12.1.11

Como falar dos livros que não lemos? - Pierre Bayard



"Comment parler des livres que l'on n'a pas lus?", livro de Pierre Bayard, fez muito sucesso quando foi publicado na França. E ninguém pode negar que o título é bem curioso. O autor é professor de literatura e a obra em questão reúne uma série de ensaios sobre o tema da "não leitura". Ele começa enumerando "formas de não se ler" que vão desde apenas folhear um livro a ter uma ideia do enredo por meio de terceiros.

Bayard também descreve as situações comuns na vida de um "não leitor" como ter que sustentar uma discussão sobre um livro não lido diante de outras pessoas ou mesmo do próprio autor. Situações delicadas, entretanto, ele diz que os "não leitores" não devem ficar paralisados diante de uma obra e exorta-os a serem criativos, a não terem medo de emitir suas opiniões baseados naquilo que ouviram falar sobre um livro ou mesmo a interpretá-lo de acordo com suas próprias experiências.

Os textos são divertidos e espirituosos, com vários exemplos e anedotas de "não leitura" e de "não leitores" tirados da literatura. A ideia geral é a de que há tantas maneiras de ser um "não leitor" quanto de ser um leitor. Quando escolhemos um livro, deixamos de ler vários outros, podemos ler e esquecer detalhes (ou uma obra inteira), além disso, cada livro se transforma a tal ponto a cada leitura e de acordo com cada leitor que é difícil falar no livro com "L" maiúsculo, o que coloca em questão a fidelidade dos comentários que fazemos ou ouvimos sobre ele.

O livro de Pierre Bayard é criativo. Apesar do autor dizer que apenas ouvir falar ou apenas folheou os livros que menciona, fica claro que ele os leu do começo ao fim e de que é um leitor ávido. No fundo, ele incita os leitores a deixarem suas inibições em relação a literatura.


Alguns trechos:

"A leitura é antes de mais nada a não leitura e, mesmo para os grandes leitores que lhe dedicam a existência, o gesto de tomar e abrir um livro esconde sempre um gesto inverso e simultâneo que escapa à sua atenção: aquele, involuntário, de abandonar e de cerrar todos os livros que, em uma diferente organização do mundo,  poderiam ter sido escolhidos no lugar do feliz eleito."

"A existência do livro interior é, juntamente com a não leitura, aquilo que torna o espaço da discussão sobre os livros algo fragmentado e heterogêneo. Aquilo que chamamos de livros lidos é um acúmulo heteróclito de fragmentos de textos reorganizados por nossa imaginaçõa e sem relação com os livros dos outros, mesmo que estes sejam materialmente idênticos àqueles que passaram por nossas mãos."

(Há uma tradução para o português).



4 comentários:

aline naomi disse...

Esse do Bayard livro lembra UM POUCO "Como um romance", do Pennac: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=208326

Fiquei curiosa pra ler!

Karen disse...

Aline, é verdade, há uma certa semelhança de temas. rs

Marly disse...

Oi, Karen,

Este post eu tenho de comentar! rsrs. Compreendo e respeito a opinião do autor. Pelo que vejo, aliás, ele fundamentou bem a postura dele, né? mas acho a idéia estapafúrdia! rsrs. Penso que as pessoas não deveriam assumir que fizeram algo que não fizeram, seja ler um livro, ver um filme, enfim, rsrs. Acho que o melhor mesmo é a gente ler, ainda que pouco, para poder falar das obras com conhecimento de causa.

Um beijo!

Karen disse...

Marly, eu concordo com você. Entendo que nos tempos aversos à literatura e à cultura em geral em que vivemos hoje, as teses do autor têm seu sentido, mas não são justificativas para não se ler. Se bem que o livro não consegue nem ser subversivo, porque mesmo para tentar argumentar ou comentar "algo não lido" já seria necessário ter alguma cultura, não é mesmo? rs