Se o Daniel perguntasse qual o melhor livro que li nestes últimos dias, diria que foi Life and Times of Michael K. do J.M. Coetzee. Tenho fases de leitura e às vezes leio vários livros de um mesmo autor um atrás do outro. Atualmente é o Coetzee, um autor sul-africano que mora na Austrália. O livro em questão foi publicado em 1983, vinte anos antes dele ganhar o Nobel, mas é muito bom! Comecei com Disgrace, provavelmente seu livro mais aclamado, e continuei com suas obras mais recentes (Elizabeth Costello, Master of Petersburg, Slow Man), agora faço o caminho inverso (antes de seguir com esse projeto, entretanto, lerei Diary of a bad year).
Life and Times of Michael K. conta a história de Michael, filho de uma empregada doméstica que nasceu com lábios leporinos e algum retardo mental. Ele cresce em uma instituição para portadores de deficiência, entra para o serviço público e vira jardineiro na cidade do Cabo. Ele está com trinta anos, sua mãe está doente e a África do Sul está em guerra. É nesse cenário que Michael parte carregando sua mãe em uma carriola improvisada em direção ao interior do país. A viagem é árdua, sua mãe morre no caminho, mas Michael prossegue em uma viagem marcada por suas estadas escondido na estepe ou nas montanhas, alimentando-se de insetos, pequenos animais e raízes, e passagens por campos de trabalhadores e hospitais. Michael é um personagem tocante, como alguém descreve bem, ele é um ser original, que vive alheio à guerra, sem preocupações maiores do que observar as coisas ao seu redor de forma impassível.
Eis como o próprio Michael descreve sua vida:
"Em todos os lugares para onde vou, há pessoas esperando executar suas formas de caridade em mim. Todos esses anos e eu ainda trago o ar de um órfão. Elas tratam-me como as crianças de Jakkalsdrif que estão dispostas a alimentar porque ainda são muito jovens para ser culpadas de qualquer coisa. Em troca, elas esperam apenas um gaguejo de agradecimento das crianças. De mim, elas esperam mais, porque estive mais tempo no mundo. Elas desejam que eu abra meu coração e conte a história de uma vida vivida em jaulas. Elas querem ouvir sobre todas as jaulas nas quais vivi como se eu fosse um papagaio, ou um rato, ou um macaco. E se eu tivesse aprendido a contar histórias em Huis Norenius ao invés de descascar batatas e a fazer somas, se tivessem feito com que praticasse a história da minha vida todos os dias, vigiando-me com uma vara até que eu conseguisse fazer isso sem cometer erros, eu poderia satisfazê-las. Eu teria contado a história de uma vida em prisões nas quais eu permanecia dia após dia, ano após ano, com a testa contra a grade e os olhos perdidos na distância, sonhando com experiências que nunca teria, onde os guardas xingavam-me e chutavam meu traseiro e mandavam-me esfregar o chão. Quando minha história terminasse, as pessoas balançariam a cabeça, teriam pena, sentiriam raiva e ofereceriam comida e bebida; as mulheres me levariam para suas camas e me acalentariam no escuro. Entretanto, a verdade é que fui um jardineiro, primeiro para a Câmara, depois para mim mesmo, e jardineiros passam seu tempo com o nariz no chão."
Life and Times of Michael K. conta a história de Michael, filho de uma empregada doméstica que nasceu com lábios leporinos e algum retardo mental. Ele cresce em uma instituição para portadores de deficiência, entra para o serviço público e vira jardineiro na cidade do Cabo. Ele está com trinta anos, sua mãe está doente e a África do Sul está em guerra. É nesse cenário que Michael parte carregando sua mãe em uma carriola improvisada em direção ao interior do país. A viagem é árdua, sua mãe morre no caminho, mas Michael prossegue em uma viagem marcada por suas estadas escondido na estepe ou nas montanhas, alimentando-se de insetos, pequenos animais e raízes, e passagens por campos de trabalhadores e hospitais. Michael é um personagem tocante, como alguém descreve bem, ele é um ser original, que vive alheio à guerra, sem preocupações maiores do que observar as coisas ao seu redor de forma impassível.
Eis como o próprio Michael descreve sua vida:
"Em todos os lugares para onde vou, há pessoas esperando executar suas formas de caridade em mim. Todos esses anos e eu ainda trago o ar de um órfão. Elas tratam-me como as crianças de Jakkalsdrif que estão dispostas a alimentar porque ainda são muito jovens para ser culpadas de qualquer coisa. Em troca, elas esperam apenas um gaguejo de agradecimento das crianças. De mim, elas esperam mais, porque estive mais tempo no mundo. Elas desejam que eu abra meu coração e conte a história de uma vida vivida em jaulas. Elas querem ouvir sobre todas as jaulas nas quais vivi como se eu fosse um papagaio, ou um rato, ou um macaco. E se eu tivesse aprendido a contar histórias em Huis Norenius ao invés de descascar batatas e a fazer somas, se tivessem feito com que praticasse a história da minha vida todos os dias, vigiando-me com uma vara até que eu conseguisse fazer isso sem cometer erros, eu poderia satisfazê-las. Eu teria contado a história de uma vida em prisões nas quais eu permanecia dia após dia, ano após ano, com a testa contra a grade e os olhos perdidos na distância, sonhando com experiências que nunca teria, onde os guardas xingavam-me e chutavam meu traseiro e mandavam-me esfregar o chão. Quando minha história terminasse, as pessoas balançariam a cabeça, teriam pena, sentiriam raiva e ofereceriam comida e bebida; as mulheres me levariam para suas camas e me acalentariam no escuro. Entretanto, a verdade é que fui um jardineiro, primeiro para a Câmara, depois para mim mesmo, e jardineiros passam seu tempo com o nariz no chão."
Olá,
ResponderExcluir... passei por aqui para espreitar as novidades, como habitualmente e aproveito para lhe desejar um Santo Natal junto de todos os que lhe são queridos e um 2008 pleno de concretizações.
Saudações culinárias,
Paulucha.
www.allsogno.blogspot.com
Que o Natal seja delicioso e que o novo ano vos traga todas as alegrias!
ResponderExcluirBjnhos!
Huuummm, gostei muito da sua resenha, deu vontade de ler tb! Já havia dado com esse autor nas livrarias, mas não tinha recomendação de ninguém conhecido.
ResponderExcluirFeliz Natal, Paulucha e Flor!
ResponderExcluirMaria Helena, leia sim, é uma boa experiência!