31.5.11

Pavê de coco


Mais uma receita que retirei de uma Claudia cozinha da qual vou me desfazer. Achei a apresentação do pavê interessante, parece um bolo. É gostoso, O. adorou (ele comeria até uma tábua se estivesse escrito "coco"), mas achei que o creme poderia ser um pouco mais leve.  Reduzi o açúcar do creme porque o biscoito já era coberto com açúcar e adocei um pouco o chantilly.




Pavê de coco

2 x de leite de coco (2 garrafas de 200ml)
3/4 x de água
1/4 x de vinho branco de sobremesa (ou um licor)
6 c sopa de açúcar (usei 4 c sopa)
5 c sopa rasas de maisena
4 gemas ligeiramente batidas (passei pela peneira para reduzir o odor de ovo)
2 pacotes de biscoito champagne (usei 1 pacote e meio de 180g)

1 pacote de coco em flocos (usei adoçado)
1 x creme de leite fresco

Forre uma forma de bolo inglês (aproximadamente 10x25cm) com papel alumínio. Reserve.

Numa panela, misture o leite de coco, o açúcar e a maisena (dissolvi a maisena em um pouco de leite antes). Leve ao fogo médio, mexendo, até ferver. Tire do fogo, junte as gemas e misture bem. Volte ao fogo baixo, sem parar de mexer, até engrossar. Tire do fogo e deixe esfriar.

Molhe rapidamente os biscoitos no vinho misturado com a água e forre o fundo da forma. Por cima, coloque uma camada de creme e, em seguida, outra camada de biscoitos molhados. Repita a operação, terminando com uma camada de biscoitos. Cubra com filme plástico e leve para gelar por no mínimo seis horas.

Desenforme o pavê sobre um prato e retire o papel-alumínio. Na batedeira, bata o creme de leite até obter picos firmes. Cubra o pavê com o creme de leite batido e polvilhe com o coco em flocos.

27.5.11

Casquinha de vieira



Esta é uma receita que sempre faz sucesso quando a preparo. Ela é muito requintada e  gostosa, mas também é trabalhosa, meio cara e gorda. Como a vieira não é fácil de encontrar e custa um bocado, compro uma bandejinha congelada e compenso a quantidade que falta com o peixe e o camarão. Na verdade, trata-se de um gratinado de frutos do mar, se não quiser/puder usar as casquinhas, você pode servi-las em ramequins pequenos. Dá uma entrada ótima, quem come diz que poderia ser o prato principal, e eu concordo. Boa ideia para impressionar namorado/a em junho...

Tirei a receita de uma revista Claudia antiga.  Está escrito que ela rende 10 porções, mas sempre obtenho mais. Se quiser torná-la mais "magra", você pode substituir um pouco do creme de leite do molho branco por leite. Não usei pimentão desta vez.



Casquinha de vieira

1 kg de carne de vieira limpa e escorrida
250g de filé de pescada cortado em pedaços pequenos
250g de camarão limpo
1 x de vinho branco
3 c chá de sal
1/2 x de azeite
farinha de rosca para polvilhar

Misture os frutos do mar, tempere com sal e adicione o vinho branco. Deixe descansar enquanto prepara o molho branco. Depois disso, escorra e frite essa mistura em uma panela com o azeite. Escorra em papel-toalha.


Molho branco

6 c sopa de manteiga
2 cebolas médias picadas
1/2 x de farinha de trigo
2 x de creme de leite fresco

Derreta a manteiga e doure as cebolas. Adicione a farinha mexendo sempre. Junte o creme de leite e misture bem. Reduza a temperatura e deixe cozinhar, ainda mexendo, por 10 minutos. Reserve e prepare o refogado de cogumelos. (O molho é bem espesso, adicione leite durante o cozimento se desejar que ele fique mais ralo ou renda mais).


Refogado de cogumelos

2 c sopa de manteiga
15 cogumelos cortados ao meio
1 pimentão verde picado
2 c sopa de molho inglês
2 x de parmesão ralado

Derreta a manteiga e refogue os cogumelos e o pimentão até que este fique macio. Adicione essa mistura ao molho branco junto com o molho inglês e o parmesão. Misture bem.


Montagem:

Distribua metade da mistura de molho branco com cogumelos entre as casquinhas, coloque porções do refogado de peixe e termine cobrindo com o molho branco. Polvilhe com farinha de rosca e leve ao forno para gratinar por cerca de 10 minutos.


25.5.11

Biscoito de tahine com sementes de girassol




Biscoito improvisado para usar um resto de tahine e de sementes de girassol que não viraram pão. Gostei bastante, eles ficam bem crocantes. (Duros, segundo as más línguas locais, mas não se deixem influenciar!).



Biscoito de tahine com sementes de girassol

(cerca de 20 unidades)

2 c sopa bem cheias de tahine
2 c sopa de manteiga à temperatura ambiente 
1 x de farinha
1/3 x de açúcar
1/2 c chá fermento
1/2x de sementes de girassol (usei aquele já salgado)
1 pitada de sal (caso as sementes não contenham sal)
2 c sopa de sementes de gergelim claro
cerca de 60ml de leite

Misture o tahine, a manteiga, o açúcar, o fermento, o sal e a farinha com os dedos para obter um tipo de farofa grosseira. Junte as sementes e adicione o leite aos poucos, mexendo com uma colher até que adquira uma consistência boa para trabalhar com as mãos e formar uma bola. Role-a sobre uma superfície enfarinha formando um tronco de cerca de 10 cm de diâmetro e corte os biscoitos com uma faca. Dê uma achatada com a palma da mão em cada um deles e coloque-os em uma assadeira. Leve ao forno até que dourem.

Pergunte ao pó - John Fante


Trouxe este livro para dentro de casa na última limpeza das estantes da edícula. A Madoka, uma leitora do blog, comentou que gostava do John Fante (1909-1983) e fiquei curiosa em ler algo dele.

Pergunte ao pó narra o início da carreira de escritor de Arturo Bandini, um rapaz de vinte anos que sai do Colorado e vai para Los Angeles sozinho, aluga um quarto e espera que a sorte lhe sorria. Bandini passa seu tempo andando pela cidade, martelando as teclas de sua máquina de escrever e contando os tostões que possui no bolso. Quando ele recebe dinheiro de sua mãe ou quando um editor paga por um conto, ele gasta como se não houvesse amanhã. Sua vida financeira tem seus altos e baixos, assim como sua vida afetiva. Ele é impulsivo e às vezes até bastante arrogante e desagradável, mas depois se arrepende e é capaz de atos bastante generosos.

Em suas voltas pela cidade, Bandini conhece Camilla, uma garçonete de origem mexicana pela qual ele se apaixona, o relacionamento dos dois é turbulento e ambos vivem ferindo um ao outro. Camilla é apaixonada por um barman que a destrata sempre e o triângulo está feito.

É um livro bem escrito, uma história simples. Bandini é um personagem interessante, um alter ego do próprio autor que aparece em outras obras. Boa introdução para John Fante. Ele também criava roteiros para cinema (sim, houve uma época em que escritores faziam isso, bons tempos!) e vários diálogos e cenas me lembraram alguns filmes americanos.


Eis um pequeno trecho:

"Ficamos deitados ali. Ela me provocava com seu escárnio, com o beijo que ela me deu, a curva de seus lábios, a zombaria de seus olhos, até que eu me tornasse um homem de madeira e não houvesse nenhum sentimento dentro de mim a não ser o terror e o receio dela, a impressão de que sua beleza era demasiada, de que ela era muito mais atraente do que eu, com raízes mais profundas do que eu. Ela me tornava um estranho para mim mesmo, ela era todas aquelas noites calmas e os altos eucaliptos, as estrelas do deserto, a terra e o céu, aquela neblina do lado de fora, e eu tivesse chegado ali sem propósito a não ser o de me tornar um mero escritor, ganhar dinheiro, fazer um nome para mim mesmo e toda aquela baboseira. Ela melhor do que eu, tão  mais honesta, que estava cansado de mim mesmo e não poderia fitar seus olhos acolhedores, reprimi o estremecimento provocado por seus ombros morenos ao redor de meu pescoço e os longos dedos em meus cabelos."


23.5.11

Quiabo à moda indiana


Quiabo é algo que não tem muito ibope aqui em casa, mas sempre compro quando ele começa a ser vendido no site de orgânicos. Gostei desta receita, ela é bem simples e rápida. Fiz com óleo de canola no lugar da manteiga, mas coloquei pouco e quase queimei tudo, a manteiga dá mais untuosidade, acho que teria sido uma opção melhor, mas ficou gostoso.





Quiabo à moda indiana

3 c sopa de manteiga
1 cebola média picada
450 g de quiabo fatiado
1/2 c chá de cominho moído
1/2 c chá de gengibre em pó
1/2 c chá de sementes de coentro moído
1/4 c chá de pimenta do reino
sal a gosto

Derreta a manteiga, adicione a cebola e refogue até que ela fique macia. Adicione o quiabo e os temperos. Cozinhe mexendo por alguns minutos, reduza a temperatura e tampe a panela. Deixe cozinhar por cerca de 20 minutos ou até que o quiabo fique macio. (Fique de olho, pois dependendo do tipo da panela e da chama do fogão, isso pode levar menos tempo).

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22.5.11

Dentro da clínica

Outro dia esperava uma consulta no oftalmo quando a moça da recepção chamou um paciente. Era um senhor de certa idade acompanhado por uma mulher que deveria ser sua filha. Ele tinha visíveis problemas de locomoção e a recepcionista se aproximou e perguntou para a mulher: "Ele sobe escadas?". A maneira como ela fez essa pergunta me incomodou. Ela foi dirigida à acompanhante do paciente, como se o senhor, além do problema de locomoção, também fosse incapaz de responder por si mesmo. Os consultórios dos médicos ficam no segundo andar e quem não pode subir as escadas tem a opção de usar um elevador, acho que a recepcionista poderia ter feito a pergunta diretamente ao paciente de um modo mais delicado, "O senhor consegue subir as escadas?", por exemplo, ou encaminhá-lo diretamente ao elevador com um "Por aqui, por favor". "Ele sobe escadas?"  parece algo que uma pessoa perguntaria para a dona de um cãozinho. 

Envelhecer certamente não é uma das coisas mais agradáveis. O corpo entra em declínio, mas isso não quer dizer que a pessoa não possa ao menos ser ouvida. Ela trabalhou, pagou suas contas, zelou por outras pessoas, como dizem, teve seu quinhão de alegrias e tristezas, só isso já deveria contar algo.

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17.5.11

Hana


 Hana (Flores) é um filme japonês sobre mulheres. Sobre as escolhas e conflitos que ser mulher engendra: ter filhos, casar, seguir uma carreira, os dilemas de cada escolha. Ele acompanha as histórias de diferentes mulheres de várias gerações de uma mesma família dos anos trinta até o presente. 

Passamos de uma jovem que se rebela contra a ideia de um casamento arranjado por seu pai para uma pianista em declínio de carreira que precisa decidir se terá um filho apesar de ter sido abandonada pelo namorado. Vemos uma jovem dos anos 60 que deseja ser independente, mas também amada, e a irmã que tenta lidar com a perda do marido em um acidente.

Li que as mulheres são todas da mesma família, mas o filme faz cortes de uma história para outra e, se você não prestar alguma atenção, fica meio complicado fazer todas as ligações.

Gostei do fato do diretor ter trabalhado as imagens, as cenas dos anos trinta são em preto e branco, como nos filmes antigos, e as dos anos 60-70 tem aquele tom das fotos tiradas na época. 

É um filme simples, sem uma mensagem revolucionária, mas bonito.


15.5.11

O livro das fugas - J.M.G. Le Clézio


 
O livro das fugas acompanha um personagem chamado Jeune Homme Hogan  em suas peregrinações pelo mundo. Entre um capítulo e outro, há reflexões do próprio autor sobre o ato de escrever e sobre aquilo que lhe vem à mente. Li que este é um livro de uma fase mais experimental do escritor francês e ganhador do Nobel de 2008, Le Clézio. Há um sentimento de revolta no texto, a escrita tem um ritmo rápido. Enquanto lia, fiquei imaginando o escritor com a caneta correndo sobre o papel, perseguindo impressões e imagens à medida que elas surgiam.

J.H. Hogan é aquele que observa e também aquele que foge, não fica muito claro do quê.  Em busca de si mesmo, ou de si mesmo, ou da insignificância de tudo, difícil dizer. Ele também é o oposto do turista e, talvez por essa razão, seja um verdadeiro viajante. Ele não descreve hotéis e paisagens, descreve cenas cotidianas e também chocantes: um espetáculo no sudesde asiático onde uma mulher gorda é violada por um grande cão, um homem que acerta os carros com uma barra de ferro quando eles passam pela rua e termina morto por um motorista raivoso, uma cidade mexicana onde todos ficaram cegos após serem infectados por um parasita.

O livro deixa uma sensação de náusea, de falta de sentido das coisas. As pessoas e os lugares são mostrados em toda a sua banalidade e feiura.


Traduzi alguns trechos:


"Queria fugir indo para além de mim mesmo. Queria ir a países onde não se fala, onde seriam os cães que escreveriam romances e não os homens de óculos. Queria conhecer os países onde as estradas se extinguem sozinhas, onde o mundo seria maior que o pensamento, paises absolutamente novos, terras de dúvida, onde se poderia morrer sem sentir vergonha, sem que ninguém se desse conta. Queria lugares onde o incêndio arde dia e noite durante anos, onde a maré sobe sem jamais descer, onde os lagos se esvaziam como grandes lavabos."


"Acreditava que para conhecer um deserto bastava ter estado em um. Acreditava que, por ter visto os cães morrerem sobre a estrada de Cholula ou por ter visto os olhos dos leprosos de Xieng-Mai, teria o direito de falar sobre eles. Ter visto! Ter esta lá! E daí? O mundo não é um livro, ele não prova nada. Ele não oferece nada. Os espaços atravessados eram corredores obscuros com portas fechadas. Os rostos das mulheres nos quais se mergulhou por acaso dizem algo a alguém além delas mesmas? As cidades dos homens são secretas. Caminha-se ao longo de suas ruas, elas brilham sob os pés, mas não se está lá, nunca se entra lá dentro."


14.5.11

Acelga com alho, óleo e molho de soja


Comi uma salada muito gostosa feita com acelga em um self-service de comida oriental. A acelga praticamente ficava imersa em um molho com muito alho, shoyu, óleo e algo ácido, não tenho certeza se limão ou vinagre balsâmico. Testei primeiro com limão, piquei metade de uma acelga cortada em tiras meio grossas, refoguei bastante alho picado em óleo de canola e despejei essa mistura ainda quente sobre a acelga, adicionei shoyu e suco de meio limão. Ficou bom, mas ontem fiz com vinagre balsâmico e ficou muito melhor. A cor também ficou mais escura. (A foto é da versão com suco de limão).

Nota: a acelga vai soltando líquido e isso dilui o tempero com o passar do tempo, dá para comer de um dia para o outro ou preparar bastante no almoço e fazer um repeteco no jantar, mas aí o tempero não pode ser muito fraco.



11.5.11

Shimeji na manteiga


O shimeji fica muito bom preparado assim, só reduzo a manteiga para uma colher de sopa e não uso as medidas exatas, elas servem mais como referência, quase sempre faço a olho.

Adaptada daqui.



Shimeji na manteiga


250 gr de shimeji
2 colher(es) (sopa) de manteiga
4 colher(es) (sopa) de shoyu (ou a gosto)
4 colher(es) (sopa) de saquê


Lave o shimeji e divida os tufos.

Numa panela, derreta a manteiga e acrescente o shimeji mexendo sempre, por aproximadamente 8 minutos em fogo baixo, ou até o shimeji soltar um pouco de água.

Acrescente o shoyu, sempre mexendo por mais uns 2 minutos e logo após o sakê e deixe por mais uns 2 minutos. É importante que o shimeji mantenha um pouco da sua textura, não deixe cozinhar demasiadamente.


9.5.11

Costela de porco no forno


Primeira vez que preparo costelinhas de porco em casa. (É, eu sei, muito porco por aqui). Ficaram muito boas, bem macias, adocicadas e picantes. (Adoro essa última palavra).


Costela de porco no forno

2 kg de costela de porco (as costelas que usei já estavam divididas, não era um peça inteira)
3/4 x de açúcar demerara (ou mascavo)
1 c chá de sal
1 c sopa de páprica
1 c sopa de alho em flocos
1/2 c chá de pimenta calabresa (opcional)
2 x de molho barbecue de sua preferência (usei ketchup, mas reduzi um pouco a quantidade)


Preaqueça o forno à 150C. 

Retire a membrana que cobre o lado "ossudo" da costela.

Misture o açúcar e demais ingredientes. Envolva a carne nesse molho. Enrole em duas folhas de papel alúmio e asse por cerca de 2-2 1/2h, ou até que a carne comece a encolher.

Retire do papel alumínio e deixe dourar um pouco mais pincelando com o molho. (Use um broiler, se tiver).

8.5.11

Universidade do riso


Este é um dos melhores filmes japoneses que vi nos últimos tempos. Universidade do riso originalmente  era uma peça teatral escrita por Koki Mitani, que também escreveu o roteiro de Bem-vindo, Sr. Macdonald (ótimo, aliás). Ele se passa durante a segunda guerra e traz um escritor de comédia que tenta obter a aprovação de um censor para a peça que escreveu. O censor, um homem sério e com pouco senso de humor, exige que o escritor faça diversas alterações no texto,  mas o escritor não desiste, faz as alterações e volta para a sala do censor, isso se repete durante vários dias e, pouco a pouco, o censor começa a se envolver com o texto e a ser transformado por ele. 

Há um pouco de humor e também de gravidade, afinal, o Japão está em guerra. Os dois atores precisam ser muito bons para segurar o filme, e são, especialmente Koji Yakusho, que interpreta  o censor. Os enquadramentos e a iluminação são perfeitos.

Recomendado.


5.5.11

Universo paralelo viii

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Às vezes as pessoas acordam com um medo irracional no meio da noite na cidade X. Medo de coisas que não aconteceram, mas poderiam ter acontecido ou poderão acontecer. Medo de que algo se abata sobre elas quando menos esperam. Um tipo de pânico que demora para se desfazer e quase sempre é desencadeado por um sonho. É preciso deixar que essa impressão se dissolva no quarto escuro e esperar que os sons familiares devolvam o sentimento de segurança, mesmo quando falso.


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4.5.11

Filé de frango marinado com shoyu e açúcar mascavo



Receita da Letrícia. Os filezinhos de frango ficam uma delícia com esta marinada. Recomendo. É a segunda vez que faço a receita e costumo preparar cerca de metade da marinada para a mesma quantidade de carne. Adiciono a cebola pouco antes da carne terminar de fritar e coloco um pouco da marinada caso comece a secar.


Filé de frango marinado com shoyu e açúcar mascavo


1 kg de filezinho de frango tipo sassami

Para a marinada:
1/2 xícara de óleo
1/2 xícara de shoyu
2 colheres (sopa) de açúcar mascavo
2 colheres (sopa) de saquê (opcional)
1 colher (sopa) de alho desidratado granulado (pode usar um dente de alho picadinho)


Misture os ingredientes da marinada em uma tigelinha e despeje-os em um saco plástico para congelamento. Coloque dentro os filezinhos de frango, misture bem para que todos os pedaços fiquem cobertos e leve à geladeira por, pelo menos, 20 minutos (ou algumas horas).

Passado esse período, pode preparar os filés. Retire uma porção do saco plástico e leve-a ao fogo médio em uma frigideira grande, previamente aquecida (se quiser, pode usar um fiozinho de azeite, mas não é necessário pois a marinada já contém óleo). Cuidado para não se empolgar e colocar filés demais - eles soltarão muito líquido e cozerão, em vez de grelhar. Deixe-os quietinhos por uns 8 minutos, mais ou menos, e depois vire-os e deixe por mais uns 5 minutos.

Repita a operação até que todo o frango esteja pronto (se sentir necessidade, limpe a frigideira com papel toalha entre um grupo de filés e outro).

Em vez de descartar a marinada, faça o seguinte: despeje-a na frigideira onde você preparou o frango, adicione 3 cebolas médias cortadas em meias-luas e leve ao fogo até que elas murchem. Fica bom demais.


3.5.11

Os detetives selvagens - Roberto Bolaño


Um grande livro. Realmente um grande livro. Foi ele que tornou o escritor chileno Roberto Bolaño mundialmente conhecido. E pensar que o deixei encostado por um bom tempo antes de respirar fundo e retomá-lo! Foi o O. quem o leu primeiro e disse que valia a pena. Também foi ele quem o comprou em uma tradução inglesa. Preferia tê-lo lido no original espanhol, mas não tive muita opção.

O livro conta a história (*) de um grupo de jovens com aspirações literárias que se autodenomina "realista visceral" e a busca de seus dois fundadores, Ulissses Lima e Arturo Belano, por uma poeta misteriosa, Cesárea Tinajero, que teria dado origem ao primeiro movimento "Realista Visceral". Lima e Belano, um alter ego do próprio Bolaño, não tomam diretamente a palavra, mas aparecem nas narrativas, praticamente entradas de diários, de seus conhecidos, amigos, amantes, ou mesmo de pessoas com as quais cruzam em suas andanças pelo México, Europa, Israel e África. O que sabemos sobre os dois é o que esses narradores nos contam, resta-nos juntar as peças  e tentar traçar o caminho percorrido por eles.

O primeiro narrador é Garcia Madero, um jovem de dezessete anos que acaba de entrar na faculdade de direito, conhece os "realista vicerais" e termina passando mais tempo escrevendo poemas em bares do que estudando. Lima e Belano são introduzidos por ele pela primeira vez. Depois as aventuras dos dois personagens - heróis ou bandidos, vagabundos ou espíritos livres, é impossível defini-los -  são retomadas por outras pessoas. Garcia Madero retorna na última parte do livro e, então, ficamos sabendo que fim teve a busca por Cesárea, deixada no ar na primeira parte da obra.

A violência, a miséria e a boêmia da cidade do México se imiscuem na vida dos personagens.  No fim, Belano, o chileno, imigra para a Espanha e se dedica à literatura, tem empregos medíocres e escreve durante à noite. Lima se perde nos bairros obscuros da cidade do México até desaparecer. 

Por alguma razão que não consigo explicar, levei um bom tempo até terminar a parte narrada por Garcia Madero, mas depois a leitura fluiu rápido. Gostei muito das partes narradas por mulheres. As personagens femininas do Bolaño são muito reais. Na verdade, o livro todo é muito real, cheio de vida e tudo o que ela implica. 

Sei que é arriscado traduzir um trecho de um livro já traduzido uma vez de um língua tão próxima da nossa, mas aqui vai, é uma das narrativas de que gostei, o momento em que Belano aparece em uma cidade litorânea do sul da França:

"As pessoas que se sentavam à minha mesa eram pescadores, profissionais e amadores, e muitos jovens como eu, garotos da cidade, fauna de verão, estacionados em Port-Vendres até segunda ordem. Certa noite uma garota chamada Marguerite, com quem eu desejava ir para a cama, começou a ler um poema de Robert Desnos. Eu não tinha a mínima ideia de quem era Robert Desnos, mas as outras pessoas da mesa sabiam, de qualquer forma, o poema era bom, era tocante. Estávamos sentados em uma mesa do lado de fora e as luzes brilhavam nas casas da cidade, mas não havia nem mesmo um gato nas ruas e tudo o que conseguíamos ouvir era o som de nossas vozes e um carro distante na estrada da estação, estávamos sozinhos, ou pensávamos que estávamos, não tínhamos visto (ou ao menos eu não tinha) o sujeito sentado na mesa mais afastada. Depois que Marguerite terminou de ler o poema de Desnos para nós - naquele momento de silêncio depois que você ouve algo realmente bonito, o tipo de momento que pode durar um segundo ou dois, ou sua vida inteira,  porque há sempre algo para cada pessoa neste mundo cruel - o sujeito do outro lado do café se levantou e se aproximou, ele pediu que Marguerite lesse outro poema. Em seguida perguntou se podia se juntar a nós, claro, respondemos, por que não? Ele foi buscar o café na mesa e emergiu da escuridão (porque Raul está sempre economizando eletricidade) e sentou-se conosco. Ele começou a beber vinho como nós, pagando algumas rodadas, embora não parecessse ter dinheiro, mas estávamos todos quebrados, que podíamos fazer? Deixamos que ele pagasse."

Este outro trecho é sobre o reencontro de um dos narradores com Ulisses Lima, após uma longa ausência deste último:

"Um dia perguntei onde ele esteve. Ele me disse que viajou ao longo de um rio que liga o México à América Central. Até onde eu saiba, esse rio não existe. Mas ele me disse que viajou ao longo desse rio e que agora podia dizer que conhecia suas voltas e afluentes. Um rio de árvores ou um rio de areia, ou um rio de árvores que se transformava em um rio de areia em alguns trechos. Um fluxo constante de pessoas sem trabalho, pobres e famintos, drogas e sofrimento. Um rio de nuvens que ele navegou por doze meses, onde encontrou inúmeras ilhas e postos de fronteira, embora nem todas as ilhas fossem habitadas,  de vez em quando ele pensava em ficar e viver em uma delas para sempre ou que ele poderia morrer ali.
De todas aquelas ilhas visitadas, duas se destacavam. A ilha do passado, disse ele, onde o único tempo era o tempo passado e os habitantes estavam entediados e mais ou menos felizes, mas onde o peso das ilusões era tão grande que a cada dia a ilha afundava um pouco mais no rio. E a ilha do futuro, onde o único tempo era o futuro e os habitantes eram planejadores e batalhadores, batalhadores, disse Ulisses, que acabariam por se devorar uns aos outros."


(*) Não costumo fazer a distinção entre "história" e "estória", acho que "estória" tira o mérito de narrativas que, para mim, são tão reais quanto aquelas que são chamadas de "história".