29.12.10

Salada de abobrinha temperada com mostarda e alcaparras


Esta é uma salada que faço sempre que tenho abobrinhas bem frescas em casa. Geralmente uso a abobrinha italiana, mas a brasileira também serve. Uso o fatiador para que as fatias fiquem bem fininhas e tempero com um molho feito com alcaparras picadinhas, mostarda tipo dijon, azeite, sal e pimenta a gosto. Misturo tudo muito bem e finalizo com um pouco de parmesão ralado.

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Minha cidade

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A cidade onde moro é pequena e tem ruas arborizadas. As construções não tem mais de três andares e tudo de que preciso está a poucos quarteirões da minha casa: a mercearia do casal simpático, a padaria, a quitanda onde as frutas estão sempre frescas. Há uma loja de ferragens perto da igreja e uma praça onde velhos de chapéu jogam dominó.

Há sempre crianças brincando nos quintais e os vizinhos fazem silêncio durante à noite, ouve-se no máximo a sugestão de Bossa Nova ou de Ella Fitzgerald vinda de alguma janela aberta, o que alegra alguns de meus finais de tarde.

E sente-se o aroma de bife, ou pipoca, ou café, preparado nas cozinhas.

Sei que nem todos são felizes aqui, há sempre algum drama doméstico comentado entre as vizinhas, ou um adolescente solitário trancado em seu quarto, mas não há nada errado nisso, pois o que descrevo não é um ideal, é uma nostalgia.


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23.12.10

Torta de cenoura com parma e tomilho


Receita do Lucullian Delights. Não resisti, achei a ideia da torta muito interessante. Qualquer massa serviria para a base, mas estava particularmente curiosa em experimentar essa massa feita com batatas cozidas.

Fiz metade da receita e a minha torta ficou bem diferente da original. A massa antes de assar lembra aquela de um gnocchi. Ela ficou gostosa, mais leve do que uma massa feita só com farinha.

Substitui a pancetta por presunto de parma. A combinação de sabores é muito boa, mas se preferir usar só cenouras, também ficaria boa.




Torta de cenoura com parma e tomilho

massa:
5 batatas médias
100-150g de manteiga ou azeite (usei este último)
Cerca de 2 x ou 2 1/2 x de farinha
1,5 c chá fermento em pó
sal a gosto

cobertura:
1,5kg de cenouras
100g de pancetta ou bacon picado (ou presunto de parma como eu)
algumas folhas de tomilho
sal
azeite extra-virgem

Descaque e corte as cenouras em fatias bem finas. Refogue-as com um pouco de azeite junto com o tomilho até que fiquem macias. Adicione a pancetta e continue cozinhando até que as cenouras  dourem  ligeiramente e a pancetta fique crocante. Verifique o sal e adicione mais caso necessário, lembre-se de que a pancetta  é salgada.

Cozinhe as batatas até que fiquem macias, descasque (caso as tenha cozinhado inteiras) e passe pelo amassador de batatas (ou use um garfo, o que for mais fácil). Faça isso enquanto elas ainda estiverem quentes. Deixe esfriar um pouco antes de adicionar a manteiga (ou azeite), a farinha e o fermento. Corrija o sal. Adicione mais farinha caso as batatas sejam de uma variedade mais úmida. A massa deve ser elástica e não muito dura. Forre um refratário com essa massa reservando um pouco para decorar a parte de cima com faixas, caso deseje.

Espalhe as cenouras sobre a massa e asse à 175C por cerca de 30 min. (Minha torta levou mais tempo, retirei do forno depois que a massa começou a dourar).


22.12.10

Peras assadas com mel e alecrim



Peras assadas desta forma dão um bom acompanhamento para carnes como carneiro, porco e pato, também podem entrar em saladas de folhas com queijos azuis (gorgonzola ou roquefort). Eu usei 5 peras pequenas,  maduras, mas ainda firmes, lavei, cortei ao meio e retirei as sementes. (Corte em quatro se as peras forem grandes e junte um pouco de suco de limão para evitar que elas escureçam, eu me esqueci).  Coloquei em uma panela junto com folhas de um ramo de alecrim, 1 colher de sopa de azeite e 1 coher de sopa de mel. Levei ao fogo e aqueci apenas o suficiente para que o mel ficasse mais líquido e envolvesse bem as frutas junto com o azeite. Coloquei em um refratário e levei ao forno. Assei em fogo baixo até que as peras ficassem macias, cerca de 20-30 min. Se preferir pular a etapa da panela, aqueça o mel por alguns segundos no micro-ondas e misture as frutas com as mãos junto com os demais ingredientes.

(E sim, eu adoro usar mel na cozinha...)


21.12.10

Aquiles e a tartaruga


Não sei muito bem o que dizer deste filme do Takeshi Kitano. Para ser honesta, minhas opiniões sobre o diretor são conflitantes. Assisti a vários filmes dele e gostei de muito poucos.

Li que este é o último filme de uma trilogia sobre a arte e o artista. Os dois primeiros parecem ter sido mais autobiográficos. Aqui, a história começa com um garoto, Machisu, que nasce em berço de ouro e acaba em um orfanato quando o banco do pai vai à falência e este se suicida com a sua amante. O garoto gosta muito de pintar e passa o tempo todo desenhando em seu caderno.

Já adulto, Machisu trabalha em empregos sem futuro durante o dia e pinta no tempo que lhe resta. Tornar-se famoso por meio da pintura é sua ideia fixa, tanto que ele parece se distanciar da realidade e do contato com as pessoas para atingir sua meta. Assim mesmo, ele conhece uma mulher que o compreende e o apoia totalmente. Eles se casam e ele chega à maturidade sem obter sucesso. Entretanto, ele não desiste, sua esposa trabalha para sustentar a família. A filha tem vergonha dos pais e ganha dinheiro como prostituta.

Os quadros de Machisu são sempre rejeitados, ele não encontra um estilo próprio e está sempre fazendo experiências, chegando a extremos para dar "alma" e originalidade às suas obras. As atitudes do personagem e  as situações que ele cria e nas quais se envolve vão ficando cada vez mais patéticas e constrangedoras. 

O filme é deprê, apesar de ser chamado de "comédia". Há sempre pessoas morrendo ao redor de Machisu, mas sua cabeça está tão focada na pintura que ele parece não se importar com mais nada. Nem todo mundo tem talento, originalidade e sorte suficientes para deslanchar. Machisu é um caso que ilustra isso. Se ele se desse por satisfeito apenas em pintar sem perseguir o sucesso, sua vida seria bem mais simples.

O título do filme é inspirado no paradoxo de Zeno sobre Aquiles e a tartaruga, segundo Zeno, se Aquiles, o herói grego, apostasse uma corrida com uma tartaruga que estivesse alguns metros à sua frente, sempre que ele chegasse ao ponto em que a tartaruga estava no começo, ela estaria em um ponto mais  adiante, seguindo esse raciocínio, Aquiles nunca alcançaria a tartaruga. No filme, Machisu seria Aquiles e o sucesso seria a tartaruga. (Ao menos foi o que li em algum lugar, mas o final me fez questionar essa interpretação).


18.12.10

Kabocha cozida com açúcar e shoyu


Mais uma receita com kabocha. Andei numa "fase aboborenta".

Kabocha cozida bem simples, dá para fazer de várias maneiras, desta vez, preparei da seguinte forma: limpei e cortei um pedaço de kabocha em cubos médios, coloquei em uma panela de fundo grosso, polvilhei com açúcar (a gosto, os japoneses fazem mais adocicada), misturei com as mãos, como se estivesse fazendo um "peeling" nos pedaços de abóbora (vi na tv, parece que dá mais sabor), adicionei algumas colheradas de shoyu e outras de saquê (também a gosto e dependendo da quantidade de abóbora), tampei a panela e cozinhei em fogo baixo até que a abóbora ficasse macia sem se desfazer. Dei algumas chacoalhadas na panela de vez em quando para misturar. Não adicionei mais líquido para o cozimento, mas se houver necessidade, adicione algumas colheradas de água. A própria abóbora solta um pouco de líquido enquanto cozinha.

15.12.10

Cookies de aveia, tâmaras e nozes


Receita adaptada do blog da Clotilde. São cookies saborosos e cheios de coisas que adoro: tâmaras, nozes, aveia, sementes de linhaça. Eles são mais crocantes logo após retirados do forno, mas continuam firmes mesmo após alguns dias. 


Cookies de aveia, tâmaras e nozes

(cerca de 15 cookies)

2 c sopa de sementes de linhaça
140g de farinha integral 
80g (3/4x) de aveia ou quinoa em flocos
1/2 c chá de fermento em pó
1 c chá de grânulos de café instantâneo (nescafé)
50g de açúcar demerara
30g açúcar mascavo
90g nozes picadas
60g tâmaras picadas
60ml de óleo
80ml leite

Coloque as sementes de linhaça em uma pequena tigela e adicione cerca de 2 c sopa de água. Deixe descansar por 30 min até que a mistura "gelifique".
Preaqueça o forno à 180°C, forre uma forma com papel manteiga, alumínio ou unte-a muito bem.
Misture a farinha, a aveia, o fermento, o café, o açúcar demerara e mascavo, as nozes e as tâmaras. Adicione as sementes de linhaça, o óleo e o leite e mexa até que massa fique homogênea. Ela deve ser úmida o suficiente para que você possa moldar os cookies, mas não mole demais. Adicione mais leite ou farinha para ajustar a consistência caso seja necessário.
Retire pequenas porções da massa, molde bolas e achate-as um pouco. Coloque os cookies sobre a assadeira deixando algum espaço para que cresçam. (Minha massa ficou mais mole, mas eu preferi não adicionar mais farinha. Apenas fui derrubando porções sobre a forma com uma colher).
Asse por cerca de 20 minutos, até que dourem. Deixe esfriar antes de retirar da assadeira.


Throwing away the alarm clock

Conhecia vagamente Charles Bukowski como um escritor americano "porra-louca" e também vi alguns trechos de um filme baseado na vida dele há muito tempo. Este é o primeiro poema  "bukowiskiano" que leio, gostei muito.



Throwing away the alarm clock

my father always said, "early to bed and
early to rise makes a man healthy, wealthy
and wise."

it was lights out at 8 p.m. in our house
and we were up at dawn to the smell of
coffee, frying bacon and scrambled
eggs.

my father followed this general routine
for a lifetime and died young, broke,
and, I think, not too
wise.

taking note, I rejected his advice and it
became, for me, late to bed and late
to rise.

now, I'm not saying that I've conquered
the world but I've avoided
numberless early traffic jams, bypassed some
common pitfalls
and have met some strange, wonderful
people

one of whom
was
myself—someone my father
never
knew.

"Throwing Away the Alarm Clock" by Charles Bukowski, from The Flash of Lighting Behind the Mountain. © Harper Collins, 2004.

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12.12.10

Lombo recheado com nozes, maçã e linguiça acompanhado de molho de frutas vermelhas



 Receita da revista Taste of home. O recheio é ótimo (apesar de eu ter me esquecido do ovo) e o molho também fica muito bom. Acho que a géleia pode ser de outras frutas, pensei em laranja ou abacaxi. 




Lombo recheado com molho de frutas vermelhas


3/4 x de nozes 
340g de linguiça de porco (usei um pouco menos, procure uma linguiça sem muita gordura)
1 maçã média descascada e picada 
1 dente de alho picado
1 c sopa de salsinha picada
1 ovo batido (esqueci, mas não senti falta)
1 lombo de cerca de 1,5-2 kgs
sal e pimenta do reino
manteiga derretida para pincelar


molho:
1 x de geléia de alguma fruta vermelha (ou outra de sua preferência)
2 c sopa de mel
1 c sopa de passas
2 c chá de vinagre
1/4 c chá de molho de pimenta

Bata as nozes no processador até obter uma "farofa". Reserve.

Refogue a linguiça desfeita com as maçãs e o alho até que a carne cozinhe. Escorra o excesso de gordura e líquido. Deixe esfriar um pouco e junte as nozes moídas, a salsinha e o ovo. Acerte o tempero adicionando sal e pimenta. Lembre-se de que a linguiça já contém sal.

Faça um corte no meio do lombo, no sentido do comprimento até mais ou menos a sua metade. Pense nele como um livro aberto. Agora, faça um corte em cada uma das "abas" começando de dentro para fora para formar mais uma "aba". Você terá um retângulo aberto. Cubra a carne com filme plástico e bata com um martelo apropriado para diminuir a espessura da carne. (A minha não ficou assim tão fina, tinha cerca de 1,5cm). Se quiser/achar necessário, tempere o lombo com um pouquinho de sal, isso depende da quantidade de sal da linguiça que usar.

Pincele a superfície da carne com a manteiga derretida, espalhe o recheio sobre o lombo aberto e enrole como um rocambole começando pela parte mais comprida (ou como achar que ficará melhor). Amarre com um barbante. Coloque em um refratário, pincele com mais manteiga e asse por cerca de 1h30. Espere uns 15 min antes de fatiar e sirva com o molho.

Molho: Aqueça rapidamente os ingredientes em uma pequena panela até que a mistura fique uniforme.

10.12.10

Armadillo


Armadillo é um documentário de Janus Metz que acompanha um grupo de soldados dinamarqueses enviados para uma base chamada "Armadillo" no Afeganistão. Eles integram o Isaf, o exército da Otan. Ele começa ainda na Dinamarca com os rapazes se despedindo das famílias e participando de uma "festa" com bebidas e strippers antes de passarem seis meses em missão. Vários dentre eles ainda têm espinhas nos rostos e suas mães não conseguem esconder sua apreensão diante do que aguarda os filhos.

Em seguida, vemos os rapazes assistindo videos pornôs no computador ou jogando videogame para se distraírem na base. O lugar é praticamente um forte com muros, cercas de arame farpado e torres de vigia. As patrulhas que eles fazem são sempre tensas porque qualquer pessoa é um inimigo em potencial e eles são alvos fáceis de tiros e de minas terrestres, basta que se afastem cerca de um quilômetro da base para que entrem em território controlado pelo taliban.

Pelo documentário, vê-se claramente que a ideia de "conquistar mentes e corações" é risível. Os morteiros lançados pela base caem sobre casas, campos e matam civis. As patrulhas passam por cima das plantações dos camponeses causando estragos. Sempre há gente indo até a base para reclamar a perda de animais e outros pertences.

Um dos momentos mais dramáticos ocorre quase no final dos seis meses de serviço da tropa. Ocorre um tiroteio e os soldados matam três talibans em uma vala, na verdade, eles vão lá e descarregam os cartuchos nos três homens já mortos e depois há uma sugestão de que tiraram fotos ao lado dos cadáveres. Algo que causou muita comoção na Dinamarca. Isso não foi mostrado, mas pelas imagens de como um dos soldados revista os corpos para encontrar armas, você percebe que os rapazes passam a considerar algumas coisas com indiferença. O sentimento é o de caçar ou ser caçado e há euforia quando o resultado é favorável.

A justificativa de todos diante das câmeras é a de que apenas quem esteve lá pode dizer algo sobre o que aconteceu. As filmagens se focam em um grupo de uns cinco soldados que vão ao Afeganistão pela primeira vez. É possível ver como eles mudam com o tempo, endurecem. Há os "natural born killers", enquanto outros preferem se distanciar de tudo aquilo de vez em quando. Ao final, dos cinco, apenas um deixou o exército e tornou-se eletricista, os demais retornam (ou pretendem retornar) ao Afeganistão em 2011.

Guerra produz os efeitos de uma droga? Os soldados sentem falta da adrenalina?  Do companheirismo? Talvez. Ou talvez seja como ir à Lua. Voltar para a "Terra" e viver no meio de pessoas que nunca estiveram no "espaço" acaba fazendo com que eles se sintam estranhos. Mas essas são meras suposições.

9.12.10

Kabocha cake


Do programa da NHK. Resolvi dar uma "fuçada" no site e estou satisfeita com os resultados até o momento. Este não é exatamente um bolo, a consistência é mais parecida com a de um pudim, fica com um sabor de abóbora kabocha (abóbora japonesa) bastante agradável, é leve, doce na medida certa (para mim). Sem falar que fica pronto em um segundo...

Alguém escreveu que você pode adicionar uma pitada de canela para um perfume extra, eu esqueci, mas gostei assim mesmo. A superfície do "bolo" incha, mas isso não significa que ele cresça, é só a "casquinha" mesmo.



Kabocha cake

300g de abóbora kabocha
100g de açúcar
3 ovos
200ml de creme de leite
4 c sopa de farinha
50 g de manteiga derretida

Descasque e corte a abóbora em cubos, leve ao micro-ondas até que fique macia (cerca de 4-5 min dependendo do tamanho dos pedaços que cortar).
 
Coloque a abóbora no liquidificador junto com todos os outros ingredientes. Bata bem e derrame sobre uma forma forrada com papel manteiga ou muito bem untada para que não grude no fundo. 

Asse à 170C por cerca de 45min.

7.12.10

Herta Müller - Herztier


Herta Müller ganhou o Nobel de Literatura de 2009, antes disso, nunca tinha ouvido falar nessa autora romena que escreve em alemão. Fiquei curiosa em ler algo dela, lembrava que seus temas eram relacionados à época em que a Romênia estava sob a ditadura de Ceaucescu, mas era tudo. Leio poucos livros escritos por mulheres, o panteão literário ainda é bastante masculino. E, para falar a verdade, eu cresci com um certo preconceito em relação à "escrita feminina". São raras as escritoras que se salvam em minha lista. Acho que isso é algo que devo repensar.

O livro contém alguns elementos autobiográficos e é narrado por uma estudante universitária na casa dos vinte anos que compartilha um dormitório com outras garotas. Uma de suas colegas, Lola, é encontrada morta um dia em circunstâncias estranhas. A narradora conhece três garotos, aparentemente conhecidos de Lola, que procuram entender o que aconteceu. A narradora e esses três rapazes - Kurt, Edgar e Georg - compartilham o mesmo sentimento de impotência e revolta em relação ao regime e tornam-se amigos. Os quatro lêem livros proibidos, escrevem textos críticos e, por isso, acabam sendo investigados pela polícia. Eles são interrogados e ameaçados constantemente.

Depois de terminarem a faculdade, cada um deles é empregado em lugares diferentes, mas  permanecem em contato e continuam sendo vigiados. Os amigos apoiam-se um nos outros para suportar o estado de tensão em que vivem. Eles escrevem cartas nas quais determinadas palavras têm significados que apenas eles podem compreender e servem para alertar uns aos outros sobre quando estão em perigo.

Além da tensão constante dos personagens principais, há a preocupação de suas mães,  elas escrevem cartas comentando as visitas de "agentes" do governo e, por meio delas, temos uma visão do cotidiano das pessoas comuns nos vilarejos. É um mundo onde os sonhos são reprimidos e cada um precisa se concentrar nas necessidades do dia a dia. Em suma, uma vida insuportável para os quatro jovens.

É um livro de imagens estranhas e belas, composto de textos curtos e metafóricos. Como é o primeiro livro da autora que leio, não sei se essas são características de seu estilo. Gostei, é diferente de tudo o que já li e não sei muito bem como classificar.

O título foi traduzido para o português (de Portugal) e para o inglês como "A terra das ameixas verdes". "Herztier" é uma expressão difícil de traduzir. A autora a usa para descrever algo frágil e inquieto dentro dos personagens. ("Herz" = coração, "Tier" = animal).


Traduzi um trecho:

"Eu conhecia a anã do Praça Trajano. Ela tinha mais pele do que cabelos sobre a cabeça, era surda-muda e carregava um tapete de fibras como as cadeiras descartadas sob as amoreiras dos moradores antigos.  Ela comia o resto das bancas de legumes e engravidava todos os anos dos homens de Lola. Eles vinham à meia-noite depois do último turno das fábricas. A praça estava escura. A anã não conseguia fugir a tempo porque não ouvia quando alguém se aproximava. E não podia gritar.

Na estação, perambulava o Filósofo. Ele tomava os postes telefônicos e as árvores por homens. Discorria sobre  Kant e o universo dos carneiros que comiam a grama para o aço e a madeira. Ia de mesa em mesa nos bares, bebia os restos e enxugava os copos com sua barba longa e branca.

Na frente da praça do mercado, sentava-se o velho com o chapéu feito de alfinetes e jornal. Ele arrastava um trenó com sacos ao longo das ruas no inverno e no verão. Em um deles, havia jornais dobrados. O velho fazia um chapéu novo todos os dias. No outro, estavam os chapéus usados. 

Apenas os loucos não teriam mais levantado  a mão no auditório. Eles trocaram o medo pela loucura.

No entanto, eu podia contar pessoas na rua, contar a mim mesma, como se fosse encontrar-me casualmente. Podia dizer a mim mesma: "Hei, você, Ninguém!". Ou: "Hei, você, Legião!". Mas eu não conseguia enlouquecer. Ainda estava lúcida."

28.11.10

Tofu com carne moída


Receita adaptada de um programa de culinária da NHK. É uma receita clássica de carne com tofu no estilo chinês, mas a minha versão acabou não sendo nada fiel à original, pois há dois temperos que nunca consegui encontrar por aqui, o "tobanjan" e o "tenmenjan". Se não me engano, o primeiro é o que devia dar o apimentado e a cor avermelhada típica do prato, ele é feito à base de favas fermentadas e pimenta, o tenmenjan é mais adocicado e feito à base de trigo. Eles são preparados usando o mesmo processo do missô. Só sei o que li rapidamente por aí, pois não tenho a menor ideia do sabor de cada um. Para compensar a ausência do "tobanjan", adicionei um pouco de pimenta calabresa.

Uma vez até entrei em algumas lojas da Liberdade em busca do "tobanjan", talvez não tenha procurado direito na época ou não tenha cruzado com a pessoa certa para me indicar onde poderia encontrar o dito-cujo, mas voltei de mãos vazias. Se alguém souber onde posso encontrar pelo menos o "tobanjan",  por favor me diga, pois um dia pretendo comprá-lo.



Tofu com carne moída

1 tofu firme (acabei comprando o mais macio por engano, ele se desfez um pouco, mas nada comprometedor)
100 g de carne de porco moída (usei carne bovina)
1 c sopa de óleo

A
1/3 de uma cebolinha grossa fatiada
1 dente de alho picado
1 pedaço de gengibre picado (mais ou menos do tamanho de dente e alho)
1/2-1 c sopa de tobanjan
1 colher de sopa de tenmenjan

B
3/4 x de caldo de galinha (ou água)
1 1/2 c sopa de shoyu
2 c sopa de saquê
1/2 c chá de açúcar

C
1 c sopa de amido de milho
2 c sopa de água

Escorra a água do tofu, embrulhe com papel toalha e deixe assim por cerca de 20 minutos para diminuir ainda mais a quantidade líquido. Corte em cubos de 1,5 cm.

Em uma wok (ou uma panela funda), aqueça o óleo e refogue a carne moída. Quando a cor da carne mudar, adicione os temperos do item A. Misture e adicione os ingredientes do item B.

Quando levantar fervura, adicione o tofu, cozinhe por 1 min movimentando a panela para misturar tudo, se usar uma colher ou espátula, há mais chances do tofu se desfazer. Adicione o amido dissolvido na água devagar, em fio. Movimente um pouco a panela para misturar o amido ao molho e para que ele engrosse. Desligue e sirva com arroz.

22.11.10

Dentro do ônibus VII

Eles sempre sobem no ônibus quando eu me levanto para descer. O filho entra primeiro e a mãe vem em seguida, já procurando um banco vazio para o garoto que tem problemas motores.  Estão indo ou voltando da escola, vejo pelo uniforme e pela mochila que a mãe carrega.

Às vezes, nós nos desencontramos e aí fico pensando se tudo está bem, se o menino foi para a escola e se o dia transcorreu sem incidentes. É um alívio revê-los. A mãe está sempre preocupada em não perder o filho de vista apesar do espaço limitado, o filho parece ignorar o que há ao redor, como todos os adolescentes.

Gostaria de sorrir para a mãe um dia desses, mas não sei se ela entenderia que meu sorriso é um aplauso silencioso.

21.11.10

Bolo quatro quartos



Receita de bolo clássica, a ideia é usar a mesma medida para quatro ingredientes principais: ovos, farinha, açúcar e manteiga. A receita que usei pede que se acrescente farinha com fermento, mas usei a farinha normal e adicionei a colher de chá de fermento em pó pedida. Já preparei uma receita semelhante do Cuisine sans souci na qual não se usa fermento, o bolo não cresce tanto, mas não achei que fazia tanta falta, já que ele é bem denso mesmo.

Usando esta receita como base é possível variar muito, ela é usada como base para um bolo de café e nozes que leva um glacê à base de manteiga no Kitchen Diaries do Nigel Slater. Ele só acrescentou 2 c. chá de grânulos de café instantâneo dissolvidos em 1 c sopa de água quente e pedaços de nozes à massa.

Outras versões interessantes seriam: adicionar cacau em pó ou raspas de limão ou laranja para dar um perfume diferente ao invés da baunilha. Ou dividir a massa para fazer um bolo mármore juntando machá ou cacau em pó a uma das partes.

É um bolo muito bom, acho meio pesado por causa da quantidade de manteiga, mas de vez em quando não faz mal, não é mesmo? Ótimo para acompanhar uma xícara de chá.


Bolo quatro quartos

3 ovos
175g de manteiga à temperatura ambiente
175g de farinha de trigo com fermento (usei a normal)
175g de açúcar
1 c chá de fermento em pó
1 c chá de essência de baunilha (ou raspas da casca de 1 limão)

Bata a manteiga com o açúcar até obter um creme esbranquiçado, bata os ovos juntos e adicione essa "omelete" pouco a pouco enquanto bate. Adicione a farinha misturada com o fermento e a essência de baunilha. Misture tudo com uma espátula com cuidado e coloque em uma forma untada e, preferencialmente, como fundo forrado com um pedaço de papel manteiga para que não grude. 

Asse em forno preaquecido à 180C por 45-50 min ou até que fique dourado. (Faça o teste do palito).

19.11.10

Shangai - Riichi Yokomitsu



Faz algum tempo que terminei o livro já comentado aqui. A história se passa em Shangai nos anos vinte/trinta e a cidade pode ser considerada a protagonista da história. Esta concentra-se em alguns expatriados japoneses que caminham pelas suas ruas ao lado dos riquixás, mendigos, crianças sujas, carcaças de animais expostas em bancadas pelos açougueiros e do Yangtzé, onde barcos descarregam mercadorias.

Há muitos estrangeiros na cidade, russos que fugiram da Revolução Comunista e  vivem como mendigos ou prostitutas, soldados indianos à serviço da Inglaterra, europeus que trabalham para as grandes companhias de seus respectivos países e os próprios japoneses como Sanki e Kouya, os personagens principais. Ambos estão sempre buscando algo indefinido em uma cidade cheia de contradições. Sanki espera a morte do marido da irmã de Koya, sua paixão de juventude e, quando isso finalmente ocorre, ele já não sabe mais  o que deve fazer. Para complicar, ele apaixona-se por uma chinesa, membro do movimento comunista, o que torna o romance impossível. Sanki também é amado por Osugi, uma jovem japonesa que trabalha para um banho turco e termina como prostituta após ser despedida.

Kouya, amigo de Sanki, é funcionário de uma madeireira, mas o que deseja mesmo é juntar dinheiro suficiente para especular na bolsa de valores e casar-se com uma japonesa que trabalha como dançarina/scort girl em um salão da cidade, só que ela sempre rejeita seus avanços.

A sensação é de que estão todos na expectativa de algo que mude suas vidas. E quando algo realmente grande ocorre - o partido comunista inicia uma série de rebeliões e greves de protesto contra a exploração das potências estrangeiras - tudo continua da mesma forma. A falta de comida, a miséria, as agressões, as mortes na rua e as greves aparecem mais como panos de fundo de suas tragédias pessoais.

O entulho flutuando nas águas do rio, um menino lambendo restos amassados de amendoim sobre a rua, as prostitutas procurando possíveis fregueses, estas são imagens que sempre retornam  à minha mente quando penso no romance.

Shangai é o único livro de Riichi Yokomitsu traduzido para o inglês que vi na Amazon, gostaria de ler a tradução algum dia para ver se entendi o grosso da história direito, pois achei o texto difícil, há muitas referências históricas e discussões políticas que não consegui acompanhar muito bem, mas é um livro bastante interessante pela descrição da cidade e de uma época.

16.11.10

Filé mignon ao molho de vinho e champignon


Da Dani da Casa de Farinha. Feita e repetida várias vezes. Não costumo usar temperos industrializados na cozinha, mas abro uma exceção para esta receita. A sopa de cebola dá um sabor muito bom ao molho e  o deixa mais encorpado. Vale a pena. Desta vez acabei não fritando a carne até que ela ficasse bem dourada, então o resultado ficou um pouco "pálido".



Filé mignon ao molho de vinho e champignon


1 peça de filé mignon de cerca de 1 kg
1 pacote sopa/creme de cebola
3 colheres de mostarda
1 copo de 200 ml de vinho branco seco
1 copo de 200 ml de água
4 colheres de sopa de molho Inglês
1 vidro pequeno de champignon laminado (usei os champignos inteiros desta vez)
Óleo para fritar


Amarre o filé inteiro e limpo e envolva todo ele na sopa de cebola. (Reserve o que sobrar da sopa de cebola para corrigir o tempero no final).

Frite o filé em óleo bem quente até ficar bem dourado e escuro. Escorra bem, deixe esfriar e leve para a geladeira.

Escorra a gordura toda passando por um filtro e aproveite o resíduo queimadinho da sopa de cebola devolvendo para a panela.

Misture aquela sobra da sopa de cebola reservada com a água, o vinho, o molho inglês, a mostarda e o champignon laminado e leve ao fogo até ferver e encorpar.

Retire o filé da geladeira, corte em fatias finas e junte ao molho.

Deixe ferver até engrossar o molho e reduzir de volume.

Sirva quente com salada, arroz branco e batata palha.

Obs: tenha um pacote extra de sopa de cebola, pode vir a calhar caso não sobre muito após besuntar a carne e deseje corrigir o tempero.

11.11.10

Kedgeree de salmão


Receita absolutamente deliciosa e com "sustância", um arroz com gostinho de curry acompanhado de salmão e ovos cozidos. Li que o kedgeree tem origem indiana e foi muito popular na Inglaterra como prato servido no café da manhã no século XIX. Devia dar para começar o dia com bastante energia...




Kedgeree de salmão

227g de filé de salmão sem pele e sem espinhas
1 c chá (5ml) de  óleo
sal e pimenta a gosto

1 c sopa (15ml) de óleo
1 cebola pequena picada
2 c chá de gengibre descascado e picado
2 c chá de curry em pó
1/4 c chá de açafrão da terra (cúrcuma)
3 vagens de cardamomo amassadas (opcional)
1 folha de louro
2 x de arroz basmati
1-1/2 x (375ml) de caldo de frango (usei água)
1 x de ervilhas congeladas
2 c sopa de coentro picado (ou salsinha)
5 ovos cozidos cortados em quatro

Coloque o salmão em uma assadeira untada com óleo, pincele a sua superfície com o óleo restante, polvilhe  sal e pimenta e asse à 200C até que a carne cozinhe, cerca de 20 min. Desfaça o salmão em pedaços de cerca de 5cm e reserve.

Enquanto isso, aqueça o óleo em uma panela e refogue a cebola até que fique macia e doure, cerca de 8 min. Adicione o gengibre, o curry, o açafrão da terra, o cardamomo, a folha de louro e tempere com sal e pimenta a gosto. Cozinhe por cerca de 30 segundos. Adicione o arroz, misture e cozinhe por cerca de 1 min. Adicione o caldo de frango (ou água), espere ferver, reduza a temperatura, cubra e cozinhe em fogo baixo até que arroz fique macio e o líquido tenha sido absorvido, cerca de 20 min. Retire do fogo. Adicione as ervilhas e o coentro, misture e deixe descansar, com a panela tampada, por cerca de 2 min. Descarte a folha de louro.

Adicione o salmão e misture delicadamente. Transfira para um prato e distribua os ovos cozidos por cima.


12.10.10

Pepinos com gergelim


Salada simples e crocante com perfume de óleo de gergelim. Basta pegar um pepino japonês, lavar, enxugar e bater em toda a sua extensão com um rolo de abrir massa, apenas o suficiente para que seu interior fique um pouco "quebrado" sem perder a forma. (Nada de bater com muito entusiasmo!). Corte em pedaços grosseiros e tempere com óleo de gergelim, sal e um pouco de sementes de gergelim. Eu geralmente uso a proporção 1 pepino = 1/2 c chá de óleo de gergelim + 1 c chá de sementes de gergelim, o sal é a gosto.

10.10.10

Das fliegende Klassenzimmer - Erich Kästner



De vez em quando a escola de alemão em que estudava recebia doações de livros, naquela vez, alguém deve ter morrido e a família doou a biblioteca em alemão inteira. Eram várias caixas e uma velha mala. Por falta de espaço, os livros ficaram disposto no pátio e os alunos podiam levar o que quisessem, peguei três, entre eles, Das fliegende Klassenzimmer (1933) de Erich Kästner (1899-1974), um autor alemão, pacifista e contrário ao nazismo, o que lhe rendeu alguns livros queimados e algumas visitas da Gestapo. Ele é mais conhecido como autor de livros infantis, como este, mas também escreveu poemas, sátiras e roteiros de filmes.

Das fliegende Klassenzimmer, ou, "A sala de aula voadora", conta as aventuras e travessuras de cinco amigos em um internato na Alemanha, eles ensaiam uma peça que será apresentada na véspera de Natal antes das férias de inverno. O enredo da peça mostra uma "aula" um pouco diferente na qual o professor convida os alunos a embarcarem em uma avião para ensinar história e geografia "in loco". Assim eles partem para o Polo Norte, para o Egito e terminam no céu, onde encontram São Pedro. Daí o título do livro. 

Mas o livro não trata apenas dessa peça. Como todo bom livro infantil, ele procura inspirar valores como a amizade e a generosidade nos leitores. Vocês se lembram daqueles filmes antigos, onde as crianças tem rostos cheinhos e bochechas rosadas, todos são muito bons e as conclusões são sempre felizes? Pois é, o livro é assim. Há brigas de crianças, entre os alunos do internato com os de uma escola rival, um garoto que decide pular do alto de uma escada com um guarda-chuva para provar que não é covarde, etc, entretanto, arranhões e orgulhos feridos à parte, tudo sempre termina bem. Enfim, é um livro para inspirar bons sentimentos. 

É uma história simpática, simples e sem nenhum acontecimento fantástico.



Eu sei exatamente quando o "bicho" da leitura me pegou. Tinha nove anos e fui  com minha avó passar alguns dias na praia na casa de uma prima da mesma idade. Passávamos as manhãs na praia com nossa avó e, à noite, antes dormir, cada uma de nós lia um trecho de um livro infantil deitada sobre um beliche. Uma lia Os Colegas e a outra A fada que tinha ideias. O dia de ir embora foi se aproximando e eu percebi, angustiada, que não saberia o final das histórias, então terminei de lê-las sozinha. Chorei muito com Os colegas e foi quando percebi como conseguia me envolver com um texto. A partir de então, desembestei a ler e não parei mais.

Hoje acho que estou velha para livros infantis. Há poucos que funcionam para os adultos, como exemplo, posso citar o clássico "O pequeno príncipe", que sempre será muito fofo. Mas acho que eles realmente produzem mais efeito quando são lidos na infância ou, vá lá, até o começo da adolescência. Guardo boas lembranças de Os colegas da Lygia Bojunga Nunes; A fada que tinha ideias, todo o Sítio do Pica-pau amarelo, do Lobato; Contos do Andersen e o Menino do dedo verde de Maurice Druon, todos lidos e relidos várias vezes.


7.10.10

Salada de batatas à puttanesca


Também da Canadian Living, já disse que adoro as receitas dessa revista, não é mesmo? Acho que ela segue um estilo de culinária moderno e bastante sintonizado com as preocupação nutricionais contemporâneas: pouca gordura e açúcar, ingredientes saudáveis, mas sem perda de sabor. Foram raras as receitas que testei e de que não gostei. 

Esta salada de batatas é absolutamente deliciosa, uma festa de sabores, perfeita para ser servida em um churrasco, por exemplo. Como a maioria dos ingredientes contêm sal, nem é necessário acrescentá-lo aos temperos. Eu não uso anchova, costumo comprar um potinho de "sardinha anchovada" para economizar. A anchova é mais macia e saborosa, mas o efeito nesta receita é o mesmo.


Salada de batatas à puttanesca

1,4kg de batatinhas pequenas para salada cortadas ao meio ou em quartos se forem maiores
1/3 x (75ml) de azeite extra-virgem
1 x (250ml) de cebola picada
3 dentes de alho picados
1 c chá (5ml) pimenta calabresa
1/2 c chá (2ml) de orégano
4 filés de anchovas picados
1/2 x (125ml) tomates secos escorridos e picados
1/2 x (125ml) azeitonas picadas
3 c sopa (45ml) alcaparras escorridas e picadas
1/3 x (75ml) de vinagre de vinho branco
1/3 x (75ml) de salsinha picada

Coloque as batatas em uma panela com água fervente e cozinhe até que estejam macias quando espetadas com um garfo, cerca de 10 min. (Preste bastante atenção ao grau de cozimento, pois se cozinharem demais, elas vão se desmanchar). Escorra e coloque em uma tigela grande.

Enquanto isso, aqueça o óleo em uma frigideira e refogue a cebola até dourar, cerca de 8 min. Adicione o alho, a pimenta calabresa, o orégano e as anchovas. Cozinhe mexendo sempre até que o alho fique dourado. Adicione os tomates secos, as azeitonas e as alcaparras, cozinhe por 1 min. Adicione o vinagre e espere que tudo volte a se aquecer. Misture para soltar o que estiver grudado no fundo. Derrame essa mistura sobre as batatas. Adicione a salsinha, misture para envolver bem as batatas no tempero e deixe descansar por 2 horas ou cubra e deixe na geladeira por até 24 hs.

30.9.10

Somos todos habitantes da Terra - Agnes Chan



Este livro era parte do meu "dever de casa", foi emprestado por minha professora de japonês. Ela sempre diz que preciso ler para aumentar o vocabulário e me acostumar com as expressões novas. É o tipo de livro autobiográfico com um quê de autoajuda. Ele é voltado para os adolescentes e, talvez pela língua materna da autora não ser o japonês, achei o texto bem fácil de ler.

A autora se chama Agnes Chan, ela nasceu em Hong Kong em 1955, virou cantora ainda na adolescência e seguiu carreira no Japão. No livro, ela conta alguns episódios de sua vida e as lições que aprendeu com outras pessoas. Ela começa descrevendo uma vila chinesa onde foi atuar em um filme sobre Marco Polo e expressa seu choque com a pobreza do lugar, no entanto, a alegria e a hospitalidade dos habitantes fazem com que ela deixe de ver apenas esse aspecto negativo. Em seguida, ela vai  até a Etiópia para participar de uma campanha de ajuda humanitária, entrevista o Papa, estuda no Canadá... O livro segue assim, a história de uma garota que começa a ver o mundo com mais cores além da cor-de-rosa e escreve suas reflexões.

As partes de que mais gostei foram aquelas mais pessoais, quando ela conta como passou a ser ignorada por suas amigas quando iniciou a sua carreira de cantora e ficava a maior parte do tempo estudando sozinha na hora dos intervalos. (Crianças conseguem ser muito cruéis quando querem). Uma coisa que chamou a minha atenção foi o fato de ela estudar em escolas de elite em Hong Kong, onde estudavam filhos de diplomatas e estrangeiros, isso parece ter sido uma prática muito comum nos anos 70,  pais faziam grandes sacrifícios pela educação dos filhos. O irmão de Alex Law, no filme que comentei aqui, também estudava em um colégio assim, e o pai dele tinha uma pequena sapataria de bairro. Não sei se essa prática ainda é comum por lá.

Também gostei do trecho em que a Agnes descreve o nascimento do primeiro filho, suas dúvidas, inseguranças e, algo que nunca ouvi ninguém dizer antes, que quando recebeu o bebê logo após o parto, ainda sujo de sangue, teve vontade de lambê-lo até deixá-lo limpo. Algo bem animal, instintivo. Sempre tive vontade de perguntar para uma mãe se não sentiu vontade de fazer algo parecido, mas tenho medo de ser mal-intrepretada. (A minha mãe fez cesarianas, então, não é a mesma coisa). Fiquei pensando se é assim mesmo, ainda tenho minhas reservas em relação à maternidade, mas quando tenho "vislumbres" dela por meio de relatos de outras pessoas, sei que é uma experiência única.

Agnes Chan teve uma vida bastante interessante, virou cantora cedo, atuou e, quando teve vontade, foi estudar psicologia infantil no Canadá, voltou para o Japão, casou, teve três filhos, conseguiu conciliar carreira com família, cantou, atuou, escreveu livros, fez doutorado nos EUA e ainda virou embaixadora da Unicef. Não é pouco para uma mulher em uma sociedade machista como a japonesa nos anos 70/80.


Para quem tiver curiosidade, aqui está uma canção interpretada por Agnes Chan no começo da carreira (vozinha e estilo de menina bem comportada):


29.9.10

Escondidinho de carne com couve-flor


Uma daquelas receitas inventadas em um momento de inspiração e com um resultado muito bom, o mérito é todo da Verena. Eu fiz várias alteraçõezinhas: temperei a carne com um pouco de curry, não usei molho barbecue, nem tomate. Adicionei um resto de creme de leite ao purê de couve-flor, não usei o bacon e polvilhei só um pouco de parmesão. Também não coloquei a carne entre camadas de purê, espalhei -a no refratário e cobri com todo o purê.

Variações possíveis: reforgar a carne com vários outros temperos e ingredientes e fazer um purê de couve-flor usando uma base de molho branco, ou só misturando um pouco de creme de leite e um pingo de leite, ou usar requeijão ou cream cheese, etc.

Como a Verena, eu preferi apenas desmanchar a couve-flor cozida deixando o purê mais "pedaçudo", mas você pode bater tudo no processador para ficar mais homogêneo se quiser.




Escondidinho de carne moída com purê de couve-flor

(Publico como está no blog da Verena, minhas alterações estão no comentário acima)

Purê de couve-flor

Cozinhe metade de uma couve-flor grande (ou uma média) no vapor até ficar macia mas não molenga.  Retire da vaporeira (ou da água se cozinhar por imersão) e coloque numa tigela. Com as pás da batedeira faça um purê, ou use espremedor de batatas, ou pique na faca mesmo.

Coloque o purê numa panela, leve ao fogo médio/baixo, junte um pouco de manteiga (uma colher de sopa cheia) e sal. Acrescente um pouco de leite e misture para que fique homogêneo.  Caso goste, pode acrescentar pimenta do reino.  

À parte doure duas colheres (de sopa) de bacon picado com um pouco de azeite. Deixe ficar crocante. Misture no purê. Reserve.

Carne moída: 

Numa panela doure uma cebola pequena picadinha e dois dentes de alho espremidos com um pouco de azeite. Coloque 250g de carne moída (patinho, acém, paleta…) e deixe dourar bem no fogo médio.  Quando a carne estiver bem bronzeada corrija o sal e acrescente um tomate cru picadinho (sem sementes).  Deixe pegar gosto e por último coloque cheiro verde picadinho. Eu gosto de usar uma colherinha (de café) de molho barbecue para dar um gostinho, mas isso é gosto daqui de casa. 

Montagem do prato: unte um refratário com manteiga e depois farinha de rosca. Coloque uma camada de purê de couve-flor e a carne moída. Cubra com o restante do purê e por último coloque 1/4 xícara de queijo muçarela e 1/4 xícara de queijo gruyére. Ou o queijo que lhe agradar mais, lembre-se apenas que deve derreter fácil. Polvilhe orégano.
 
Leve para gratinar e sirva com salada verde e arroz.

27.9.10

Salada de trigo em grão com pimentão e cenoura


Receita da Ina Garten. É uma forma diferente de preparar uma salada de trigo em grão. Eu geralmente cozinho os grãos e misturo com o que estiver na geladeira: tomates, queijo branco, nozes, cenouras, etc., e tempero como uma salada normal, mas gostei muito desta versão. As cebolas refogadas, o pimentão vermelho, a cenoura e o vinagre balsâmico dão um toque adocicado muito agradável à salada. Sem falar que o efeito visual é muito bonito.



Salada de trigo em grão com pimentão e cenoura

1 x de trigo em grão
sal e pimenta do reino a gosto
1 cebola roxa picada (usei a cebola branca mesmo)
6 c sopa de azeite de boa qualidade
2 c sopa de vinagre balsâmico
3 cebolinhas picadas 
1/2 pimentão vermelho picado (eu apenas fatiei)
1 cenoura ralada

Deixe o trigo de molho de véspera e cozinhe até que os grãos fiquem macios (siga as instruções da embalagem). Escorra e reserve.

Refogue a cebola em 2 c sopa de azeite até que fique transparente, cerca de 5 min. Desligue o fogo e adicione as 4 c sopa de azeite restantes e o vinagre balsâmico.

Misture o trigo, a cebola refogada, a cebolinha, o pimentão, a cenoura e tempere com sal e pimenta do reino a gosto. Deixe a salada descansar por cerca de 30 min para que o trigo absorva os temperos. Sirva à temperatura ambiente.


24.9.10

Pollo borracho (revisited)


Uma de minhas receitas de frango preferidas. Frango bêbado, do blog da Val. Desta vez, usei 1/2 x de conhaque e completei o resto com água, pois a tequila, ingrediente original, está pela hora da morte e nem todo mundo tem uma garrafa dando sopa por aí. Ficou igualmente bom.



23.9.10

Partidas, encontros e desencontros


Muita gente falou muito bem do filme japonês A Partida e finalmente consegui assistir à gravação com o O.

Falar o quê? O filme é muito bom, levou o Oscar de melhor filme estrangeiro e mereceu. Ele conta a história de um homem que volta para sua cidade natal no interior do Japão e começa a trabalhar para uma empresa que realiza um tipo de preparação dos cadávares antes da cremação. É um ritual muito bonito que eu desconhecia.

Filme sensível, bom de se ver.



O curioso caso de Benjamin Button também já passou na tv várias vezes, mas só agora eu assisti. A história de alguém que "envelhece ao contrário". Também ganhador de vários prêmios. Uma novidade foi saber que a história é baseada em um conto do Scott Fitzgerald, isso eu ignorava completamente.

Bom para uma tarde preguiçosa, o final começa a se alongar um pouco. Fiquei com a sensação de ser meio no estilo de Forrest Gump ou O homem bicentenário. História longa, morte de pessoas queridas, encontros e desencontros do par romântico, lições de vida, etc. Velha fórmula do bolo infalível.


22.9.10

Clafoutis de peras e mel


Estou virando a "louca do mel", tenho utilizado muito este ingrediente nos últimos tempos. 

Clafoutis é uma sobremesa que consiste basicamente  em uma porção de alguma fruta à qual se adiciona uma massa mais líquida feita com farinha, leite e ovos. É outra daquelas sobremesas indecisas, fica entre um bolo e um pudim. O ideal é comer o clafoutis ainda quente/morno, pois se ele esfriar ou ficar na geladeira, a massa endurece e já não é mais tão interessante.

Outra receita de minha atual paixão, a Canadian Living, , achei leve, com sabor agradável. Minhas peras é que não colaboraram muito, de sete, quatro estavam estragadas, com interior duro e escurecido. Acabei completando a quantidade com uma maçã. A receita original pede "maple syrup",  mas substitui por mel e achei que ficou ótimo, ele deu um perfume e um sabor especiais à massa.



Clafoutis de peras e mel

4 peras firmes (mas não duras)
2 c sopa de suco de limão
2/3 x de farinha
1/2 x de açúcar
1 1/2 x de leite
4 ovos
3 c sopa de mel
1 c chá de essência de baunilha
2 c sopa de manteiga c/ sal (ou sem sal + uma pitada de sal) em cubinhos
1 c chá de açúcar de confeiteiro (não usei)

Descasque e retire as sementes das peras. Corte em fatias e misture com o suco de limão. Distribua em um refratário com capacidade para cerca de 2 litros e reserve.

Em uma tigela, misture o açúcar com a farinha. Bata o leite, ovos, mel e baunilha em outro recipiente e depois adicione à mistura de farinha. Mexa até que fique bem homogêneo. (Demorou um pouco para que as gruminhos de farinha se desfizessem e pensei em usar o liquidificador em certo momento, talvez faça isso na próxima vez). Derrame a mistura sobre as peras, distribua os pedaços de manteiga por cima e leve para assar à 190C, até que as peras fiquem macias e o creme cresça e doure, cerca de 45 min.

Para finalizar, polvilhe a açúcar de confeiteiro e use a função  "broiler" do forno para dar uma caramelizada na superfície do clafoutis. (Não fiz isso porque o broiler do meu forno é absolutamente inútil, acho que um maçarico de cozinha faria um serviço mais decente.

Deixe esfriar por cerca de 15 min antes de servir. É normal que o clafoutis murche depois de retirado do forno.

13.9.10

Cenouras assadas com mel


Mesmo princípio do preparo da batata-doce (abóbora também é outra opção): lavar algumas cenouras, (descascar se quiser), cortar no sentido do comprimento, colocar em um refrátario, adicionar um fio de óleo ou azeite, uma pitada de sal, pimenta do reino, mexer para distribuir os temperos e assar até que  as cenouras fiquem macias. A Ana coloca um pouco de mel um pouco antes de terminar de assar, eu já coloco depois de retirar do forno. Não sei  se faz  diferença, mas colocando o mel no final, ainda é possível retirar um pouco das cenouras para quem não gosta de sabores adocicados (o que acho um pecado!).

11.9.10

conserva de rabanetes


Algo que minha mãe faz desde que eu me conheço por gente, sem receita, sem medidas. As únicas coisas que modifiquei nos últimos tempos foram a espessura das fatias e a forma de servir. Passei a fatiar os rabanetes no fatiador de legumes (como é o nome daquilo?) para ter fatias bem finas e, na hora de servir, eu retiro da conserva e espremo bem com as mãos para retirar o líquido, polvilho gergelim e pronto. 

O preparo não tem segredo, limpo e lavo os rabanetes, fatio e coloco em um tuppeware com vinagre, açúcar e uma pitada de sal. Geralmente, a mistura chega até a metade ou um terço da quantidade de rabanetes do recipiente, mas o importante é que o sabor esteja de acordo com o seu paladar, eu gosto de algo bem agridoce. De um dia para outro é melhor, mas costumo deixar só algumas horas na geladeira. Há quem não goste do aroma da conserva (que é meio forte, diga-se de passagem), mas é só deixar bem fechado e abrir o tuppeware na privacidade da cozinha.

8.9.10

Crumble de maçãs e aveia


Gosto muito de crumbles, não há nada mais simples de preparar, e como também adoro aveia, dá para imaginar o quanto gostei desta receita, não é mesmo? Ficou muito boa, na verdade a receita é para um crumble de peras com um pouquinho de maçãs, mas fiz só com as maçãs. Acho que dá para variar infinitamente as frutas, usar maçãs, peras, bananas, pêssegos, etc. Fiz metade e rendeu bem.




Crumble de maçãs

8 x de maçãs descascadas, sem sementes, em cubos pequenos (na receita original, a proporção era de 6 x de pera + 2 x de maçãs)
2 c sopa de farinha
2 c sopa de açúcar
2 c sopa de suco de limão
1/4 c chá de canela em pó

Misture todos os ingredientes, coloque em refratário grande, cubra com a farofa e asse à 180C até que as frutas fiquem macias e a cobertura doure, cerca de 1 hora.

Para a farofa
1 x de aveia em flocos
1/2 x de açúcar
1/3 x de farinha
1 pitada de noz moscada
1/3 x de manteiga derretida

Misture os ingredientes secos, adicione a manteiga e mexa até que fique com a consistência de uma farofa ligeiramente úmida.

6.9.10

Das guerras e dos povos


Gosto de livros de história, apesar de eles reforçam aquela sensação de que o ser humano é uma criatura que destrói, transforma e consome tudo o que estiver ao seu alcance e depois se entredevora. Enfim, uma aberração.

Li uma resenha de The Arabs de Eugene Rogan na The economist do começo do ano e fiquei com vontade de lê-lo. É um livro muito bom para ter uma ideia da configuração daquilo que chamamos de "mundo árabe".  Ele começa com a dominação otomana, segue por todo o período em que a região é  dividida em "protetorados" da França e da Inglaterra, narra as lutas pela independência, a criação de Israel e chega aos tempos atuais, quando vemos os primeiros indícios de que o rancor contra a opressão do ocidente começa a se transformar no confronto entre o Islã e a "depravação" ocidental.

The fate of Africa, de Martin Meredith, fornece um panorama da história do continente africano: as lutas contra o colonizador europeu, as inúmeras guerras civis entre facções e etnias financiadas pelos americanos ou russos no cenário da guerra fria, as várias guerras pelo poder e pelo controle dos recursos minerais., os conflitos raciais, tribais, e toda a barbaridade cometida em nome disso. Quem lê diz: "Mas esse continente nunca irá para frente!". De qualquer maneira, acho que todo o dinheiro que a China e países como o Brasil estão injetando lá dentro pode trazer mais infraestrutura e ajudar a melhorar a vida da população, mesmo que a maior parte ainda fique na mão de algumas poucas pessoas.

The ethnic cleansing of Palestine, de Ilan Pappe, é uma acusação contra os abusos que teriam sido cometidos por Israel no período da guerra pela independência em 1948. O autor mostra como a expulsão dos palestinos daquilo que seria o território de Israel teria sido um ato premeditado e não uma circunstância da guerra. Para "expurgar" o país da presença palestina, vilas inteiras  teriam sido destruídas e muitas pessoas mortas pelo exército israelense. Para corrigir uma injustiça cometida contra os hebreus  em um passado longínquo, uma outra teria sido perpetrada. Segundo o autor, a solução do conflito entre israelendes e palestinos só seria possível após o reconhecimento dos erros mútuos. 

Os dois primeiros livros são enormes e não dá para digerir tudo de uma vez, o último se concentra no período da criação do estado de Israel, em cada um deles há um desfile de atrocidades, lutas e injustiças. Leituras edificantes? Não sei se poderia classificá-las dessa forma, são mais socos no estômago. Entretanto, não podemos simplesmente ignorar acontecimentos negativos. Depois de ler coisas assim, eu sempre me refugio na arte, - literatura, música, pintura, etc. -, uma outra obra humana, para mim, a única coisa  capaz de nos redimir.