6.9.07

Ignorância - Milan Kundera


Outro dia escrevi que li vários livros do Kundera e que não me lembrava dos enredos das histórias, era verdade, mas após ler Ignorância, acho que posso explicar um pouco melhor a razão de meus "brancos". As histórias do autor giram em torno de relacionamentos, identidade e sentimentos, são eles que ocupam o papel principal e , desta forma, torna-se difícil definir um "enredo" para seus romances. Agora, uma coisa tenho que admitir, Kundera escreve belamente. Neste livro, ele narra o retorno de Irena e de Josef à República Tcheca após vinte anos de exílio em outros países da Europa e mostra como as pessoas que os conheceram olham para os dois como se fossem uma espécie de desertores e procuram fazer de conta que os últimos vinte anos de suas vidas não existiram. Kundera também fala sobre como muito nos relacionamentos humanos é baseado em equívocos:

"Imagine os sentimentos de duas pessoas que se encontram novamente após muitos anos. No passado, elas ficaram algum tempo juntas e portanto acham que estão unidas pela mesma experiência, pelas mesmas recordações. Pelas mesmas recordações? É aí que os mal-entendidos começam: elas não possuem as mesmas recordações; cada uma retém duas ou três pequenas cenas do passado, mas cada uma possui as suas próprias recordações, elas não são parecidas, elas não se cruzam; elas não são comparáveis nem mesmo em termos de quantidade: uma pessoa lembra-se da outra mais do que esta se lembra dela; primeiro, porque a capacidade da memória varia entre os indivíduos (uma explicação que cada uma delas acharia ao menos aceitável), mas também (e isso é mais doloroso de se admitir) porque elas não possuem a mesma importância para cada uma delas. Quando Irena viu Josef no aeroporto, ela lembrava-se de cada detalhe de sua aventura do passado; Josef não se lembrava de nada. Desde o primeiro instante, seu encontro estava baseado em uma injusta e revoltante desigualdade."


Nenhum comentário:

Postar um comentário