Acabei de ler Blood, Bones and Butter, a autobiografia da chef Gabrielle Hamilton, proprietária de um restaurante badalado em New York, o Prune. Ela começa descrevendo as festas nas quais seu pai assava carneiros inteiros sobre brasas durante longas horas e os pratos que sua mãe, de origem francesa, preparava em sua infância. Mas o livro não é exatamente sobre comida, é sobre sua formação, sobre os caminhos que percorreu e forjaram seu caráter.
Seus pais se separam quando ela tem treze anos, cada um vai para um lado e ela e um dos irmãos mais novos se veem sozinhos. Ela passa por um período de deliquência, comete pequenos furtos, fuma, bebe e cheira carreiras de cocaína enquanto trabalha em vários restaurantes para se manter, faz de tudo um pouco: de garçonete à ajudante de cozinha.
O livro é meio lacônico em alguns pontos e Gabrielle escreve apenas sobre os momentos que considera relevantes sem dar explicações sobre porquês ou comos, sabemos que depois de uma adolescência difícil e um longo período de busca pessoal com direito a uma mochilagem quase sem dinheiro pela Europa e Ásia, ela passa uns dez anos trabalhando como freelancer em bufês que fornecem comida para festas e eventos até que se cansa dessa vida e decide fazer um curso de escrita criativa em uma universidade. Após ser admitida, ela logo percebe que a vida de "intelectual" não a satisfaz e que se identifica mais com o trabalho concreto, metódico e duro em uma cozinha.
Ela decide abrir um restaurante depois que um conhecido lhe mostra um imóvel para alugar, assim, em um gesto impulsivo, imaginando os pratos que desejaria servir e que refletiriam suas experiências gustativas. "Prune" acaba sendo um sucesso.
O livro segue ainda um pouco além da abertura do restaurante, Gabrielle descreve seu casamento sem amor e pouco gratificante com um médico italiano com quem tem dois filhos. Suas viagens anuais para ver a família do marido na Itália são os pontos altos do relacionamento que já está em frangalhos quando o livro termina.
Gabrielle não esconde seus ressentimentos, suas frustrações e seu temperamento difícil, mas ela é uma pessoa objetiva, direta e competente. Alguns leitores comentaram que, após o livro, respeitavam a Chef, mas não conseguiam respeitar a mulher que o escreveu, acho esse tipo de comentário injusto. Ela pode soar presunçosa, mas não doura nenhuma pílula ou tenta parecer adorável.
Eu me identifiquei com o fato de ela sentir aversão por frescuras culinárias. Concordo que mais do que falar sobre comida, devemos nos sentar e comê-la sem a necessidade de erguer alguma bandeira ou usá-la como uma forma de autoafirmação, basta que seja bem feita e os ingredientes, de boa qualidade.
O livro virou um best seller. Li em inglês, mas há tradução para o português.
O livro virou um best seller. Li em inglês, mas há tradução para o português.
4 comentários:
Achei a sua crítica bem interessante! Fiquei com vontade de ler o livro!
Beijos
Debora, o estilo da autora prende atenção, li em três noites!
Também li esse livro esse mês! E prendeu muito a minha atenção, li muito rápido.
Estou deixando pra escrever sobre ele em um blog de comida e literatura que pretendo inaugurar em breve (quanto menos tempo, mais ideias, não é injusto? =P).
A Gabrielle me pareceu do tipo meio louca e impulsiva... e admirável.
Novo blog, Aline? :)
Admiro a Gabrielle, mas não sei se gostaria de trabalhar com ela...
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