Saímos às 8h30 em direção ao
vale de Casablanca, localizado entre Santiago e Valparaíso. Trajeto até curto de cerca de uma hora. Havia uma profusão de flores amarelas crescendo às margens da rodovia, não tirei fotos, mas nos disseram que elas se chamam
dedais de ouro.
Paramos em um pequeno restaurante no meio do caminho e comemos uma empanada chilena acompanhada de um vinho levado por nosso guia. O. gostou tanto do instrumento usado por ele para aerar o vinho que acabou comprando um para trazer de volta.
Era cedo para uma refeição assim com "sustância", mas a empanada era muito boa, assada em um grande forno de barro, com gosto caseiro e carne bem temperada. Ia bem com o carmenère.
Mas o melhor era o molho chamado
pebre com o qual a empanada foi servida. Uma mistura de sabores ácidos e picantes. Quase todas as receitas que vi na internet levam tomates, mas o que comemos definitivamente era feito sem eles.
Depois da empanada, paramos na
vinícola Emiliana e nos juntamos a um grupo que participava da visita organizada pela casa. A guia dá uma pequena volta pela propriedade e explica a filosofia da vinícola, que segue princípios da agricultura orgânica e algo que eles chamam de agricultura biodinâmica.
Galinhas são usadas no controle das pragas. Os galinheiros são móveis e podem ser levados até os pontos onde há alguma infestação de insetos ou lagartas. Galinhas bem gordinhas e apetitosas, diga-se de passagem.
As alpacas ficam em um cercado e são soltas para pastar entre as videiras.
Os cortes, a rega, várias etapas do cultivo são determinadas de acordo com a posição dos astros, eles prestam uma atenção particular à posição da Lua entre as constelações.
Há vários canteiros de ervas que são transformadas em uma espécie de "adubo energético" (difícil encontrar uma palavra melhor) após passarem por um processo bastante curioso que envolve vísceras de animais, secagem, pulverização. Achei a coisa meio "esotérica". (Tive a impressão de que ter muito dinheiro e ser excêntrico são algumas das características dos proprietários de vinícolas).
Provamos dois brancos e três tintos sozinhos em uma sala no segundo andar da vinícola. Em geral, achei os sauvignons blancs do vale consideravelmente ácidos, leves e frescos, bons para acompanhar um ceviche ou um tartare, por exemplo. O tinto Coyam da Emiliana tem uma boa relação custo/benefício (menos de R$50,00 no Chile, não sei quanto custa aqui).
O almoço foi no restaurante de outra vinícola, a
House Morandé, a uma pedrada da Emiliana. Cada prato foi harmonizado com um vinho, as porções eram pequenas, mas excelentes. Tudo muito bom. Acho que valeria a pena fazer uma parada para almoçar por lá. Como as demais vinícolas de Casablanca, a Morandé fica na beira na rodovia, basta parar e entrar.
Pãezinhos quentes, azeite com uma pitada de
merquén, um tempero típico no Chile, manteiga e uns canapézinhos com uma espécie de ceviche.
Começamos com um ceviche de salmão
Depois uma fatia de presunto serrano com queijo
Risoto de lula en su tinta
Wagyu, molho de centola e wantan (não me lembro qual era o recheio, acho que era abóbora)
A sobremesa não estava incluída na harmonização, mas pedimos algo para dividir e tirar o salgado da boca.
Arrematamos tudo com um espresso curto, lá, ele é chamado de "ristretto", caso peça um "café negro", saiba que receberá um bom cháfé no estilo americano. Recebemos um ristretto ristrettíssimo. Sério, a menor quantidade de café que já vimos em uma xícara até hoje. Dois golinhos e finito. Mas era bom, bem forte, especialmente para quem não gosta de adoçar como nós.
Para finalizar, paramos na
vinícola Indomita, nosso guia disse que o lugar valia mais pela paisagem do que pelos vinhos então nós nos sentamos em um dos sofás da varanda que oferece uma vista panorâmica do vale e abrimos uma garrafa de vinho branco da casa para fazer a digestão sem tomar parte em nenhuma degustação. A subida do estacionamento para a vinícola estava coberta por essas flores lindas.
A vista não é ruim, né?
À noite, jantamos uma salada meio sem graça, mas que quebrou o galho no próprio hotel.
***
Termino com outra bandeira do Chile. Vimos e provamos várias coisas
diferentes. Em geral, come-se bem no Chile. Só não entendi muito bem o
frisson em torno da "culinária peruana" no país, essa expressão aparece com frequência nas placas dos restaurantes.
Não me enchi de peixe e frutos do mar como tinha planejado, sempre acabava pedindo carne vermelha. Entretanto, não me arrependo. A carne era sempre muito boa, tão boa ou melhor do que aquela que provei na Argentina.
A capital não me agradou tanto nessa visita, mas há muitos
passeios interessantes para se fazer ao redor de Santiago. Um dia ainda vou a Valparaíso e verei os Andes de mais perto, por exemplo. Também
quero rever as videiras carregadas de frutas no outono. Enfim, não descarto um retorno.