Já disse que não gosto mais da cidade de São Paulo. Ela tem um miolo agradável, mas pequeno. O resto é muito indistinto. Uma sucessão de rios tristes e paredes sujas.
Estava no terminal rodoviário comendo um lanche "natural" sem graça e caro - nunca tinha me dado conta, mas é tudo caro lá dentro - quando um oriental se aproximou da mesa e me perguntou se eu conhecia alguma associação japonesa nas imediações, falei que não, pois não era da cidade. Então ele me perguntou de onde eu era e dei uma indicação vaga da região. Depois de pensar um pouco, ele perguntou se eu não conhecia ninguém de uma certa cidade do interior do estado, fiz um movimento negativo com a cabeça e ele me explicou que tinha voltado do Japão no dia anterior e que o cartão do banco dele havia sido cancelado (mostrando um cartão do Sudameris, um banco que foi absorvido pelo Real e depois pelo Santander há milhões de anos atrás). Prosseguiu dizendo que precisava encontrar alguém de sua cidade porque faltavam R$20,00 para completar a passagem e, enfim, chegou onde esperava que ele chegasse, perguntou se eu não poderia lhe emprestar o dinheiro, depois ele me devolveria. Como aquela história me pareceu suspeita, respondi que não dando uma desculpa e finalmente ele me deixou terminar o lanche que, àquela altura, parecia ainda mais deprimente.
Qualquer um se sente alienado se passar muito tempo dentro de um terminal rodoviário. Pessoas indo e vindo, gente dormindo nos bancos. Um lugar de passagem e também de paradas. Vi um velho com problemas mentais sentado em uma das cadeiras com forro azul claro. Ele mudava de lugar a todo momento e mexia as mãos ritmadamente sobre as pernas. Acho que ele mora lá dentro, os vendedores das lojas ou funcionários do lugar talvez estejam familiarizados com sua presença. Eu tentava ler para matar o tempo. Uma senhora se aproximou e pediu que eu confirmasse o horário da passagem, ela não conseguia enxergar letras miúdas. 13:20h, ainda faltava uma hora.
Os personagens do romance do Bolaño me pareciam cada vez mais miseráveis naquele cenário, mas fiquei por lá como os demais, esperando que os ponteiros do relógio se movimentassem mais rápido.
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15 comentários:
texto bonito, me deu um coisinho na garganta.
porque, né... pessoas. tudo legal, interessante, mas na essência, tão triste!
liga não, tpm + gripe = eu com mimimis.
=***
Bom, talvez a Quéroul não esteja com mimimis. Também achei triste e fiquei em controlando para não dar bandeira na frente do caléuga do trabalho. Bom, talvez eu também esteja de TPM.
Beijo!
Isso aconteceu-me muitas vezes nas estações de trem. Há sempre um dinheiro que falta para pagar o bilhete...
Quéroul, naquele dia eu é que devia estar com tpm. Mas o que você disse é bem verdadeiro.
Letrícia, não era minha intenção deixá-las tristes!
Ameixa, eu não dei o dinheiro, mas sempre fico com uma sensação de culpa quando não faço isso, fico imaginando se meu "sexto sentido" estava correto ou se o cara não estaria mesmo precisando de uma ajuda. Mas R$20,00 era praticamente o preço da minha passagem. Achei a história toda muito estranha. Alguém que vem de fora sempre se programa um pouco ao menos para voltar para casa e, mesmo que não tivesse reais, poderia trocar ienes ou dólares na casa de câmbio. Havia uma lá dentro.
E você, o que faz quando falta um pouco para completar a passagem?
Graças a Deus nunca me faltou dinheiro quando tenho que viajar de trem... não sei nem como faria, acho que sentiria a maior vergonha do mundo se tivesse que pedir para alguém desconhecido! Mas vejo sempre muitas pessoas, maioria são homens com aspecto duvidoso, que pedem sempre um trocado para completar a passagem :)
Ufa, Ameixa! Achei que você já tivesse passado por esse sufoco! Quando era adolescente de vez em quando também tinha que pedir um dinheiro emprestado para os amigos para completar uma passagem ou comprar um refrigerante, mas sempre devolvia. :)
Por aqui também sempre há pessoas estranhas pedindo dinheiro para algo... :(
Eu acho a cidade toda tão triste, feia, sem vida. Há realmente muitos moradores de rua com aparentes problemas mentais, é impressionante.
Dia desses passava de ônibus pela av. paulista, ao lado do Masp havia um rapaz, bem novo, parecia que estava sob efeitos de drogas, deitado num canteiro de plantas, na hora do almoço, quase ninguém que passava por ali notava a presença dele, fiquei um bom tempo observando, pois o trânsito não andava. Foi triste ver o rapaz e triste ver que ninguém conseguia enxerga-lo ali...
Tatiane, as pessoas aprendem a ficar no seu espaço e a ignorar o resto nas cidades grandes. Coisa triste mesmo.
Karen, estas suas experiências em ônibus e terminais ainda virará um livro!
Já vivi uma situação parecida, mas com outro cenário. Outro dia tinha deixado marido no mecânico para pegar o carro e a reserva da gasolina já estava estourada há tempos. Daí me dei conta que tinha esquecido a bolsa em casa. Estava em pleno rush da manhã, correndo o risco de pagar um mico forte no meio da rua, quando decidi entrar no primeiro posto. Abri um sorrisão e expliquei o sufoco. A moça ajudou com 10 reais e disse que isto já havia acontecido com ela... Não senti vergonha.
Adorei o texto, lindo e acho que deveria escrever mesmo um livro com todas as suas experiências!
Agora essa estória do oriental é bem estranha mesmo. Geralmente oriental passa a imagem de honesto mas ultimamente tenho visto muitas exceções por aí.
Aconteceu comigo algo do tipo quando ainda era menina. Estava com o dinheiro da passagem de ônibus da volta da escola contadinho. Estava sentada antes de passar na catraca. Mexi no bolso e não vi que caiu uma moeda. Estava chegando o ponto de casa quando fui passar na catraca. Coloquei as moedinhas que tinha no bolso e estava faltando uma. Fiquei em pânico!!! No desespero, perguntei para o cobrador se podia pagar depois, já que o ponto final era no ponto seguinte ao meu. O cobrador me deu um olhar bem sacana e disse tudo bem. Mas um "tudo bem" arrastado, bem malicioso. Me deu nojo na hora! Aí virei para o banco onde estava sentada e lá estava a moeda que faltava. Peguei correndo, paguei e desci feito doida aliviada por não dever nada para o cobrador tarado. Pior é que depois disso sempre tinha que ver quem era o cobrador para entrar no ônibus! Hoje acho engraçado mas naquele tempo parecia um filme de terror ficar vendo o ônibus se afastar com o cobrador me olhando pela janela com o mesmo olhar sacana.
Sei que nunca mais andei com dinheiro contadinho, sempre com alguns trocadinhos a mais! rsss
Lílian, acho que tudo depende do contexto e das pessoas envolvidas. Eu não teria problemas em dar o dinheiro, mas fiquei com uma sensação estranha enquanto ouvia o cara falar, vai ver que eu é que sou muito desconfiada... :)
Akemi,não é estranha? Quem é que vem do Japão só com o cartão de um banco que acabou faz uns dez anos? Bem, acho que nunca saberei que fim o homem teve.
Eu também já vivi algo parecido. Pegava o ônibus para ir para a escola usando passes, um dia subi no ônibus e coloquei o passe sobre o caixa do cobrador, mas a porta estava aberta e não sei como ele saiu voando por ela, o ônibus já estava em movimento e eu comecei a procurar algum dinheiro para pagar a viagem, mas o cobrador pediu que eu passasse e não aceitou que eu pagasse. Foi muito gentil da parte dele. Uma atitude bem diferente daquela do seu cobrador.
interessante o evento. excelente seu texto.
abraco e bom domingo. ah, bom final de sabado tambem pra voce.
pra mim ja quase 7 da noite. :-)
vou ali num, vou beber shandy (limonada com gas (sprite) misturada com cerveja).
Kalina, obrigada, e bom domingo para você!
Essa bebida é engraçada, é gostosa? Nunca pensei em um drink feito com refri e cerveja.
Karen, shandy eh legal. eu conheci essa bebida agora na suica. la eles chamam panache. na suica as medidas sao diferentes, mais de uma bebida que a outra. aqui parece ser mais perto de mesma medida. eu gosto, mas na suica era mais gostoso. vou tentar mais.
Kalina, fiquei com vontade de provar. É tão diferente!
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