Trouxe este livro para dentro de casa na última limpeza das estantes da edícula. A Madoka, uma leitora do blog, comentou que gostava do John Fante (1909-1983) e fiquei curiosa em ler algo dele.
Pergunte ao pó narra o início da carreira de escritor de Arturo Bandini, um rapaz de vinte anos que sai do Colorado e vai para Los Angeles sozinho, aluga um quarto e espera que a sorte lhe sorria. Bandini passa seu tempo andando pela cidade, martelando as teclas de sua máquina de escrever e contando os tostões que possui no bolso. Quando ele recebe dinheiro de sua mãe ou quando um editor paga por um conto, ele gasta como se não houvesse amanhã. Sua vida financeira tem seus altos e baixos, assim como sua vida afetiva. Ele é impulsivo e às vezes até bastante arrogante e desagradável, mas depois se arrepende e é capaz de atos bastante generosos.
Em suas voltas pela cidade, Bandini conhece Camilla, uma garçonete de origem mexicana pela qual ele se apaixona, o relacionamento dos dois é turbulento e ambos vivem ferindo um ao outro. Camilla é apaixonada por um barman que a destrata sempre e o triângulo está feito.
É um livro bem escrito, uma história simples. Bandini é um personagem interessante, um alter ego do próprio autor que aparece em outras obras. Boa introdução para John Fante. Ele também criava roteiros para cinema (sim, houve uma época em que escritores faziam isso, bons tempos!) e vários diálogos e cenas me lembraram alguns filmes americanos.
Eis um pequeno trecho:
"Ficamos deitados ali. Ela me provocava com seu escárnio, com o beijo que ela me deu, a curva de seus lábios, a zombaria de seus olhos, até que eu me tornasse um homem de madeira e não houvesse nenhum sentimento dentro de mim a não ser o terror e o receio dela, a impressão de que sua beleza era demasiada, de que ela era muito mais atraente do que eu, com raízes mais profundas do que eu. Ela me tornava um estranho para mim mesmo, ela era todas aquelas noites calmas e os altos eucaliptos, as estrelas do deserto, a terra e o céu, aquela neblina do lado de fora, e eu tivesse chegado ali sem propósito a não ser o de me tornar um mero escritor, ganhar dinheiro, fazer um nome para mim mesmo e toda aquela baboseira. Ela melhor do que eu, tão mais honesta, que estava cansado de mim mesmo e não poderia fitar seus olhos acolhedores, reprimi o estremecimento provocado por seus ombros morenos ao redor de meu pescoço e os longos dedos em meus cabelos."
6 comentários:
ah! acabou encontrando o "pó" do Fante, na limpeza das estantes. Eu adorei o livro, acho que cheguei ao Fante através do outro escritor: Bukovski se não me engano. O filme não me convenceu. O final do livro é algo. Acho que li quase tudo dele,rs...
Enfim, sexta-feira e estou um "prego".
madoka
Madoka, só encontrei esse livro do Fante, vou ver se encontro algo do Bukovski também.
Bom descanso no final de semana!
http://books.google.com.br/books?id=8eZxCdvQ6CAC&pg=PA80&dq=os+prazeres+e+os+dias&hl=pt-BR&ei=pFPhTZbMAaTs0gGIn8kF&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved=0CDIQ6AEwAg#v=onepage&q=os%20prazeres%20e%20os%20dias&f=false
Veja se deu certo minha estratégia de colocar aqui o endereço de um texto encantador sobre nosso querido Marcel Proust!
Deu sim, Sonia! Obrigada! Proust é um de meus amores.
Já gostei mais do Bukowski, lá pelos meus 18 anos, ele era o meu herói. Mas continuo gostando muito do Fante, "Espere a primavera, Bandini" é um livro maravilhoso!
Ah, agora vou ter que ler esse, Talula! rs
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