"Vivemos em um tempo superestetizado que, no entanto, não se traduz em um embelezamento do mundo."
"Estamos
longe da imagem do artista profeta ou do artista maldito. Desde que
Warhol reivindicou o status de artista comercial, a imagem romântica do
artista deu lugar àquela do empreendedor, cujo objetivo é menos a glória
eterna do que a celebridade e o dinheiro. O artista se põe de bom grado
a serviço das grandes marcas: Murakami trabalhou para a Vuitton, Keith
Haring para a Swatch. O artista é tratado como uma estrela: Damien Hirst
fez uma capa para a Time, os grandes arquitetos são icones
mundiais. E, em sentido inverso, todos os setores são declarados
artísticos: os grandes chefs, os criadores de moda (que são expostos em
museus), até os homens de negócios (Steve Jobs, o "artista
visionário")... A arte era a inimiga do mundo do dinheiro,
inaceitavelmente, ela acabou vítima da lógica do business. O tempo da oposição entre arte e economia faz parte do passado."
"As
mídias de massa permitem um acesso às obras inédito na história: são
milhões de indivíduos que, hoje, ouvem música, assistem a filmes e
contemplam as mais belas obras arquiteturais do mundo. Da mesma forma,
as mídias contribuem para a formação de um neoconsumidor esteta em busca
constante de emoções ligadas a textos, sons e paisagens. O capitalismo
estético proletarizou menos o consumidor do que o estetizou. Agora, os
indivíduos, em massa, desejam ver as belezas do mundo e escutar música;
eles decoram suas casas e se vestem de acordo com a moda. E o
desenvolvimento dos meios midiáticos, da internet em particular,
engendrou o desejo de criação pessoal em massa: como prova, os blogs, os
clipes, as fotos. Entretanto, evidentemente, isso não é sinônimo de
qualidade artistica. Da mesma forma, a democratização dos gostos
estéticos não significa um enriquecimento da experiência estética: o
visitante contemporâneo que permanece dez seguntos diante de uma tela de
Ticiano, o que ele apreende? O que compreende daquilo que é a própria
substância da beleza?"
"Desejamos
saborear a qualidade do presente, mas a empreitada exige uma
performance crescente com seu lote de estresse, frustrações e baixa
autoestima. As tensões se multiplicam entre consumismo e ecologia,
hedonismo e medicação da sociedade, qualidade de vida e aceleração dos
ritmos (ansiedade, depressão, vícios), conflitos intersubjetivos
(divórcios, separações, incompreensões...) estão em alta. O capitalismo
estético globalizado e a individualização de nossa relação com o mundo
são acompanhados pelo sentimento de passar ao largo da "bela" vida. A
sociedade superestetizada não conduz a uma humanidade mais feliz."