Li "Disgrace" (traduzido como "Desonra" no Brasil) antes do escritor sul-africano John Maxwell Coetzee ganhar o Nobel de literatura em 2003 e o achei ótimo, depois li O mestre de São Petesburgo, cujo personagem principal é Dostoievski e, ontem, terminei Elizabeth Costello. Respectivamente, um romance sobre a questão racial na África do Sul, um livro que traz um Dostoievski atormentado em busca de respostas sobre a morte de seu enteado e as cenas da vida de uma escritora já consagrada no final de sua carreira, Elizabeth Costello.
Gosto de Coetzee, ele mereceu o Nobel e um dia espero encontrá-lo em uma Flip da vida apenas para conferir se ele é parecido com seus personagens: um pouco cínico, um pouco cansado, alguém que responderia "Whatever" para qualquer questão que lhe fizessem como se tivessem lhe perguntado algo como "Would you like to have tea or coffee?".
Acho que em Elizabeth Costello ele deixa bem clara a forma como encara a vida de um escritor. A protagonista viaja de um lado para o outro para dar palestras sobre a literatura ou para falar sobre assuntos como a crueldade com os animais, mas apesar de aceitar os convites, ela não deixa de se exasperar em ter que conversar com pessoas com as quais não se importa quando preferiria estar descansando.
No último capítulo, uma alegoria sobre a morte parecida com alguns episódios das histórias de Kafka, Elizabeth está em uma cidade estranha e quer atravessar um portão para sair de lá, mas para isso, precisa apresentar-se diante de um júri e dizer no que acredita. Ela já está na segunda audiência e se desespera, pois sabe que sua busca por alguma paixão, por algo em que professar sua fé, parece estar condenada ao fracasso.
"When she was young, in a world now lost and gone, one came across people who still believed in art, or at least in the artist, who tried to follow in the footsteps of the great masters. No matter that God had failed, and Socialism: there was still Dostoevsky to guide one, or Rilke, or Van Gogh with the bandaged ear that stood for passion. Has she carried that childish faith into her late years, and beyond: faith in the artist and his truth?
Her first inclination would be to say no. Her books certainly evince no faith in art. Now that it is over and done with, that lifetime labour of writing, she is capable of casting a glance back over it that is cool enough, she believes, even cold enough, not to be deceived. Her books teach nothing, preach nothing; they merely spell out, as clearly as they can, how people lived in a certain time and place. More modestly put, they spell out how one person lived, one among billions: the person whom she, to herself calls she, and whom others call Elizabeth Costello. If, in the end, she believes in her books themselves more than she believes in that person, it is belief only in that sense that a carpenter believes in a sturdy table or a cooper in a stout barrel. Her books are, she believes, better put together than she is."
Gosto de Coetzee, ele mereceu o Nobel e um dia espero encontrá-lo em uma Flip da vida apenas para conferir se ele é parecido com seus personagens: um pouco cínico, um pouco cansado, alguém que responderia "Whatever" para qualquer questão que lhe fizessem como se tivessem lhe perguntado algo como "Would you like to have tea or coffee?".
Acho que em Elizabeth Costello ele deixa bem clara a forma como encara a vida de um escritor. A protagonista viaja de um lado para o outro para dar palestras sobre a literatura ou para falar sobre assuntos como a crueldade com os animais, mas apesar de aceitar os convites, ela não deixa de se exasperar em ter que conversar com pessoas com as quais não se importa quando preferiria estar descansando.
No último capítulo, uma alegoria sobre a morte parecida com alguns episódios das histórias de Kafka, Elizabeth está em uma cidade estranha e quer atravessar um portão para sair de lá, mas para isso, precisa apresentar-se diante de um júri e dizer no que acredita. Ela já está na segunda audiência e se desespera, pois sabe que sua busca por alguma paixão, por algo em que professar sua fé, parece estar condenada ao fracasso.
"When she was young, in a world now lost and gone, one came across people who still believed in art, or at least in the artist, who tried to follow in the footsteps of the great masters. No matter that God had failed, and Socialism: there was still Dostoevsky to guide one, or Rilke, or Van Gogh with the bandaged ear that stood for passion. Has she carried that childish faith into her late years, and beyond: faith in the artist and his truth?
Her first inclination would be to say no. Her books certainly evince no faith in art. Now that it is over and done with, that lifetime labour of writing, she is capable of casting a glance back over it that is cool enough, she believes, even cold enough, not to be deceived. Her books teach nothing, preach nothing; they merely spell out, as clearly as they can, how people lived in a certain time and place. More modestly put, they spell out how one person lived, one among billions: the person whom she, to herself calls she, and whom others call Elizabeth Costello. If, in the end, she believes in her books themselves more than she believes in that person, it is belief only in that sense that a carpenter believes in a sturdy table or a cooper in a stout barrel. Her books are, she believes, better put together than she is."
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