雪解, "yukige", "degelo". Esse é o título de um conto longo de Riichi Yokomitsu (1898-1947). Esse escritor japonês não é muito conhecido no ocidente e vi apenas um livro dele traduzido para o inglês na Amazon chamado "Shangai", que estou lendo agora. É da mesma coletânea que já comentei aqui.
A história é agridoce, um primeiro amor adolescente. Tenho simpatia pelas histórias de primeiros amores, todo aquele negócio do tateamento da relação, o lado desengonçado, acho isso comovente.
Takuji está no colegial e mora nos fundos de uma casa que divide com outro colega de classe. Um dia ele fica intrigado com a beleza de uma garota que vê na rua e descobre que ela é praticamente sua vizinha. A garota, Eiko, também parece curiosa a respeito do rapaz e os dois acabam se aproximando. É tudo muito inocente, ela tem treze anos e está no ginásio, ele tem dezessete, aquela diferença de idade que parece um abismo entre adolescentes.
Eiko vai até a casa de Takuji todas as noites após a aula e os dois ficam conversando ou jogando ping-pong. Isso dura um ano. Tudo vai bem até que a vizinhança começa a fazer comentários e a olhar aquele relacionamento com maus olhos, a mãe de Eiko a proíbe de ir ver Takuji e os dois acabam se afastando e passam a se ver apenas quando se encontram por acaso na rua e, mesmo então, conversam de modo tão formal que parecem estranhos.
Eiko passa para o colegial e Takuji vai para outra cidade prosseguir os estudos. Um dia, ele recebe a notícia de que Eiko morreu de gripe espanhola. Depois de algum tempo, no caminho de volta para a casa de seus pais, ele faz uma parada rápida na cidade onde conheceu Eiko. Vê a casa onde ela morava e passa pelo lugar onde eles se encontraram pela última vez. Foi em uma mercearia de bairro, era noite e ela estava acompanhada pela empregada de uma vizinha. Eles se cumprimentam, mas quase não trocam palavras. Ela vai embora, mas Takuji se demora um pouco mais lá dentro e, quando olha para fora, percebe uma silhueta parada na esquina, junto de uma caixa de correios. Era Eiko que o observava. Ela sai correndo após alguns instantes porque a empregada a chamava. Essa é a última lembrança que Takuji tem da amiga.
A última parte do conto me deu uma vontade imensa de chorar. (Ok, não fiquei só na vontade). Na perspectiva do tempo e diante do que ocorre depois, as razões para cortar aquele romance pela raiz tornaram-se pequenas, mesquinhas.