do Buda... Bem interessante e bem bonito!
    Mas o bairro pouco tem dessa atmosfera decadente que Kawabata parece retratar! Prédios altos, ruas largas e no final de uma ruazinha lotada de lojinhas vendendo 'omiyaguê' (lembrancinhas), a entrada do templo, bem bonita!
    Em Ueno só fui no zoológico... e foi frustrante ver, nas pontas dos pés, só a orelhinha do panda que se escondeu num buraco no dia...

    Do Kawabata, meu preferido é o País das Neves, que tem uma das descrições de imagens mais lindas que me lembro de ter lido: a do reflexo da imagem no vidro do trem! Maravilhosa!
    Mas não conheço nem esse nem o outro livro que vc citou... Além do País das Neves, só li A Casa das Belas Adormecidas, que também é bem bonito e poético mas não me encantou tanto!
    Preciso ler muita coisa dele ainda! Mas só faz um ano que adentrei no mundo da literatura japonesa, ainda não conheço muita coisa!
    Adorei o post e já anotei os nomes dos livros! =)

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Obrigada pela visita, Melodyfairy! Um dia ainda passarei por Asakusa, sempre vejo a transmissão da NHK na noite de ano novo e eles sempre mostram a fila de pessoas visitando o templo, não sei se gostaria de estar lá nesse dia, detesto multidões.

    Que frustração ver só a orelha do panda! rs O parque de Ueno é muito gostoso, bastante calmo.

    Essa imagem do País das Neves é mesmo linda. Kyoto e o Som da montanha são livros muito bonitos. Também há Beleza e Tristeza, o Lago, Contos da Palma da Mão... A casa das belas adormecidas também não é um de meus favoritos, mas foi ele que inspirou o Garcia Marquez a escrever a Casa das putas tristes.

    A literatura japonesa tem várias boas surpresas, foi uma alegria descobri-la!

    Abraços!

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  6. (Corrigindo o livro do Garcia Marquez chama-se Memoria de mis putas tristes.)

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  7. Eu fiquei viciada em Kawabata, dos publicados em português pela Estação Liberdade, já li todos, agora falta o Beleza e Tristeza... O que eu mais gostei, sem dúvida, foi o País das neves. Achei o Kioto folhetinesco, previsível no final, mas bonito. Gostei do Mil tsuros pela cerimônia do chá e pelas reflexões. Memória de minhas putas tristes estragou um pouco a leitura de A casa das belas adormecidas, se soubesse, tinha lido ao contrário. O Garcia Marques foi infeliz na tentativa de contar a mesma história, com o peso de um autor como Kawabata por trás!

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  8. Maria Helena, Beleza e tristeza foi o primeiro que li! Mas O pais das neves será sempre meu favorito.
    Achei legal a homenagem do Garcia Marquez, mas o livro nem chega a ser um romance é um conto bonito (e só).

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