Fazia algum tempo que pensávamos em ir para algum lugar onde pudéssemos comer peixe fresco e frutos do mar até enjoar. Foi assim que acabamos no litoral capixaba. Mais precisamente em Guarapari, a cerca de 1h de Vitória. Ficamos em um pousada bem simples na Praia do Morro. Praia de área urbana com um calçadão, pequenos quiosques e boa infraestrutura para os banhistas. Um local agradável para famílias, mas achei um pouco cheio, vários ambulantes, meio "farofa". Ia cedo, dava uma volta, alugava uma cadeira por R$5,00 olhava o mar por alguns minutos, me molhava e ia embora depois de beber uma água de coco, aliás, muito boa e a bom preço (R$2,00).
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Praia do morro - ES |
No canto da praia há um parque e uma trilha curta que conduz até um mirante de onde é possível ter uma visão panorâmica da Praia do Morro, a trilha termina em uma praia mais isolada do outro lado. A entrada custa R$2,00.
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Vista da praia do Morro |
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O marlim, ponto de referência da praia do Morro |
A
pousada servia um bom café da manhã e os donos eram simpáticos, os quartos ofereciam o básico. Alguns micos habitavam o jardim e gostavam de passear pelas árvores e telhados. Eles parecem ser comuns por lá, também vi alguns na entrada da trilha da praia.
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Os micos da pousada, eles também podem ser vistos na trilha do Morro da Pescaria |
Passamos de carro por Vitória e Vila Velha para chegar a Guarapari, a rodovia até lá é duplicada e muito bem conservada. A velocidade máxima é de 80-60 km/h, mas ande a 90km/h e será atropelado pelos outros veículos.
Vitória é uma cidade bonita e moderna. Vila Velha não me pareceu tão atraente quanto a sua vizinha, mas tem uma orla arrumada. Usar o GPS para ir e voltar de Guarapari foi fácil, mas navegar por Guarapari era bem chato, várias ruas têm um nome no mapa e outro para entrega de correspondência e era necessário procurar quais os nomes registrados no aparelho para chegar ao destino correto. O trânsito na área urbana também é meio caótico, a rodovia vira parte da cidade e você faz algum contorcionismo para reencontrá-la. O GPS se perdia quando seguíamos pela rodovia do sol (ela margeia a costa e conduz a Meaípe e Anchieta) e as praias onde fomos almoçar tinham ruas que não eram localizadas por nosso aparelho. Íamos parando e perguntando.
Guarapari tem um quê de litoral paulista, uma cidade que cresceu se espalhando ao longo da rodovia. Perto de nossa pousada na Praia do Morro havia uma certa variedade de restaurantes e bares, mas a maioria dos lugares tinha uma preferência por música ao vivo que acabava nos fazendo desistir de entrar. E não era só no fim de semana, mas todas as noites até às 23-24h. Também cruzávamos com pessoas suspeitas e alguns "drogaditos" nas calçadas.
Fomos duas vezes jantar em
uma pizzaria chamada Paris que ficava a dois quarteirões da pousada. A melhor pizza que comi na vida. Engraçado, não é mesmo? Fui para comer frutos do mar e encontrei uma pizza que deixará saudades. Massa crocante e macia ao mesmo tempo.
A culinária capixaba é conhecida por suas moquecas, que se diferenciam das baianas por serem feitas da forma mais simples possível, sem leite de coco, azeite de dendê e pimenta. Ela invarialmente chega acompanhada de arroz, pirão e moqueca de banana à mesa. Aliás, banana da terra cozida ou frita é um acompanhameto frequente.
Nossa primeira investida gastronômica foi em Ubu, uma praia de Anchieta. Fomos até a
Moqueca do Garcia e o O. pediu lagosta grelhada, algo que ele estava morrendo de vontade de comer. Pedimos uma entrada de camarão frito que veio em uma cumbuca enorme. Percebemos nosso erro quando vimos o tamanho do prato de lagosta com os acompanhamentos serem colocados à nossa frente. Comemos o que conseguimos mandar para dentro depois de tanto camarão, mas a lagosta estava muito seca e sem graça. Tínhamos a ilusão de que ela iria para a grelha fresca, mas quando perguntei para a atendente, ela confirmou que ela tinha sido descongelada e grelhada. A moça se desculpou e admitiu que a lagosta às vezes ficava mesmo seca por ter sido congelada. Também descobrimos que dificilmente comeríamos o peixe recém-pescado com o qual tínhamos sonhado antes da viagem, pois todo mundo comprava o peixe já congelado. Não sabíamos que nossas expectativas seriam desfeitas por um freezer. Mas assim foi.
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Frente da Moqueca do Garcia em Ubu, Anchieta - ES |
A Moqueca do Garcia fica de frente para o mar. O vilarejo é sossegado e gostoso, minha segunda opção de lugar para ficar dentre aqueles que visitamos.
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Ainda em Ubu |
Não havia ninguém na praia na segunda-feira pela hora do almoço.
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Camarão frito da Moqueca do Garcia, não chegamos ao fundo |
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O prato de lagosta |
Já sem a ilusão do peixe fresquinho, nós nos dirigimos a Meaípe, a praia da moda de Guarapari, primeiro, entramos no
Gaeta e comemos uma moqueca de badejo com camarão. O prato com os acompanhamentos (moqueca de banana, arroz e pirão) alimentaria quatro pessoas como nós. Deixar tanta comida nas panelas me deprimia e tentei comer o máximo possível, mas ainda sobrou muito. Gosto de pedir pratos fartos quando estou perto de casa e posso sair com uma "quentinha", mas ali era difícil. Não sei o que fazem com os restos, mas gostaria de imaginar que eles têm um fim mais nobre do que o lixo.
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Moqueca de badejo e camarão com acompanhamento do Gaeta |
Dividimos uma torta de coco na sobremesa.
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Bolo de coco do Gaeta |
No
Cantinho do Curuca, resolvemos ser mais modestos, pedi uma casquinha e uma porção de bolinhos de bacalhau, enquanto o O. foi de peixe grelhado com legumes. A casquinha estava boa, os bolinhos tinham mais gosto de bolinho de peixe do que de bacalhau, mas estavam bons.
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Casquinha de siri e bolinhos de bacalhau do Cantinho do Curuca |
O prato de peixe grelhado que o O. tinha imaginado ser individual era grande e acabei comendo uma posta. Prato correto, sem nada demais.
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Badejo grelhado com legumes do Curuca |
A sobremesa era a torta de coco como no Gaeta, tínhamos direito a uma porção de cortesia. Gostei mais da torta do Curuca, a base era praticamente um pudim de coco enquanto a do Gaeta ficava entre um bolo em um pudim. Ambas as casas oferecem um pratinho com camarão frito de entrada, a do Curuca estava mais sequinha. Já sobre a moqueca deste último, não posso dizer nada.
Meaípe é dividida pela rodovia do sol, a parte mais próxima da praia tem a largura de uns dois quarteirões e é onde fica a maior parte dos restaurantes. Há alguns hotéis e pousadas também, mas não achei o lugar assim tão charmoso. Entramos no
hotel Gaeta e no
Hotel da Lea que ficava ao lado para ver os quartos com vista para o mar. O Gaeta está caidão, paredes com umidade e móveis que já viram dias melhores. O hotel da Lea é bem conservado e tem quartos espaçosos. Só é preciso ir quando não há shows no
Multiplace + que fica ao lado, o barulho e o movimento da casa de shows devem ser incômodos.
Antes da
visita à fábrica da Garoto, almoçamos no
Caranguejo do Assis, pedi uma casquinha de siri e um único caranguejo para provar. Acho que não repetirei a experiência. Tinha assitido a um video do youtube que ensinava a comer o bicho, mas dá muito trabalho, fiz muita sujeira e não consegui quebrar os pedaços com muita precisão. Enfim, muito esforço para pouca recompensa, não é algo que se aprenda do dia para a noite.
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Meu esforço para comer caranguejo no Caranguejo do Assis |
A casquinha estava muito salgada, consegui comer metade. O. dividiu o peixe assado que ele pediu comigo. Estaba bom, mas também salgado, o cozinheiro devia estar com a cabeça em outro lugar naquele dia. A banana e as batatas salvaram o prato.
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Peixe assado, banana cozida, arroz e batatas do Caranguejo do Assis |
A visita à fábrica da Garoto foi bem interessante, melhor do que tinha imaginado, não tanto pelo chocolate, mas pelo lado educativo e por ter a oportunidade de conhecer um pedaço da etapa de produção dos bombons. A visita é muito bem organizada, todos vestimos aventais e toucas e lavamos as mãos antes de entrar. Seguimos um guia e ouvimos suas explicações por fones de ouvido sem fio. Há uma parada na frente de um balcão de acrílico onde ficam uns 8 tipos de bombons e temos uns 10 minutos para comer quantos conseguirmos/quisermos. Comi dois, mas tinha gente que só parou quando voltamos a andar. No fim, ainda recebemos uma barrinha de batom de "brinde".
A fábrica faz chocolate em massa, uma verdadeira linha de produção que funciona 24h. Fiquei surpresa quando ouvi que os ovos de Páscoa começaram a ser feitos em junho ou julho do ano passado e que a produção acabou em janeiro.
Por fim, decidimos ir até Iriri, outra praia em Anchieta, e comemos no restaurante do hotel
Recanto da Pedra, como o nome deixa adivinhar, ele fica sobre algumas rochas. Um local gostoso de onde dá para observar a praia. Pedimos moqueca de camarão, ela veio com os acompanhamentos tradicionais. A quantidade não era pantagruélica como nos restaurantes mencionados acima, achamos ideal, os preços também eram bem mais suaves. Comida honesta.
Se tivesse que escolher um lugar para me hospedar em outra visita à região,
ficaria em Iriri. A praia está um pouco mais afastada da rodovia e a prefeitura investiu em uma avenida onde há lojinhas e cafés arrumados. A vila proprimamente dita é pequena, mas charmosa.
Não deve haver muito o que fazer fora de temporada, mas achei bom por
isso mesmo. Infelizmente, acabei não entrando para ver as instalações do hotel do restaurante, sua localização é muito boa.
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Moqueca de camarão do Recanto da Pedra |
No geral, senti falta de uma rede hoteleira mais apurada fora de Vitória e Vila Velha, achei que as
opções eram todas bem simples e os estabelecimentos maiores muitas vezes careciam
de manutenção.
A comida capixaba é saudável e bem roots, em relação às moquecas, confesso que a versão baiana ainda tem meu coração. Já a banana cozida como acompanhamento será adotada em casa. Como o estado têm produtores de camarão, é fácil encontrar o crustáceo em vários pratos, camarão frito é uma entrada muito popular. Um prato gostoso e barato servido em vários lugares é o peroá, o nosso conhecido "porquinho", ele é frito inteiro e chega crocante à mesa. Há mais chances de que ele seja realmente fresco do que os outros peixes e frutos do mar.
Fiquei imaginando por que os restaurantes não estabelecem algum tipo de acordo com os pescadores e compram o peixe fresco para fazer no dia. Não ligo em ter uma opção de pratos mais restrita, sem badejo e robalo, mas peixe com gosto de mar é algo que gostaria de comer quando passo férias no litoral.
Outra coisa que me deixava sem graça eram os sucos, poucos lugares serviam sucos de frutas frescas, só o suco de limão era garantido. E a oferta de vinho era sempre bem limitada, geralmente os rótulos de supermercado, no Curuca, vi alguns chilenos mais conhecidos e um Catena Malbec.
Devo reconhecer que o povo capixaba é muito simpático, ficava até sem graça em reclamar ou comentar algo nos restaurantes.
Foi uma boa visita de reconhecimento. Se voltasse, planejaria a viagem de forma diferente. Iria para uma praia pequena e mais distante da área urbana como Iriri e comeria em lugares mais simples, sem necessidade de grandes deslocamentos. Curuca e Gaeta, sempre mencionados nos guias turísticos, são boas experiências, mas os mesmos pratos são servidos em qualquer restaurante ou botecão e, até onde pude comprovar, com a mesma qualidade e simpatia.