Este provavelmente é o último livro que leio em 2012 (ou não). Mil páginas de leitura muito instrutiva. Ele se divide em temas como nanismo, surdez, síndrome de down, autismo, esquizofrenia, prodígios, estupro, crime, transexualismo, enfim, condições e situações com as quais vários pais se deparam quando têm filhos. O autor entrevistou centenas de famílias e cada capítulo traz os relatos de suas experiências pessoais. É comovente ler sobre as dificuldades e transformações que ocorrem nas vidas de pais que têm filhos deficientes, que se comportam de formas consideradas diferentes ou inadequadas, quando as circunstâncias nas quais foram concebidos são terríveis ou quando eles parecem ir contra todos os valores que receberam na infância.
Há famílias que se desintegram diante dos esforços e do estresse de criar um filho com dificuldades de desenvolvimento físico ou mental, ou "diferentes" de alguma forma; outras, no entanto, unem-se ainda mais. Algumas são explícitas em sua aceitação; outras, sentem vergonha. Algumas são incondicionais em seu amor; outras, reforçam ainda mais o sentimento de inadequação dos filhos.
O autor escreve sobre situações em que um elemento imprevisto é adicionado na relação entre pais e filhos e como a identidade de uns e outros é afetada no processo de busca pelo equilíbrio. Como reagir ao ser apontado como a mãe ou o pai que supostamente decidiu ter um filho incapaz de ter uma vida digna? Como conviver com as acusações e a culpa? Quais as reações e escolhas adequadas diante de filhos "diferentes"? É preciso aceitá-los ou tentar mudá-los? Como uma mãe pode amar um filho concebido após um estupro? Ou que comete crimes? Essas são algumas questões levantadas no livro. O autor deixa que os pais que entrevistou descrevam suas escolhas, digam o que pensam, permite que os filhos deem suas próprias opiniões e também fornece o ponto de vista médico e as estatísticas em cada caso.
Existem exemplos inspiradores e histórias tristes, mas é fácil perceber que, na maioria das vezes, o inferno realmente são os outros. Pais de filhos transexuais, encontram muita hostilidade. Pais com altas chances de conceber filhos com alterações genéticas - nanismo, surdez, problemas mentais ou motores - são condenados quando decidem ter um bebê.
O livro também trata das crianças prodígio que, apesar da conotação positiva, também representam um desafio para os pais. Já no caso dos pais de crianças autistas e esquizofrênicas, as dificuldades são enormes, pois eles são excluídos do universo de seus próprios filhos e isso cria um grande sentimento de frustração e impotência.
Andrew Solomon, o autor, é homossexual e também escreve sobre seu processo de autodescoberta e aceitação. No último capítulo, ele descreve como se tornou pai e afirma que aquilo que ouviu durante suas pesquisas o ajudou a tomar essa decisão.
Recomendo a leitura para qualquer pessoa. Ele reforça as ideias de que tolerância é algo muito importante e de que ignorância e incompreensão provocam feridas difíceis de curar. O que escrevi aqui é curto e fragmentado, mas espero que tenha passado uma ideia de seu conteúdo.
(Far From the Tree ficou entre os dez melhores livros de não ficção na lista do New York Times deste ano, provavelmente demore um pouco para que seja traduzido para o português).
9 comentários:
que incrí! adorei a resenha, e fiquei curiosa. meu único porém, no momento, é a informação da primeira linha: MIL PÁGINAS. hahaha.
eu tô aqui numa leitura de biografia que tem 600, e tô no sofrimento. quero reler um livro pequeno logo, e ganhei uma caixa de livro-em-série com 5000 páginas, pra mais.
demodosque a minha curiosidade vai ter que ficar sob controle. e eu guento esperar o tempããão que pode levar pra ser traduzido, se é que vai (talvez sim, né, se ele tá em lista de melhores...), porque a preguiça maior da vida é ler livro 'de descanso' (de curiosidade, de banheiro ou de amor) em língua estrangeira.
Seu natal foi lindo, né?
beijos
Quéroul, até me ofereceria para traduzir o livro, ele é tão bom! Mas acho que levaria um tempããão e ninguém aceitaria! rs
Meu natal foi sossegado, como sempre. :)
Deve ser bem interessante. Criar um filho sem deficiência já é bem difícil, imagina nesses casos !
Um grande beijo e que 2013 seja um bom ano para todos nós !
Vera Scheidemann
Desse mesmo autor li "O Demônio do Meio-Dia", livro excelente para quem quiser conhecer melhor o que é a depressão. O autor passou por isso e conta-nos como conseguiu atravessar a fase mais negra de sua vida.
Vera, é verdade, não deve ser fácil!
Sonia, o autor comenta esse livro, também parece muito interessante!
Bom final de ano para vocês!
fiquei com muita vontade de ler o livro, Karen. ate chequei na amazon aqui, mas ja to com um sem fim de coisas pra levar pro brasil e ai vou segurar o desejo mas devo sim comprar e ler esse livro no futuro.
deve dar ate pra ler os capitulos de forma bem separada, em tempo inclusive.
abraco e um 2013 feliz!!!
Kalina, sim, dá para ler os capítulos de forma independente. Você está voltando?
Feliz 2013!
oi Karen, feliz ano novo!!
to indo pro Brasil agora no final de janeiro mas ainda nao conclui a tese. vou voltar para continuar o trabalho talvez uma ou duas vezes ainda. pedindo a Deus inspiracao para terminar tudo logo logo.
Entendi! Feliz ano novo, Kalina!
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