7.7.10

Na escuridão...

 

Acabei terminando a coletânea de 13 contos policiais (?) em japonês mais rápido do que imaginava. Fiquei contente em poder devolver o livro para minha professora antes das férias, não gosto de ficar com as coisas dos outros por muito tempo.

O livro é publicado periodicamente por uma associação de autores de histórias policiais, divertido, não?  Ele reúne os melhores contos do ano, esse era meio antigo, de 1980, e não sei se a associação continua com essa prática. 

Não sou lá muito fã de livros desse gênero, a única coisa parecida que li foi O homem do terno marrom da Agatha Christie que um amigo me emprestou no colegial. Achei ok na época e minha opinião ainda não mudou. O bom de ter lido esses contos em japonês é que eles são mais fáceis de entender, afinal,  tratam de fatos, acontecimentos concretos, e não têm imagens poéticas ou dramas internos, assuntos mais complicados para quem ainda não domina uma língua.

Sobre os contos, gostei de O espírito, sobre um morto que não conseguiria descansar em paz  até descobrir quem o matou e qual foi o motivo de seu assassinato. Outros me impressionaram bastante por seu lado sinistro. O título da coletânea é sugestivo - "Você na escuridão" -, mas achei algumas histórias realmente pesadas. Por exemplo, o conto de um cientista que desenvolve um método de transmitir os conhecimentos adquiridos de um morto para uma pessoa viva. Um pai  pede que ele use o procedimento no filho adulto que tem problemas mentais e se comporta como uma criança. O cientista concorda e injeta o líquido cerebral de um gênio da astrofísica no rapaz e, em pouco tempo, ele também se transforma em um gênio, mas o que o pai e o cientista não sabiam era que o morto era uma maníaco que violentava e matava mulheres, característica que é transmitida ao rapaz. O conto termina com o filho violentando e matando a própria mãe e com o pai matando o filho para tentar salvar a mulher.

Outro que chamou minha atenção, e tinha lá seu lado "cômico", foi o de  um grupo de ladras composto por oito donas de casa que se faziam passar por membros da associação de pais e mestres de uma escola e assaltavam casas de pessoas ricas. Elas roubavam apenas coisas que não dessem muito na vista como alimentos e roupas. Antes de ir embora, elas matavam as "madames" e suas empregadas para não deixar testemunhas. 

Um conto que me deu um medinho foi o de um abajur mal-assombrado. Um fantasma aparecia todas as vezes em que um casal fazia sexo com ele aceso. O abajur fora dado de presente por um senhor que matara a esposa e o amante dela e o fantasma na verdade era a última imagem vista pela mulher: o rosto do marido que a estrangulava. Quase todos os contos são sobre assassinatos cometidos por amantes ou esposos e, como é possível notar, os japoneses gostam de incorparar um toque sobrenatural às narrativas.

Lendo a coletânea, uma suspeita despertada quando li contos do Ryonosuke Akutagawa e do Kenzaburo Oe foi reforçada, a de que há um lado sombrio na psique japonesa que se não se expressa no cotidiano, encontra uma válvula de escape na literatura (e em mangás, animes...). Qual sua origem, não sei dizer.



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