Richard Sennett é um professor de sociologia da Universidade de Nova Iorque, meu primeiro contato com sua obra se deu quando escrevia meu mestrado, seu
O Declínio do homem público foi muito útil para minha pesquisa e me deu uma idéia de como era a Europa por volta do século XVIII, período em que as cidades começavam a se modernizar e a se desenvolver com a criação de espaços públicos onde as pessoas das mais diversas classes e condições sociais podiam interagir com liberdade, sem precisar dizer quem eram ou de onde vinham. Os cafés, as praças, os teatros, etc., teriam mudado a forma como as pessoas avaliavam umas às outras, pois eram ambientes que qualquer um podia frequentar e onde cada um podia "reinventar" a si mesmo, ao contrário dos ambientes da corte, onde todos deviam obedecer regras de etiqueta e de hierarquia.
Os anos se passaram e reencontrei Sennett há pouco, li
The culture of the New Capitalism e
The corrosion of character, dois longos ensaios que abordam praticamente o mesmo tema: as exigências do capitalismo e como elas afetam a vida das pessoas. Para quem trabalha em grandes empresas hoje em dia, tudo o que Sennett diz talvez não seja nenhuma novidade. Ele escreve sobre como as idéias de flexibilidade, ausência de rotina e risco, por exemplo, apesar de suas conotações positivas, acabam por gerar ansiedade.
Trabalhar com horários "flexíveis", ser parte de grupos que duram apenas o período de elaboração de um projeto, ter que provar a si mesmo a cada nova etapa, segundo Sennett, a princípio, seriam noções positivas, mas quando essas situações se repetem ao longo de toda a vida ativa, o que as pessoas sentem é que não possuem apoios, não podem repousar e que a narrativa de suas suas histórias é feita de recortes e não constituem uma totalidade coerente. Não é possível estabelecer laços de amizade no emprego porque os grupos se desfazem rapidamente e, como todos praticamente "competem" entre si, não é possível confiar em ninguém. Como os empregos são flexíveis e as mudanças são constantes, também não há como estabelecer uma identificação com o trabalho, não haveria mais carreiras no sentido pleno da palavra. O que se valoriza é o potencial, o momento, não a história pessoal e as glórias passadas; a atitude positiva, o responder "sim" a tudo. No passado, a hierarquia formava uma pirâmide, mas cada um sabia onde estava e quem mandava, já o novo modelo seria parecido com um disco rígido, com um centro indefinido de onde partem ordens.
Apesar de Sennett afirmar que as condições de trabalho do passado não eram as melhores, ele parece saudosista quando diz que a ansiedade era menor e que ao menos as situações tinham contornos mais definidos do que hoje. Apesar da rotina, ainda havia a vida em comunidade e o consolo de pensar que o esforço servia para melhorar a vida dos filhos. Hoje, no entanto, mesmo quem se formou e encontrou um emprego não tem garantias e precisa se aprimorar todos os dias para não ficar para trás, o que gera um bando de pessoas frustradas e insatisfeitas consigo mesmas.
Em suma, o novo capitalismo favore quem é jovem, ambicioso e com boa formação, mas para quem chega à meia-idade, ele é extremamente cruel.