21.8.07

Um trecho de "Proust contra Saint-Beuve"

"Cada dia dou menos valor à inteligência. Cada dia eu me rendo mais conta de que é apenas em seu exterior que o escritor pode reencontrar algo de nossas impressões, quer dizer, atingir algo de si mesmo e a única matéria da arte. Aquilo que a inteligência nos fornece sob o nome de passado, não é o passado. Na realidade, como acontece com a alma dos mortos em certas lendas populares, cada hora de nossa vida, assim que morre, encarna-se e esconde-se em algum objeto material. Ela permanece aprisionada ali dentro, aprisionada para sempre, a menos que reencontremos tal objeto. Por meio dele, nós a reconhecemos, nós a chamamos e ela é libertada. O objeto no qual ela se esconde - ou a sensação, pois todo objeto em relação a nós é sensação - , pode jamais ser encontrado por nós. E assim, há horas de nossa vida que nunca mais ressuscitarão. Pois esse objeto é tão pequeno, tão perdido no mundo, que há poucas chances de que se encontre em nosso caminho!"

(Esse trecho explica bem o episódio da madeleine de Proust, não?)

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