28.12.11

Shiruko / Zenzai (sopa doce de feijão azuki)


"Shiruko" ou "zenzai"? Há uma grande controvérsia sobre qual o nome dessa sopa doce de feijão azuki. Isso ocorre mesmo entre os japoneses. Alguns dizem que um conserva os grãos ainda inteiros enquanto o outro é feito com a pasta do feijão, algumas pessoas afirmam que a diferença está em se há caldo ou não, por fim, há aqueles que dizem que o nome varia dependendo da região. Meu pai é da província de Chiba e eu cresci comendo "zenzai", descobri que algumas pessoas conheciam o prato como "shiruko" mais tarde.

"Doces feitos com feijão japonês" não são muito apreciados pelos ocidentais, conheço pouca gente que goste. Eu também não gostava muito, mas minha mãe sempre fazia zenzai quando preparava sekihan e eu comia. Isso criou um hábito.

Novamente, não vou passar uma receita com medidas exatas. Basta lavar, escorrer e deixar o azuki de molho de um dia para o outro. Escorrer, colocar em uma panela com água fervente e cozinhar por 5-6 minutos, escorrer outra vez, (li  recentemente que isso diminui o amargor do feijão e adotei o procedimento), colocar água outra vez, adoçar a gosto e deixar cozinhar até que os grãos fiquem macios e o caldo espesso. Adicione água conforme a necessidade.

O zenzai tradicional é servido com mochi. Ele é adicionado à sopa quente e amolece. Na versão mais comum entre os nipo-brasileiros, e aquela que fiz, no entanto, são adicionadas colheradas de uma massa feita com farinha, água e sal quase no final do cozimento do zenzai. Essa massa endurece e forma bolinhos. Os chamados "dangos". Pode parecer estranho, mas acho a combinação dessa massa ligeiramente salgada com o doce de feijão muito mais gostosa do que com o mochi. Sempre "caçava" todos os dangos da panela.


Massa feita com farinha, água e sal para os bolinhos

Meu zenzai demorou bastante tempo para cozinhar, e olha que o azuki costuma ser rápido, talvez seja porque interrompi o cozimento dos grãos no dia anterior para fazer o sekihan, mas não tenho certeza. Se quiser que ele fique mais espesso ou com um caldo mais ralo, basta controlar a quantidade de água. Se preferir sem os grãos, você pode bater o zenzai no liquidificador antes de adicionar o mochi ou a massa para os dangos.

Este é um doce com bastante "sustância", provavelmente mais apropriado para dias frios, mas eu não ligo para o calor. No filme Óculos, cuja história se passa em Okinawa, aparece uma versão que é colocada em uma cumbuca, coberta com gelo raspado e depois com uma calda doce, como uma rapasdinha. Deve ser interessante...

.

27.12.11

Sekihan (mochigome cozido com feijão azuki)


Resolvi fazer sekihan este ano. "Sekihan" significa "arroz vermelho" (a foto é autoexplicativa), a coloração é do feijão azuki que é cozido junto com o mochigome (arroz glutinoso japonês). É um prato bem simples e tradicional servido em celebrações para dar sorte e afastar as más energias. Ele pode ser consumido quente ou frio polvilhado com gomashio, uma mistura de grãos de gergelim com sal vendido já pronto nas lojas de produtos orientais ou feito em casa, e castanhas portuguesas cozidas. Ou mesmo puro.




Vi muitas receitas na internet, mas queria uma receita mais tradicional, na qual o sekihan fosse cozido no vapor, mesmo em sites japoneses, as pessoas usavam a máquina de cozinhar arroz. A mais próxima daquela que minha mãe costuma fazer foi a do Wagashi Maniac, blog ótimo de receitas japonesas, especialmente doces (maior parte escrita em alemão). O arroz é cozido no vapor como na receita da minha mãe, mas há algumas diferenças, como no cozimento do azuki e no fato de o arroz ser deixado de molho na água de cozimento do feijão para que a cor avermelhada fique mais intensa. Achei isso muito interessante, pude comprovar a diferença ao visualizar a foto que tirei do sekihan que minha mãe fez no ano passado.

Meus pais chamam o prato de "okowa" de vez em quando, pesquisei um pouco e descobri que qualquer prato feito com mochigome cozido no estilo "risoto" recebe esse nome. "Sekihan" é mais específico e serve para designar esse prato em que o mochigome é "tingido" pelo feijão. E vale lembrar que "mochigome" não é o mesmo arroz usado na culinária japonesa para se fazer sushi. Ele é mais glutinoso (grudento) e usado para se fazer mochi.

Não recorri a medidas exatas, a ideia é cozinhar uma grande quantidade de arroz com uma pequena quantidade de azuki. Como geralmente os japoneses cozinham muito mais azuki para usar em outros pratos, como shiruko/zenzai ou outro doce, raramente alguém cozinhará apenas uma xícara dele. Eu fiz uma porção ridiculamente pequena de sekihan (é tudo isso que está no prato acima) porque só eu como. Usei uma xícara de arroz e algumas colheradas do azuki que cozinhei. (Fiz zenzai com o resto).

Minha mãe costuma deixar o mochigome e o azuki de molho no dia anterior depois de lavá-los. No dia seguinte, ela cozinha o azuki com água na panela de pressão, separa uma porção de grãos que junta ao arroz escorrido e já colocado em um recipiente próprio para cozimento no vapor forrado com um pano de prato limpo, mistura um pouco, tempera com sal, cobre com a porção do pano de prato que ficou sobrando dos lados e deixa no fogo, tampado, até que tudo fique macio. (O cozimento todo é feito no vapor).

A versão do Wagashi Maniac que segui é um pouco mais trabalhosa. O feijão é deixado de molho por cerca de 3-4 horas no dia anterior, escorrido e cozido rapidamente em água fervente por 5-6 minutos, escorrido outra vez e cozido novamente em fogo médio em nova água por 10 minutos, ao final dos quais o "caldo" deve estar vermelho e os grãos devem estar "al dente", começando a ficar macios, mas ainda firmes. O primeiro cozimento rápido, segundo as fontes da autora do blog, serve para retirar o amargor do azuki.  O resto do cozimento é feito no vapor, junto com o mochigome no dia seguinte. O azuki é então escorrido, o caldo desse último cozimento é consevado e, depois de frio, usado para deixar o mochigome de molho.

O mochigome é lavado, escorrido, colocado em uma tigela e deixado de molho no caldo em que o azuki foi cozido (se faltar líquido para cobrir o arroz, adicione um pouco de água) de um dia para o outro para que os grãos sejam "tingidos" pelo caldo do azuki. Enquanto isso, os grãos de azuki cozidos podem ser conservado na geladeira.


Mochigome deixado de molho no caldo de cozimento do azuki


No dia seguinte, coloca-se água para ferver em uma panela própria para cozinhar a vapor. Forra-se a parte superior da panela (a "peneira" que vai por cima) com um pano de prato grande e limpo. O mochigome é escorrido e colocado sobre o pano de prato junto com a quantidade desejada de grãos de azuki, mistura-se um pouco para que os grãos fiquem bem distribuídos e cobre-se tudo com as sobras do pano de prato. Tudo é cozido no vapor, tampado, por cerca de 20 minutos. Depois desse tempo, borrifa-se um pouco de água com sal para temperar. Cozinha-se mais 15-20 minutos. O sekihan estará pronto quando o arroz estiver transparente e macio. O azuki ainda ficará um pouco firme.


Mochigome e azuki antes do cozimento


Sekihan logo após cozinhar no vapor


Gostei desta versão, achei que ficou melhor do que a da minha mãe em relação à aparência (nada contra, o sabor do sekihan materno é ótimo), o uso do caldo do azuki para colorir o mochigome é genial e como os grãos são cozidos por pouco tempo na primeira etapa, eles se consevam inteiros até o fnal do processo. Já  na receita da minha mãe, como o azuki é cozido na pressão, os grãos ficam bem moles e eles quase se desfazem depois de cozidos com o mochigome.

O sekihan resseca rápido e o ideal é que não fique muito tempo ao ar livre. Mantê-lo coberto pelo pano de prato úmido ajuda a conservá-lo mais gostoso. (E por falar em pano de prato, saiba que ele ficará manchado).

Se guardar o sekihan e achar que ele ficou muito ressecado, coloque em um recipiente que possa ir ao micro-ondas, adicione um pouquinho de água, cubra com filme plástico e aqueça por 2-3 minutos. Este não é um prato para todo mundo, mas para quem gosta (como meu pai), ele é indispensável em ocasiões festivas.


.

26.12.11

Salpicão de tender e frutas


Este foi o fim de um tender que, apesar de pequeno, parecia infinito. Triturei no processador para que ele ficasse irreconhecível (você pode picá-lo com uma faca, mas preferi assim). Juntei aipo, passas, maçãs, manga e castanha do Pará picados, temperei com maionese, suco de limão (só um pouco, para evitar que as frutas escurecessem) e creme de leite fresco. Nem adicionei sal, o sal do tender já deu conta. Rápido de fazer e bem fresquinho para dias quentes. (E os dias têm sido quentes!).


.

23.12.11

Batatas e kabu assados com mostarda dijon


Encontrei algumas receitas do primeiro volume de Tender do Nigel Slater e resolvi testar esta receita. Originalmente ela levava "rutabaga", um tipo de raiz que nunca vi por aqui, lembra uma beterraba por fora, mas é amarela por dentro, eu a substituí por kabu (parece um nabo só que é redondo, "turnip" em inglês). A combinação ficou gostosa. Ao menos eu achei, o O. notou que havia algo diferente, mas nem se deu conta de que havia outro vegetal ali além das batatas. Esses homens!

O Nigel pede para que os vegetais sejam cortados em fatias bem fininhas, quase transparentes, com o uso de um daqueles cortadores apropriados para isso, mas fatiei tudo com uma faca e o tempo de cozimento ainda foi menor do que o pedido na receita. Apesar de as fatias não ficarem tão fininhas, depois de uns 40 minutos de forno, testei com um garfo e estavam todas macias.

Não segui medidas exatas e usei azeite no lugar da manteiga e água no lugar do caldo. A mostarda não se misturou muito bem com o azeite, mas não sei se isso ocorreria se tivesse usado manteiga. De qualquer forma, tudo saiu muito bem no final. Se não gostar de kabu, ou tiver lá as suas hesitações, use só batatas, dá um belo acompanhamento.





Batatas e kabu assados com mostarda dijon


500g de batatas
500g de kabu
4 dentes de alhos picados
85g de manteiga (usei azeite em quantidade menor, acho que você pode usar menos manteiga/azeite, mas se gostar de recuperar a gordura e o caldinho que sobram no fundo do refratário com um pedaço de pão, fique à vontade!)
2 c chá bem cheias de mostarda tipo dijon
1 c chá de folhas de tomilho  (usei secas e em quantidade muito maior porque não medi)
55ml de caldo de legumes (usei água)


Descasque as batatas e corte em fatias bem finas. Faça o mesmo com o kabu (não costumo descascar este último). Deixe as fatias dos dois vegetais em um recipiente com água para que não escureçam caso demore um pouco para usá-los.

Preaqueça o forno à 190°C. Derreta a manteiga em uma frigideira, quando começar a ferver, adicione o alho e diminua a temperatura. Deixe que ele refogue um pouco sem dourar. Retire a frigideira do fogo e adicione a mostarda. Unte uma forma de cerca de 25 cm com um pouco dessa mistura e reserve o resto.

Escorra os vegetais fatiados e retire o excesso de água com papel toalha ou um pano de prato. Distribua 1/3 dos vegetais na forma, regue com um pouco da mistura de azeite e mostarda. Tempere com sal e pimenta. Polvilhe um pouco do tomilho. Repita esse processo mais duas vezes. Finalize regando com o caldo de legumes.

Cubra tudo com um pedaço de papel alumínio pressionando os legumes com a palma das mãos. Asse por cerca de 1h10, até que os vegetais estejam macios quando espetados com uma faca/garfo (no meu caso, eles já estavam bons depois de 40-45 minutos de forno). Retire o papel alumínio, aumente a temperatura para 220°C e asse mais 10 min para que a superfície doure.



21.12.11

Salada de bacalhau com risoni


Eu e minha obsessão por receitas com bacalhau.

O que me atraiu nesta foi o risoni, essa massa com formato de arroz que sempre tive vontade de experimentar, mas não sabia como usar além de adicionar às sopas. 

Gostei muito da combinação de sabores, infelizmente esqueci de comprar o limão siciliano, acho que ele teria deixado a salada ainda mais perfumada, mas ficou muito saborosa assim mesmo. Você come uma colherada após a outra e nem percebe.

Não usei medidas exatas, a receita original é muito grande para duas pessoas. Comprei uma daquelas bandejas pequenas de bacalhau em lascas e dessalguei no mesmo dia. Elas são muito práticas e bem mais baratas do que as postas. Quando as receitas pedem bacalhau desfiado, não penso duas vezes e vou direto para as lascas, acho comprar postas para desfiar um desperdício.

Receita de uma amiga da Lylia.




Salada de bacalhau com risoni


1kg de filé de bacalhau em lascas, dessalgado e refogado em azeite extra virgem (adicionei cebola e alho picados na hora de refogar)
100g de azeitonas pretas picadas (portuguesas pequenas)
400g de risoni
8 tomates maduros sem pele e sem sementes, cortados em cubinhos pequenos
Folhas de manjericão rasgadas
Raspas de 5 limões siciliano (cuidado para não raspar a parte branca), não usei
Sal e pimenta a gosto


Em uma panela com água fervente, salgada e abundante, cozinhe o risoni. Cuidado para não cozinhar demais, nem deixar duro. Escorra. Adicione azeite e deixe esfriar.

Junte o bacalhau em lascas refogado. Misture bem e deixe esfriar.

Adicione os tomates em cubos, o manjericão, as raspas de limão e por último as tirinhas de azeitonas pretas.
Acerte o tempero e finalize com mais azeite.

Sirva frio, mas não gelado.



20.12.11

Beringelas com tarê


Uma de minhas novas formas prefereridas de comer beringela ao estilo japonês.

Sempre comi algo parecido em restaurantes, mas nunca consegui repetir em casa. Acho que cheguei bem perto desta vez. Fiz a receita de um tarê (molho adocicado à base de shoyu) que vi em um programa da NHK outro dia e usei para temperar as beringelas. No programa, esse tarê era apresentado como um tempero curinga para o preparo de vários pratos e é verdade!

A receita do tarê é muito simples, basta cozinhar uma mistura de mirim (saquê licoroso usado na culinária japonesa) e shoyu em fogo baixo até que o volume se reduza à metade. A regra é usar sempre a proporção de 2:1 (duas medidas de mirim para uma de shoyu). Pronto. O tarê está feito. Ele pode ser conservado por um bom tempo (não lembro exatamente quanto, mas uma semana com certeza) e usado para finalizar e temperar legumes refogados, carnes, etc.

No caso das beringelas, basta descascá-las (usei três médias), cortar em fatias não muito grossas (cerca de 2 cm), deixar de molho em água por algum tempo, escorrer, enxugar com papel absorvente e grelhar em uma frigideira antiaderente com um pouco de óleo, deixar dourar de um lado e depois do outro adicionando óleo conforme a necessidade. (Usar óleo é importante, ele torna as beringelas mais saborosas, mas não é necessário empapá-las. Se quiser ter mais controle sobre a sua quantidade, pincele o óleo sobre a superfície das beringelas antes de colocá-las na frigideira). Quando as fatias estiverem douradas e macias, finalize com algumas colheradas do tarê (coloquei três). Vire-as para que o tarê as envolva, retire do fogo. Fim.


19.12.11

Bolo de aveia, coco e castanha do Pará


Outro bolo de aveia. Gostoso, mas achei que o sabor do coco e das castanhas sumiu um pouco. Talvez a receita deva ser repensada, mas ruim não ficou. Adaptada de uma embalagem de açúcar mascavo (ou será que era de aveia?).



Bolo de aveia, coco e castanha do Pará


1 x de farinha
1x de aveia em flocos
2 ovos
1 x bem cheia de açúcar mascavo
3 c sopa de óleo
1 garrafinha de leite de coco (200ml)
1/2 x de castanha do Pará picada
1/2 x de coco ralado
1 c rasa de chá de fermento
1 c rasa de chá de bicarbonato de sódio


Bata todos os ingredientes no liquidificador exceto o fermento, o bicarbonato e o coco ralado. (Coloque os ingredientes líquidos primeiro). Junte o coco ralado, o bicarbonato e o fermento e misture com uma colher. Coloque a massa em uma forma untada e asse até dourar.

17.12.11

Dentro do ônibus xvi

.


Vi um rapaz lendo "A insustentável leveza do ser" ontem. Ele apertou o botão para descer, mas continuou sentado até que ônibus parasse completamente para terminar de ler um parágrafo. 

Vocês não se interessam por pessoas que leem determinados autores? Eu seria capaz de me apaixonar por alguém apenas olhando para a capa de seu livro. 



.

16.12.11

Mochi com gergelim e mel

mochi grelhado com molho de shoyu, gergelim e mel


Coloquei um dos mochis que fiz em uma frigideira antiaderente sem gordura e deixei até que os dois lados ficassem levemente dourados e o interior ficasse macio e comi com um molho à base de shoyu, mel e sementes de gergelim trituradas. Como devolvi o suribachi (espécie de pilão japonês) que havia "emprestado" da minha mãe, usei um moedor elético de café que uso também para moer temperos para triturar grosseiramente o gergelim. Ficou gostoso, mas ainda prefiro a forma mais simples, apenas com shoyu e açúcar. São sabores da infância.

Os mochis também podem ser grelhados sobre carvão ou diretamente sobre a chama do fogão se você tiver uma daquelas telinhas de metal (não sei o nome) próprias para isso. Também é possível usar colocar o mochi na máquina de waffles e fazer "moffles". Há quem faça "sanduíches" com queijo e presunto assim.

Os acompanhamentos e molhinhos são limitados apenas pelas preferências e imaginação de cada um.


moffle com molho de shoyu e açúcar

15.12.11

Mochi de micro-ondas




Mochi (pronuncia-se "moti") é um bolinho de arroz japonês. Segundo a tradição, ele não pode faltar nas comemorações de Ano Novo para trazer boa sorte. (E, por isso mesmo, ele também é responsável por algumas mortes de final de ano no Japão, pois algumas pessoas, especialmente idosos, costumam engasgar com esse bolinho grudento).

Meu pai sempre comprava alguns pacotes de mochi já pronto nas lojas de produtos japoneses. Eles entravam na composição do zouni ou eram grelhados em uma frigideira sem óleo só para dar uma dourada dos lados e comidos com um pouco de shoyu e açúcar pela manhã, no lugar do pãozinho. Na época, não ligava muito, comia mais pela tradição, mas hoje sinto saudades do aroma dos mochis sendo grelhados e do próprio mochigome sendo cozido. Estou ficando velha mesmo.

Também lembro de algumas tentativas de fazer mochi em casa. Como estava fora de questão adquirir o aparato tradicional (kine e usu, aquela grande marreta e o pilão), uma vez meu pai resolveu comprar um moedor manual de café por onde minha mãe tinha que passar o arroz cozido. Foi uma lambança que deu mais ou menos certo, mas a experiência nunca mais foi repetida e voltamos a comprar nosso mochi. (O moedor enferrujou e foi jogado fora).




Este ano, fiquei com vontade de preparar meu próprio mochi, especialmente depois que minha mãe aprendeu a fazê-lo de uma forma menos trabalhosa e sofrida com a minha cunhada (que, por sua vez, aprendeu a receita com sua chefe). Ela me explicou o processo no ano passado, mas acabei não preparando porque eu não comeria muitos e o O. não comeria nada.

O preparo é bem simples, basta bater o mochigome (arroz glutinoso) no liquidificador com um pouco de água e depois levar a mistura para cozinhar no micro-ondas. Achei bem fácil, a parte mais chata é moldar a massa ainda quente. (Também preciso desenvolver uma técnica para moldar bolinhos mais bonitos).


Arroz japonês tradicional à esquerda e o mochigome à direita, mais branquinho. O mochigome é mais "grudento" do que o arroz japonês usado para fazer sushi. (Só agora vi que um grão de mochigome foi parar no outro monte de arroz, é que a garota aqui é muito cegueta!).


Passo a receita com uma série de observações feitas pela mãe minha ao telefone e também algumas conjecturas próprias. Fiz a quantidade abaixo, que é mínima e rende cerca de oito mochis de tamanho tradicional. Achei o resultado muito bom e tenho grandes planos para meus oito exemplares. Vou comer alguns grelhados e penso em congelar outros para fazer zouni no Ano Novo.

Espero que a receita seja útil para vocês. Raramente passo "receitas de festa" nesta época do ano porque, sinceramente, preferiria não ter que me preocupar com a cozinha no Natal e no Ano Novo e costumo me limitar a algo bem simples, mas este ano estou nostálgica e pretendo testar mais alguns pratos japoneses que comia quando morava na casa dos meus pais. Se derem certo, coloco aqui. :)




Mochi de micro-ondas


2 x de mochigome (*)  lavado, deixado de molho em água de um dia para o outro e depois escorrido (cerca de uma xícara e meia de mochigome seco rende mais ou menos essa quantidade depois de ficar de molho)
1 x de água
amido de milho para envolver os bolinhos

(*) arroz próprio para fazer mochi vendido nas lojas de produtos japoneses


Lave e deixe o mochigome de molho de um dia para outro. No dia seguinte, escorra sobre uma peneira e bata no liquidificador muito bem com a água. (A proporção passada pela minha mãe foi de 1 x de água para 2 x de mochigome deixado de molho e escorrido. Essa é uma quantidade boa para bater sem sobrecarregar o aparelho).

Coloque essa mistura em um  recipiente grande que possa ser levado ao micro-ondas, cubra com filme plástico e cozinhe por 12 minutos. (Vi uma receita na qual a mistura era cozida por dois minutos, retirada do micro-ondas, mexida e depois cozida por mais dois minutos, o processo era repetido até que a massa adquirisse uma consistência firme, mas elástica. Fiz de acordo com as instruções passadas pela minha mãe, mas ela costuma dobrar a receita que cozinha no micro-ondas. Tive a impressão de que poderia ter deixado menos tempo para a quantidade que fiz, achei que a massa ficou um pouco mais firme do que o ideal e que uns 7-8 minutos seriam suficientes, preciso fazer mais testes com o tempo de micro-ondas e com a proporção de água e mochigome).

Depois de cozinhar o arroz, retire o recipiente do micro-ondas e remova o filme plástico com cuidado para não se queimar com o vapor. Coloque o recipiente sobre um pano de prato ou uma superfície que não provoque choque térmico e possa quebrar o recipiente quente. Passe uma faca molhada pelas laterais para desgrudar a massa. Misture-a com um shamoji/colher ou espátula molhada para evitar que o arroz grude demais, mexa por alguns minutos, molhando a colher sempre que ficar difícil misturar. (Segundo minha mãe, isso torna o mochi mais grudento, característica desejável nessa iguaria. Também desconfio que seja uma forma de esfriar a massa um pouco antes de trabalhá-la). 

Despeje a mistura em uma assadeira ou superfície coberta com amido de milho, retire porções da massa ainda quente com as mãos envolvidas em amido, molde os bolinhos e passe-os também pelo amido para que não grudem uns nos outros. (Segundo minha mãe, a massa deve estar ainda quente pois ela endurece depois de fria e dificulta o trabalho).


shamoji para mexer o arroz e uma tigela com água
Se desejar, passe os mochis pelo kinako (soja torrada em pó) ou sementes de gergelim ao invés do amido. Você também pode recheá-los com anko (doce de feijão azuki). Enfim, há muitas possibilidades.


arroz depois de ir ao mircro-ondas


14.12.11

Cerco de penumbras - Oscar Cerruto



Oscar Cerruto (1912-1981) é o primeiro escritor boliviano que leio graças à generosidade de uma leitora do blog que mora em Santa Cruz de la Sierra. Cerco de Penumbras é uma coletânea de contos. Há muitos acontecimentos sobrenaturais neles. Angústia também. Alguém está sempre prestes a morrer ou algum acontecimento funesto paira no ar. Há alguns contos com assuntos mais prosaicos, cenas da cidade, como o do escroque que rouba no jogo de cartas com a ajuda de um menino deficiente, ou os encontros fortuitos de homens e mulheres, mas, em geral, achei todos meio lúgubres.

Os temas lembraram-me de alguns contos de "terror" japoneses, com um quê de pesadelos. Não é bem meu tipo de leitura, mas valeu por ter conhecido um autor diferente. Suas descrições são vívidas e ele demonstra ter muito cuidado na escolha das palavras.


.

12.12.11

Mixidinho de vôngole



Vi a receita no no blog do Marcelo Katsuki, originalmente ela se chamava "mixidinho de lambreta", olhei para a foto e achei que a tal da "lambreta" (amêijoa, molusco encontrado nos mangues)  tinha muita cara de vôngole e foi o que acabei usando. Perdoem-me, lambretas!

Depois vi que a lambreta é um pouco maior, mas o prato ficou saboroso mesmo com meus vôngoles congelados. (A gente faz o que pode com o que tem).

Fiz metade da receita usando arroz integral. Meu mixidinho não ficou com tanto caldo como na foto do Katsuki, ficou parecido com um risoto. Um risoto gostoso e completo com vôngoles, feijão e queijo coalho derretido, diga-se de passagem.



Mixidinho de vôngole


500g de arroz cozido (usei integral)
250g de feijão fradinho cozido com água e sal
500g de lambreta (para metade da receita, usei metade de um pacote de 500g de vôngoles limpos congelados que deixei de molho em água pouco antes de cozinhar para que descongelassem, escorri e usei. A receita dá a entender que as lambretas devem estar com casca, mas não é o que parece na foto do Katsuki. Fica ao gosto do freguês, as casquinhas são bonitas, mas, a meu ver, são incômodas na hora de comer)
250g de queijo coalho padrão em cubinhos
2 colheres de sopa de extrato de tomate (não usei)
4 colheres de sopa de azeite de oliva
4 colheres de sopa de cachaça
1 cebola pequena picada
2 dentes de alho picados
1 tomate maduro picado sem sementes
3 pimentões pequenos (vermelho, amarelo e verde) picados em cubinhos (usei bem menos pimentão e só do vermelho)
Sal, pimenta e coentro a gosto


Em uma panela aqueça o azeite e refogue as lambretas até elas se abrirem.
Em seguida, coloque as 4 colheres de sopa de cachaça.
Deixe secar um pouco e acrescente a cebola, o extrato de tomate, alho, sal e pimenta do reino.
Refogue por mais seis minutos em fogo baixo. Coloque o queijo coalho e misture bem.
Em seguida, junte os pimentões, o arroz, o feijão, o tomate e, por último o coentro. Está pronto para servir. (Juntei o queijo no final e deixei os legumes refogarem um pouco).




10.12.11

Bolo de peras do Nigel Slater


Gosto muito do tipo de comida e do estilo de cozinha do Nigel Slater, tenho apenas uma livro dele, o Kitchen Diaries, mas foi o suficiente para que passasse a admirá-lo. O livro me faz pensar na vida em uma cidade pequena, arborizada, onde ainda é possível fazer uma pequena horta e na qual manteiga e ovos podem ser adquiridos em vendas ou diretamente do produtor. É uma comida improvisada com os ingredientes à disposição no momento, honesta, sem frescuras.

Este bolo é um exemplo disso. A base é praticamente uma receita de bolo quatro quartos, se você se sente um zero à esquerda para bolos, basta saber preparar essa massa. Ela é uma base muito boa, gostosa e amanteigada. Fundamentalmente, ela consiste em se pesar os ovos e em se utilizar a mesma medida para a farinha, a manteiga e o açúcar, adicionar um pouco de fermento ou bicarbonato de sódio e voilà!

A receita original levava uma porção de mirtilos além das peras, mas usei apenas estas últimas, afinal, mirtilos não são comuns por aqui. Fiz uma arranjo "artístico" com as peras que deveriam ser apenas espalhadas sobre a massa e não sei se foi uma ideia tão boa assim, pois a parte superior das frutas não envolvida pela massa ficou escura, talvez devesse ter usado um pouco de suco de limão para evitar isso, ou colocado alguns pedacinhos de manteiga sobre as frutas, fica a nota. Entretanto, o bolo ficou muito bom assim mesmo, pouco doce, ótimo com uma xícara de chá.



Bolo de peras do Nigel Slater


130g de manteiga à temperatura ambiente
130g de açúcar demerara (ou cristal orgânico)
2 peras maduras (usei mais uma metade), descascadas e cortadas em pedaços
2 ovos grandes à temperatura ambiente batidos
130g de farinha
1 c chá de fermento
um pouco de açúcar para polvilhar


Preaqueça o forno à 180C. Forre a base de uma forma de 21-22cm com um pedaço de papel manteiga (ou unte e enfarinhe uma forma equivalente).

Bata a manteiga com o açúcar até que a mistura fique pálida e leve. Adicione os ovos batidos aos poucos. Adicione a farinha e o fermento peneirados e mexa cuidadosamente até obter uma massa homogênea. Coloque-a na forma e espalhe as peras sobre ela. Polvilhe um pouco de açúcar e asse por cerca de 55 minutos.




8.12.11

Pão de cebola e aveia



Pão gostoso, macio, meio grudento para trabalhar, mas o resultado compensou. A receita original não levava aveia, adicionei um pouco, mas não é necessário.

A versão original é para se fazer na máquina, mas passo a minha adaptação feita à mão. Fiz metade da receita e reduzi a quantidade de fermento biológico pedida para a metade.





Pão de cebola com aveia

2 colheres de sopa de azeite para refogar as cebolas
2 cebolas médias, finamente picadas
1/4 x e mais 1 colher de chá de açúcar (usei demerara)
Sal q.b.
1 pacote de fermento biológico instantâneo seco (10g)
2 ovos grandes
4 colheres de sopa de manteiga derretida (usei azeite)
300ml de água morna
cerca de 500g de farinha de trigo
1 x de aveia em flocos (opcional)


Aqueça 2 colheres de azeite numa frigideira grande em fogo médio. Adicione a cebola bem picadinha, 1 colher de chá de açúcar e 1/2 colher de chá de sal e cozinhe, mexendo de vez em quando até dourar.

Misture a água com o fermento e 1/4 x de açúcar e deixe descansar por cerca de 10 minutos, ou até que o fermento suba e forme uma camada de espuma na superfície da mistura. Junte os ovos, 4 colheres de sopa de azeite e cerca de 1/4 chá de sal. Adicione a cebola refogada e junte farinha até formar uma massa que possa ser trabalhada com as mãos. Sove por cerca de 10-15 minutos. Coloque em uma tigela, cubra com um pano de prato e deixe crescer por cerca de 2 horas.

Depois desse tempo, retire o ar da massa e molde o pão no formato desejado, dois pães grandes ou vários pães menores (prefiro a segunda opção, pois posso congelar depois de assados e descongelar deixando alguns segundos no micro-ondas). Coloque sobre uma assadeira untada e enfarinhada e deixe dobrar de volume.

Pincele com manteiga derretida ou um ovo batido se quiser que fiquem mais bonitos e asse em forno preaquecido à 180C até que dourem.


5.12.11

Gelado rápido de manga, iogurte e mel


Vi o Jamie Oliver preparar várias versões desta sobremesa. O iogurte ideal é o iogurte grego, mais denso do que o iogurte natural que encontramos nos mercados, mas isso pode ser resolvido facilmente, basta forrar uma peneira com papel absorvente ou pano de prato, colocar o iogurte natural e deixar escorrer por algumas horas (se houver pressa) ou de uma dia para o outro. O líquido vai escorrer e o iogurte ficará espesso.

Para esta receita, usei dois potinhos de iogurte que deixei escorrer por duas horas. Basta bater o iogurte escorrido no liquidificador com pedaços congelados de uma manga média madura e mel a gosto para adoçar. (Certifique-se de que seu liquidificador consegue dar conta do recado). O creme pode ser comido assim ou deixado no congelador/freezer por cerca de uma hora. Ele não deve ficar duro, só cremoso e firme o suficiente para formar uma bolinha molenga.

A manga pode ser substituída por frutas vermelhas ou morangos (ou o que a sua imaginação mandar).



4.12.11

Dentro do ônibus xv

Não há muito acontecendo dentro dos ônibus ultimamente. Há épocas assim, entro, cartão magnético em punho, passo e procuro um lugar para me sentar ou me segurar. Sou invadida pelos odores (nem sempre agradáveis) que pairam no ar e observo, ou me abstraio.

Já notaram como a camaradagem dos motoristas e cobradores é divertida? Quando ambos fazem muitas linhas juntos, acabam parecendo um casal de longa data, as conversas têm direito a conselhos, fofocas e comentários variados, às vezes me pego rindo das bobagens que eles falam.

Outro dia vi uma mulher negra com um coque elegantíssimo, cheio de nós e tranças elaboradas, acho que não era feito com seus próprios fios de cabelo, mas era bonito assim mesmo. Também vi uma senhora com sapatilhas prateadas e pensei em como elas lhe iam bem. Pequenas coisas, pequenos cuidados que sempre acho encantadores. 


2.12.11

Pepino e gergelim


Uma de minhas combinações preferidas. Bonita e crocante. Use um descascador de legumes (ou faca) para retirar algumas tiras da casca de dois pepinos japoneses, corte em fatias não muito finas, coloque sobre uma peneira, adicione um pouco de sal, misture e deixe escorrer sobre uma tigela por uma ou duas horas.

Coloque em outro recipiente, tempere com algumas gotas de óleo de gergelim, adicione sementes de gergelim e corrija o sal caso necessário.

.