6.7.12

A estudante e Good bye de Osamu Dazai


Continuo fascinada pelos textos de Osamu Dazai, ele tem um japonês até simples, mas com uma fluência narrativa e descrições muito comoventes. Li Haruki Murakami em japonês e achei que os tradutores dele para o inglês são muito fiéis ao seu estilo "cool" de escrever, o que é natural, pois uma vez li que ele tem uma relação muito próxima com seus editores nessa língua. No entanto, tenho um pouco de medo de ler as traduções dos livros de Dazai, li duas em inglês antes de começar a me dedicar aos textos originais, mas foi depois do japonês que realmente fui fisgada por seu estilo. (Mas devo confessar que os tradutores para o inglês costumam ser excelentes).

"A estudante" (女生徒) e "Good Bye" ( グッド バイ) podem ser chamados de contos longos ou romances curtos. No primeiro texto, acompanhamos um dia na vida de uma adolescente. Ficamos sabendo que seu pai morreu recentemente e que ela sente sua falta, que sua irmã mais velha se casou e foi morar em uma província afastada e também que ela se acha estranha, esquisita, mal-comportada e acredita que desaponta a sua mãe por isso. Como ocorre com qualquer adolescente, seus sentimentos vão de um extremo a outro em questão de minutos. Uma hora ela está contente e logo depois fica com vontade de chorar e ferir alguém. Texto ágil, simples e bonito sobre a adolescência.

Brinquei de traduzir o começo:

"Manhã. A sensação que tenho ao abrir os olhos é curiosa. Como quando brinco de esconde-esconde e fico agachada em completo silêncio dentro do guarda-roupa escuro, de repente, Deko abre totalmente a divisória, os raios de sol entram abruptamente e ela grita "Achei!". A luminosidade, um mal-estar momentâneo, a palpitação no peito, ajeito a frente do quimono e saio do guarda-roupa um pouco embaraçada, de repente, fico irritada, nervosa. É essa sensação. Não, não é essa sensação, é mais intolerável. Como quando se abre uma caixa e há uma outra caixa menor em seu interior e quando esta é aberta, ainda há outra caixa menor ali dentro, essa caixa então é aberta e descobre-se mais uma caixa, e outra, e outra, e mais outra. Então, após abrir sete, oito caixas, finalmente há uma caixa do tamanho de um dado e quando ela é cuidadosamente aberta, não há nada ali dentro, vazia. É essa sensação, ou algo bem próximo. Abrir os olhos e estar completamente desperta, isso é mentira. Turvo, o amido lentamente desce e se deposita no fundo, aos poucos ocorre a decantação e meus olhos cansados se abrem. A manhã é, de certa forma, falsa. Muitas, muitas coisas tristes pairam em meu peito, é insuportável. Odeio isso. Odeio isso. Sou horrorosa de manhã. Minhas pernas estão exaustas e já não sinto vontade de fazer mais nada. Pode ser porque não durmo direito. Dizer que a manhã é saudável, isso é mentira. A manhã é cinza. Sempre, sempre a mesma. A parte do dia mais vazia. Sempre sou pessimista de manhã enquanto estou debaixo das cobertas. É detestável. Vários arrependimentos horríveis se amontoam de uma só vez, apertam meu peito e acabo me contorcendo".

"Good bye" é uma obra incompleta, infelizmente, pois começa de forma muito interessante. Um homem na casa dos trinta anos decide mudar de vida, chamar esposa e filha para viverem com ele em Tóquio, parar de trabalhar com contrabando e ser uma pessoa correta, mas, para isso, primeiro deve dar um jeito de terminar o relacionamento que mantém com várias mulheres. Um conhecido sugere que ele encontre uma mulher estonteamente bonita e desfile com ela diante de suas amantes para que elas cheguem à conclusão de que não têm nenhuma chance com ele. Seu grande problema é encontrar a mulher ideal para desempenhar esse papel. Ele a procura em todos os lugares possíveis sem sucesso, está quase desistindo quando ouve alguém com uma voz de corvo gritar seu nome. É uma mulher que também trabalha no mercado negro. Ele sempre a achou extremamente vulgar e mal-vestida. No entanto, naquela noite ela usava roupas ocidentais e estava belíssima. Era a mulher que procurava. Ele explica sua situação e diz que está disposto a pagar para que ela o acompanhe em suas visitas às amantes. Ela aceita a proposta. Ele estabelece duas condições: que ela se mantenha calada nessas ocasiões e não coma nada, pois sua voz e seus modos à mesa são terríveis. Seu plano é um sucesso, mas sua "beldade" sempre dá um jeito de gastar seu dinheiro e de irritá-lo, ele a acha tão insuportável que passa a nutrir um grande rancor por ela. Sua ideia é dar-lhe uma lição, humilhá-la. O texto acaba aí com a morte de Dazai.

9 comentários:

banzai disse...

Brincou e nós nos deliciamos com os textos, arigatÔ em compartilhar. Gostei tanto de ``A estudante``, gostaria de poder ler em português, rs... Seja a tradutora :))),rs.
madoka

Karen disse...

Obrigada, bem que gostaria de traduzi-lo, mas ando sem tempo... O texto não é tão longo e o japonês é mais coloquial, quem sabe você não se anima a ler? ;)

banzai disse...

:) ah Karen, preciso estudar mais alguns longos anos pra conseguir ler, mesmo sendo mais coloquial. Estou me preparando pra prestar o Noryokushiken em dezembro, estou na dúvida se é o N4 ou 3, rs... pra vc ver o nível da pessoa né?
madoka

Karen disse...

Madoka, japonês é estudo para uma vida, não é mesmo? Minha primeira prova foi para o N4, uns dez anos atrás. Ainda tem tanta coisa que peno para entender... rs

Gambarimashyo!

Anônimo disse...

Olá karen . "A estudante" parece interessante . vou ler. eu li o Ningen Shikkaku- No Longer Human em inglês. Gostaria de ler o original mas meu japonês anda bem enferrujado! comecei a ler o kafka no kobito do murakami e a leitura ta bem estagnada. O osamu é mais yasashii do que o haruki ? òtmimo final de semana pra vocÊ . Adoro seu blog.
Lina

Karen disse...

Oi, Lina! Também li esse livro do Dazai em inglês. O japonês dele não é tão complicado, alguns kanjis às vezes estão com a ortografia anterior à reforma que ocorreu mais tarde, mas é só procurar no dicionário e lembrar quando a palavra voltar a aparecer. Do Murakami, só li 1Q84 em japonês, o resto foi em inglês mesmo. É um japonês mais próximo do falado.

Aprender línguas é assim mesmo, ao menos para mim, aos poucos, uma palavra por vez... rs

Obrigada pela visita!

Anônimo disse...

Olá Karen,
O amazon me entregou o "schoolgirls"hoje. vou começar à ler .Obrigada pela indicação . :)
Corrigindo o meu comentário acima, eu quis dizer "spuinik no koibito" e não "kafka no koibito" . :P
Ótima noite,
Lina.

Anônimo disse...

"sputnik"

Karen disse...

Oi, Lina! Espero que goste! E não se preocupe, eu entendo de "lapsos". rs