28.12.15

Mendoza - Argentina


A primeira foto obviamente não é de Mendoza, mas de São Paulo. Trata-se de uma longa história. Ela começa alguns dias antes da viagem. Há um lago aqui perto de casa que costuma encher na época das chuvas e às vezes torna a estrada intransitável. Com a seca dos últimos tempos, ela quase sumiu e  parecia improvável que voltasse a encher, mas ela encheu, e bem na semana em que viajaríamos, ficamos com medo de que ela transbordasse e achamos melhor ir para SP um dia antes de pegar o voo para Mendoza, pois temíamos que uma chuva mais parruda impedisse nossa saída no dia de ir ao aeroporto. Pois bem, ficamos em SP e pegamos o voo no dia seguinte. Houve atraso e chegamos exaustos em Mendoza após uma noite mal dormida em SP.

Tínhamos contratado uma agência para fazer tours em vinícolas e ir às montanhas, mas, logo na primeira noite, o O. acordou de madrugada com calafrios e começou a ter febre. Liguei para o seguro que contratara por precaução e as alternativas oferecidas pela atendente foram: procurar uma clínica, pagar o atendimento e juntar papéis para um reembolso posterior, ou esperar que um médico aparecesse na manhã seguinte, como estávamos exaustos e a febre não passou de 38 C, preferimos a segunda opção. O. tomou uma novalgina e a febre foi baixando. Tentamos dormir e esperamos pelo médico que apareceu antes do café. Ele examinou o O., checou a temperatura, mediu a pressão e disse que bastava observar se nada mais acontecia, por hora, ele achava que não era necessário fazer nada, pois não havia mais febre ou qualquer outro sintoma. Se tivéssemos ido a uma clínica provavelmente ele teria feito um exame de sangue e urina para descartar algo mais sério, mas, como disse, estávamos exaustos e, por sorte, o episódio noturno não se repetiu mais. A essa altura eu já tinha cancelado o passeio do dia e liguei novamente para a agência para confirmar o do dia seguinte, mas decidimos não ir às montanhas para não passar muito tempo dentro do carro. Fizemos tudo em um ritmo mais tranquilo devido a esse susto.

A viagem de volta foi horrível, o avião ficou sobrevoando o litoral de SP, pois o aeroporto de Guarulhos estava fechado devido a uma chuva. A chuva não parava e nosso voo acabou em Viracopos, onde ficamos dentro do avião por quase duas horas esperando uma autorização para voltar para Guarulhos, pois não havia logística em Viracopos para desembarcarmos. (Nossa cidade fica a alguns quilômetros de Campinas, mas tínhamos que voltar a Guarulhos de qualquer forma para pegar o carro que ficara no estacionamento).

Chegamos em casa de madrugada, novamente exaustos. Foi uma viagem bastante cansativa e prometemos nunca mais sair nessa época do ano para evitar imprevistos. Apesar desses pesares e dos preços exorbitantes da Argentina, conseguimos fazer algumas das coisas que planejáramos, como visitar vinícolas e comer bem. E como comemos bem! Apesar de cara, a comida era muito boa em todos os lugares. Os pães também eram ótimos onde quer que fosse. E a paisagem com as montanhas ao fundo faziam suspirar. A cidade é muito agradável com ruas arborizadas.


Fizemos dois dias de passeios em vinícolas com a Red Globe Tours. Visitamos a The Vines of Mendoza, Diamandes e Andeluna, no Valle de Uco, no primeiro dia. A The Vines é um complexo que engloba vinícola, resort e tem um restaurante do chef Francis Mallmann. A ideia da vinícola é interessante, eles produzem vinhos próprios, mas qualquer pessoa com dinheiro para gastar pode comprar um lote na propriedade, plantar as videiras das uvas que desejar e produzir seu próprio vinho com a assessoria da The Vines. Brincadeira interessante, não é mesmo? O melhor vinho que provamos foi o Tierra de Dioses, mas achamos que a visita valeu mais pelo conceito do que pelos vinhos.

Em seguida fomos almoçar na Bodega Diamandes, uma das propriedades de um conjunto de vinícolas que faz parte do Clos de los Siete, e pertence a uma família francesa. A vinícola tem uma arquitetura funcional, bonita e moderna. O guia, Luciano, falava muito bem português e era muito simpático. Foi ele que nos apresentou e serviu os vinhos durante o almoço que fizemos sozinhos na sala da casa dos donos. Não foi nada mal comer e beber bem contemplando uma paisagem maravilhosa. Uma experiência única. E os vinhos eram todos muito bons, não conhecia a vinícola e fomos surpreendidos pela qualidade de seus produtos. A relação qualidade-preço também era muito boa. Foi a visita de que mais gostamos em nossa estadia inteira.

Bodega Diamandes
Vista da entrada da Bodega Diamandes
Bodega Diamandes
Detalhe, Diamandes
Adega da Diamandes
Vista de uma das salas de degustação da Diamandes
Degustação e almoço na Diamandes
Nada mal almoçar com uma vista destas, não é mesmo?
Vinhos do almoço, todos os produzidos pela Diamandes, saímos borrachitos
A Andeluna foi a última parada do dia, era para termos almoçado ali no dia anterior, mas com o mal-estar do O., passamos o passeio para o dia seguinte e o Roman, proprietário da Red Globe, não conseguiu fazer outra reserva. O que foi bom, pois o almoço na Diamandes foi fantástico enquanto a degustação e visita na Andeluna foram decepcionantes. A vista é muito bonita, mas o resto foi bem protocolar, sem falar que os vinhos não agradaram, muito adstringentes. Duas italianas que fizeram a degustação conosco também não gostaram de nada, então, não era uma opinião tão parcial.

Andeluna
Andeluna
Folhas de Cabernet Sauvignon na Andeluna
Degustação na Andeluna
No dia seguinte, passamos pelas vinícolas mais conhecidas e particularmente queridas pelos brasileiros em Lujan de Cuyo: Cobos e Catena Zapata, com almoço em uma vinícola escolhida pelo Roman, a Vistalba.

Vi`na Cobos
Os vinhos da Cobos têm alto custo, mas são muito bons. A visita foi simples, mas agradável. Os vinhos não nos decepcionaram.

Vista das montanhas na Vistalba
Antes do almoço no restaurante da Vistalba, demos uma volta rápida pelas instalações acompanhados por uma guia francesa que falava espanhol e estava há nove meses na Argentina. A comida era muito boa, gostamos do restaurante e dos vinhos. Havia um azeite produzido pela casa de que também gostamos bastante.

Malbec
Oliveira
Vistalba
Detalhe, Andeluna
Terminamos o dia na Catena Zapata. Arquitetura bonita, com um quê de templo maia. A visita foi interessante, redonda, mas os vinhos, que passamos um bom tempo sem provar aqui no Brasil, não nos pareceram tão bons quanto eram em nossa memória. A melhor parte da visita aconteceu ao final quando, depois da degustação, nossa simpática guia, Cecilia, cantou um tango ao vivo para nós. Foi lindo! A voz, a interpretação, uma coisa emocionante!

Catena Zapata
Vista da Catena
Degustação, Catena
Depois disso, fomos almoçar por conta própria em duas vinícolas nos dias subsequentes. Fiz as reservas e fomos de táxi até elas. O motorista (na verdade era um táxi executivo, um remis) foi chamado pelo hotel no primeiro dia e fizemos o trajeto seguinte também com ele. O Sr. Luis Domínguez é uma das melhores pessoas que conheci na vida. (Se alguém quiser o contato o celular dele é 54-9-261-6177745)

Detalhe, El Enemigo
O almoço na El Enemigo, em Maipu, como já se tornara rotina, foi muito bom. Ótimos vinhos em um ambiente muito agradável. O proprietário, que também é enólogo da Catena Zapata, costuma passar pelas mesas para trocar algumas palavras com os comensais. Uma figura!

Detalhe, El Enemigo
Parreiras, El Enemigo
A última vinícola foi a Norton, em Lujan de Cuyo, era véspera de Natal e só duas outras mesas foram ocupadas por outros brasileiros. Gostamos bastante de tudo, comida e vinho. Não tínhamos grandes expectativas em relação aos vinhos devido ao fato de a vinícola ser enorme e vender suas linhas mais simples por aqui, mas fomos surpreendidos pela qualidade do que bebemos.

Norton, restaurante
Fomos dormir cedo na véspera de Natal, nem procuramos algum lugar que servisse ceia, comprei sanduíches e cerejas em uma barraca e foi tudo. Passei a manhã de Natal dando voltas pela cidade vazia e aproveitei para tirar algumas fotos.



Como no Chile, os cães que vagavam pela cidade eram lindos e enormes. Esse aí embaixo praticamente dormia dentro dos restaurantes da rua perto do hotel.


As últimas fotos foram tiradas no restaurante Azafrán. Gostei da decoração. A comida era boa, mas os preços, salgados.


Aconteceu uma fato curioso durante a viagem. Encontrei uma moeda de 25 centavos de dólar no cofre do hotel em que nos hospedamos em São Paulo e duas moedas de 500 pesos chilenos no do hotel de Mendoza. Que coincidência, não é mesmo? Achei tão curioso que deixei uma moeda de 25 centavos de real (pão-dura!) no cofre do hotel em Mendoza antes de ir embora. Se alguém a encontrar, saiba que fui eu que a deixei ali. 


2015 não foi um bom ano para o país, a moral está baixa e sinceramente espero que as coisas melhorem. Pessoalmente, este foi  um ano neutro, terminei meu mestrado, mas ainda ando em busca de uma vocação, de algo a que possa me dedicar com todo o coração e que, de preferência, tenha um retorno financeiro. Espero que 2016 traga algo parecido.  

Um ótimo final de ano a todos. 



1.11.15

Bento Gonçalves sempre


Descobri que não sou uma pessoa de mar. Gosto de contemplá-lo, mas, para ser sincera, nunca me senti bem à vontade em seu presença. Aquela imensa massa com vontade própria me deixa inquieta. Descobri que devo ser uma pessoa de montanha, de colinas suaves e muito verde, pois alguns dos lugares de que mais gosto são assim, gosto das cidades do sul de Minas e da serra gaúcha. É a terceira vez que vou a Bento Gonçalves em dois anos e sempre me sinto bem por lá. Gosto de ver as casas cheias de flores passarem pela janela do carro. Estava tudo bastante florido. E demos sorte de pegar chuva apenas no dia de ir embora, uma garoa fina. Do avião, era possível ver como os rios subiram e alagaram as áreas mais baixas perto do aeroporto. 

As parreiras estavam verdes, com cachos de grãos miúdos. Visitamos várias vinícolas e nos disseram que a próxima colheita provavelmente será ruim devido ao clima. Retornamos a vinícolas que já conhecíamos e passamos por outras novas, grandes e pequenas. Provamos muitos espumantes. 

Em Pinto Bandeira, conhecemos a Don Giovanni, demos um pulo até a Geisse e compramos alguns espumantes na Valmarino. Entre as grandes, visitamos a Salton, a Cooperativa Garibaldi e a Peterlongo, esta última, mais por uma questão afetiva, pois quem tem a minha idade deve ter visto muitas garrafas de filtrado dessa marca nos mercados. A vinícola está decadente, mas tem uma história interessante e começou a produzir uma linha de espumantes finos. 

Se é mais simples encontrar bons espumantes, para encontrar bons vinhos é preciso garimpar. Provamos alguns que nos desagradaram imenso, mas quando encontrávamos algo de que gostávamos, ficávamos muito felizes. Comemos mais ou menos, pois não gostamos muito do combo sopa de cappelletti/massa/polenta/galeto e nem de sequências com tudo isso junto, é comida demais e me dá uma sensação de desperdício, não de fartura.

As três vinícolas de Pinto Bandeira que mencionei acima são muito boas. Gosto particularmente da Valmarino pela relação custo/benefício. Em nossa opinião, a Cooperativa Garibaldi tem o melhor suco de uva e moscatel, o espumante com o Giuseppe Garibaldi no rótulo também é um achado pelo preço (R$ 40,00, se não me engano). Em relação aos vinhos, sempre compramos na Almaúnica. O malbec, shiraz e o 4 castas são muito bons e têm preços muito justos. A Pizzato tem bons vinhos, mas já não acho a relação custo/benefício tão boa. 

A melhor visita, no entanto, foi à adega Adolfo Lona, conhecia o blog do proprietário e demos um pulo até Garibaldi para provar os espumantes. Fomos recebidos pelo Roberto, um dos dois funcionários da vinícola. Ele explicou e respondeu perguntas, até fez uma demonstração de como fazer o dégorgement (retirada da tampa com o resíduo de levedura) da garrafa ao vivo e a cores. O processo não poderia ser mais artesanal. Foi a visita mais instrutiva que fizemos.

Queria ter voltado à Estrelas do Brasil em Faria Lemos para pegar uma garrafa do champenoise nature e rever a paisagem de tirar o fôlego da casa do Irineo (um dos proprietários da vinícola), mas não estava bem e desisti. Figuraça o Irineo, seus espumantes são bem diferentões.

Ficamos na Valduga desta vez e a estadia foi boa. Já garantimos a bebida de final de ano. Os preços devem subir em janeiro e, apesar de meu carinho pelo sul, não sei se voltaremos tão cedo.


 
 
 
 
 
 
No banheiro feminino da Cooperativa Garibaldi, só no sul para ler algo parecido
 
 
 
 
 
 
Roberto da Adolfo Lona preparando o licor de expedição, ele é adicionado à garrafa após o dégorgement
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lugar gostoso para almoçar após sair da Salton, cardápio enxuto. O preparo da comida ainda precisa de ajustes, mas o ambiente vale a pena