21.10.11

Ninguém é perfeito (Gotai Fumanzoku) - Ototake Hirotada



Os japoneses gostam de livros de um assunto que poderia ser chamado de "literatura inspiradora", livros escritos por pessoas que contam como superaram dificuldades e chegaram onde chegaram. Acho que esse também é um gênero comum nos EUA, mas pouco explorado aqui.

Fiquei olhando para a capa deste livro que minha professora de japonês me entregou sem saber muito bem o que dizer. Um rapaz sem braços e pernas sobre uma cadeira de rodas. Um livro que provavelmente não leria de livre e espontânea vontade, mas como era um "dever de casa", e eu (quase) sempre faço meu dever de casa, comecei a folheá-lo.

É uma leitura descomplicada, o autor, Ototake Hirotada, usou uma linguagem simples de propósito para que o livro fosse acessível também para as crianças. Nele, o autor conta que é portador de uma síndrome que o fez nascer apenas com uma pequena parte dos braços e das pernas. Apesar de tudo, seus pais nunca se mostraram desencorajados e sempre fizeram de tudo para que ele tivesse a vida mais normal possível, tanto que ele diz que a primeira vez em que se deu conta de que era "deficiente" foi depois de entrar na faculdade, momento em que decidiu se engajar em movimentos que promoviam a integração de pessoas idosas e com dificuldades físicas à sociedade.

Apesar de haver muitas coisas que não conseguia fazer, para o autor, aquilo era natural, parte de sua vida, não algo que o fizesse sentir-se mal ou inferior. Ele estudou em escolas normais, devido ao empenho de seus pais, e todos sempre procuraram fazer com que ele participasse de todas as atividades escolares à sua maneira. Escrevia apoiando o lápis na bochecha usando a porção do braço que possuía e andava pelo pátio como podia, pois seu professor não desejava que ele dependesse da cadeira de rodas motorizada. Esportes em geral sempre o atraíram, ele adorava as aulas de educação física na infância e adolescência e até fez parte do time de basquete do ginásio.

Amante de esportes, ótimo aluno, representante de classe, ganhador de um concurso de oratória em inglês, enfim, um modelo. Ototake também contou com muita sorte, encontrou as pessoas certas no momento certo e soube aproveitar ao máximo as oportunidades que lhe foram oferecidas. Não é uma leitura muito intimista, ele fala de suas dificuldades e de suas conquistas, mas pouco além disso. A ideia é transmitir um sentimento positivo, tratar de um assunto delicado de forma bem humorada e leve.

Hoje o autor é jornalista esportivo (!) e professor. Realmente um exemplo. Fiquei pensando se uma pessoa com a sua deficiência chegaria onde ele chegou aqui no Brasil. Gostaria de acreditar que sim.

O título é uma brincadeira com uma expressão japonesa que significa "corpo saudável/capaz" à qual foi acrescentado um ideograma de negação. O livro fez muito sucesso na época em que foi publicado (1998) e foi traduzido para inglês como "No one's perfect".

5 comentários:

  1. Bom dia!
    Ninguém é perfeito, mas nem desconfiamos...certo?

    Talvez o desejo de perfeição seja tão grande, que ignoramos isto.
    Vai saber a cabeça de cada um, né?
    Gostei muito do assunto.
    Parabéns pela abordagem.

    Anny

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  2. Vi tempos atrás um documentário sobre um rapaz com a mesma condição, ele é alemão, foi rejeitado pelos pais mas foi adotado por um casal que também tinha outros filhos adotivos, alguns deficientes. Parece que a condição dele era mais severa, pois não tinha nenhuma parte das pernas e braços, por isso a dependência era total, se cansava muito rápido e por isso não conseguia ter muitas atividades. Achei meio triste, mas ao mesmo tempo o amor incondicional de sua mãe - a única pessoa que cuidava dele - era tão bonito, e foi o que mais me comoveu.

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  3. Anny, o que o livro diz é que perfeição física não é tudo, atitude diante da vida conta muito!

    Obrigada pela visita!

    Tatiane, eu realmente admiro pessoas que se dedicam dessa forma a outras. Fiquei triste só em ler sobre esse documentário. Reclamo de tantas coisas, mas há situações realmente terríveis e pessoas muito mais corajosas do que eu nesse mundo...

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  4. que post comovente, vou procurar nas livrarias e tentar ler no original, vc diz que o Ototake Hirotada usou uma linguagem simples, quem sabe eu consigo, e vou passar para meu filho que está no 4o. ano. Os pais fizeram a diferença, realmente um exemplo pra todos nós, um soco no estômago.
    madoka

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  5. Madoka, procure sim, não deve ser difícil encontrar em sebos. Hà furigana em tudo, o que facilita a vida... rs

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