Gosto muito de livros de história e fazia algum tempo que não lia algo sobre o período moderno (que vai do século XVI até o XVIII) minha área de pesquisa em outra encarnação.
Keith Thomas é considerado uma grande autoridade em história da Inglaterra, mas não foi por isso que li seu livro, foi pelo assunto, afinal, ele vem bem a calhar para alguém que não sabe muito bem qual a sua vocação nesta vida. Infelizmente, já aviso que o livro não dá uma resposta. Ele se limita a repetir que "o que fazer com a minha vida?" e "a que dedicar minha existência?" são questões constantes do ser humano.
O livro é dividido em grandes temas/capítulos, tais como: proeza militar, trabalho e vocação, riqueza e posses, honra e reputação, amizade e sociabilidade, fama e imortalidade. O autor faz uma grande compilação de textos e autores do período e reúne uma série de documentos para nos dar uma ideia do grau de importância que as pessoas atribuem a cada um desses temas no período moderno na Grã-Bretanha.
O que é fácil notar é que valores mudam com o passar dos séculos, o que é considerado essencial no século XVI já deixa de ser visto da mesma forma no século XVIII, por exemplo, no início, morrer para salvar a reputação ou para vingar a honra era algo considerado essencial, no entanto, em meados do século XVIII, essa ideia deixa de ter força e, para muitos, duelos são vistos como algo bárbaro.
A amizade e a sociabilidade, por sua vez, deixam de ser associadas à ideia de se ter um "patrão", um "benfeitor", como ocorria quando os nobres e pessoas abastadas tinham uma série de "protegidos" em seu círculo de relacionamentos, para ser ligadas às noções de amizade e de sociabilidade tais como as conhecemos hoje: como o encontro de pessoas com interesses comuns que apreciam umas às outras pelo o que elas são e não pelas vantagens que possam proporcionar. A relação deixa de ser vertical para ser horizontal.
A forma como as pessoas consideram fama e imortalidade também muda na medida em que as pessoas passam a considerar a existência como sendo o momento presente, e não uma vida de gozos no além do qual ninguém pode dar testemunhos. São todas mudanças sutis que alteram os pesos e as medidas do que cada um considera importante em sua vida.
E como encontramos o nosso espécime britânico no final do século XVIII? Podemos dizer que seus valores não são muito diferentes dos nossos, homens pós-modernos. Não é possível dar um valor absoluto às riquezas, reputação, fama, etc., a vida pode ser apreciada por si mesma sem que seja necessário perseguir um objetivo único que lhe dê sentido. Amigos, família, o respeito dos outros e o orgulho de um trabalho benfeito estão facilmente ao alcance de qualquer um. É isso que é preciso ter em mente.
Karen,
ResponderExcluirAdoro as suas resenhas, aliás, essa é uma das coisas que você poderia (profissionalmente) fazer muitíssimo bem!
Agora, apesar de todos sabermos que "a vida pode ser apreciada por si mesma sem que seja necessário perseguir um objetivo único que lhe dê sentido", é fato que nos angustiamos muito por não vermos a realização (ou mesmo a definição) da nossa vocação, não é verdade? eu também me sinto assim.
Beijão, boa noite e boa semana.
Obrigada, Marly! Você é muito gentil! rs
ResponderExcluirVocê tem razão sobre essa "angústia da indefinição", mas por outro lado, eu sempre fico tentando me imaginar fazendo a mesma coisa todos os dias por anos a fio e acho que isso acabaria me cansando por mais que fosse algo de que gostasse. É um troço meio histérico...
Vai entender...
Beijos,
Karen